Mercado brasileiro de carros eletrificados de segunda mão está aquecido
No primeiro semestre, as vendas de veículos 100% elétricos e híbridos cresceram 94% em comparação ao mesmo período do ano passado

A evolução nas vendas dos automóveis eletrificados no Brasil vem provocando um efeito colateral positivo no segmento: a procura por modelos híbridos e elétricos também cresce exponencialmente no mercado de seminovos e usados.
Muitos compradores da primeira “fornada” de veículos eletrificados que chegaram ao País já iniciaram o movimento de troca. Com isso, a oferta de carros de segunda mão com essa tecnologia está aumentando nas lojas e o interesse surpreende até mesmo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores dos Veículos Automotores (Fenauto).
“É preciso ter cautela quando se olha esse mercado. Dos 8,3 milhões de veículos usados e seminovos comercializados no primeiro semestre, 55.595 são eletrificados, ou seja, 0,67% do volume total”, afirma Enilson Sales, presidente da Fenauto. “No entanto, esse número é 94% superior em comparação ao mesmo período de 2024.”
O desempenho mensal se mostra igualmente favorável. Em junho, foram negociados 11.229 eletrificados, número 3,4% superior em relação a maio. A participação de automóveis de passeio é de 96%, com larga vantagem sobre comerciais leves e comerciais pesados.
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Quatro categorias de eletrificados usados
O relatório da Fenauto aponta que a balança de vendas dos eletrificados usados pende mais para os híbridos, com 42.605 unidades, enquanto 12.990 elétricos puros foram comercializados nos primeiros seis meses. Toyota Corolla e BYD Dolphin são os campeões de cada segmento.
Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o modelo da marca japonesa ano 2020 pode ser encontrado nas lojas de São Paulo por R$ 125.300 (cerca de 38% mais barato que um zero-km). Já o Dolphin 2024 custa 126 mil (16% menos que o novo).
De acordo com a entidade, no ano passado, as vendas de janeiro a junho chegaram a 28.640 unidades, ao passo que a curva de veículos zero-quilômetro subiu 7% no geral. “É uma quebra de paradigma, porque a cada mês mais usuários querem saber se vale a pena investir em um eletrificado”, destaca.
A Fenauto classifica os veículos de segunda mão em quatro categorias. Os seminovos são aqueles com até três anos de uso e ocupam a maior fatia das vendas, com 84,5%. Os usados jovens abrangem os de quatro a oito anos; os usados maduros de 9 a 12 anos e os velhinhos correspondem aos carros acima de 13 anos.
Para o executivo, a eletrificação ainda segue como novidade no mercado automotivo e a base de carros dotada com essa tecnologia não está totalmente construída. “Esperamos que a tendência de alta continue até que a frota de eletrificados fique mais madura”, diz.

Explosão nas vendas de veículos eletrificados usados
Sales destaca que as lojas estão diretamente atreladas ao processo de explosão nas vendas de veículos eletrificados usados. Afinal, se alguma dúvida continua existindo para quem deseja adquirir um zero-quilômetro, imagine na hora de comprar um modelo passado adiante por outra motorista.
“A história do motor a combustão no Brasil vem desde o início dos anos 1900, portanto, o mercado está muito enraizado com esse conceito de propulsão. Dessa forma, é comum o vendedor apresentar pouca familiaridade com a tecnologia híbrida ou elétrica, sem conseguir transmitir profundidade nas explicações ao cliente”, salienta.
Sales conta que uma das principais questões levantadas pelo consumidor leigo é se o automóvel 100% elétrico vai substituir definitivamente o equipado com motor a combustão. “Os profissionais sabem que a resposta é não. Os eletrificados – tanto híbridos como elétricos – vieram para ser mais uma alternativa.”
“Felizmente, tabus como manutenção, vida útil da bateria, infraestrutura de recarga e se o veículo consegue percorrer longas distâncias já foram quebrados”, revela. “Tudo isso vem ajudando a consolidar uma opinião a favor da eletrificação.”
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Formador de opinião
A projeção da Fenauto para as vendas de eletrificados usados no segundo semestre são otimistas, devendo alcançar 60 mil carros. A soma do ano superaria, então, 115 unidades, contra 70.025 do ano passado. Atualmente, a frota circulante de automóveis de segunda mão no Brasil é de 75 a 80 milhões de veículos.
“Dos veículos novos vendidos no País, 52% são financiados. Entre os usados, esse número é de 26,2%. Por isso é tão importante que o governo tome medidas para facilitar a linha de crédito ao consumidor também para a aquisição do carro”, acredita.
Segundo Milad Kalume Neto, diretor executivo da consultoria automotiva K. Lume, o número crescente de ofertas de modelos eletrificados zero-quilômetro cria uma onda natural de opções de seminovos no mercado, com preços mais baixos do que antes.
“O primeiro dono acaba assumindo o papel de formador de opinião do segundo comprador, mostrando a ele que a bateria não dá problema, o carro eletrificado é confiável e seu uso no dia a dia é mais econômico, pois o custo do quilômetro rodado é inferior”, completa Kalume.
Negócios estão concentrados na região Sudeste
A exemplo do que acontece com os modelos eletrificados novos, o Sudeste é o maior responsável pelas vendas de automóveis híbridos e elétricos de segunda mão no Brasil.
Segundo o boletim da Fenauto, dos 55.595 carros negociados no primeiro semestre no mercado nacional, nada menos que 30.533 foram para as garagens de moradores dessa região.
Aparecem, em seguida, as regiões Sul (11.092 unidades), Nordeste (6.181), Centro-Oeste (6.020) e Norte (1.769). Os dados mensais espelham a mesma tendência, com superioridade absoluta do Sudeste. Para se ter ideia, em junho passado, 11.229 eletrificados usados foram vendidos no País — 6.266 dentro do Sudeste
“A predominância do Sudeste, em especial no Estado de São Paulo, se deve ao poderio econômico e a infraestrutura de recarga mais bem consolidada na região, que motivam a compra de zero quilômetro. Por consequência, esses carros abastecerão o mercado de usados mais tarde”, argumenta Enilson Sales.
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