De acordo com o estudo Espelho Logístico, da NextLog, quase 80% dos negócios do setor relatam ter investido em soluções de tecnologia no último ano e 62% acreditam que elas são a chave para o sucesso das operações. Além disso, a pesquisa destaca que a inovação é o caminho para o futuro da logística.
Leia também: Tecnologia é aliada da mobilidade segura e da gestão de frotas
Embora o setor esteja cada vez mais disposto ir nesta direção, é fundamental investir em ferramentas que simplificam as atividades do dia a dia, sempre tendo como foco os usuários: caminhoneiros, em sua maioria acima dos 50 anos de idade e, em geral, pouco acostumados com novas tecnologias.
Esse é o alerta de André Pimenta, CEO da Motz, transportadora digital que opera com caminhoneiros e embarcadores. O executivo tem 20 anos de experiência no setor nas áreas de supply chain e de negócios. Confira, nesta entrevista, sua visão sobre o tema.
Ao longo de 20 anos no meio logístico percebi, junto ao meu time, que não basta trabalhar nas tecnologias para facilitar a vida dos caminhoneiros – é fundamental apoiá-los para que aprendam a usar essas inovações.
Por isso, acredito que seja muito importante investir em materiais de capacitação e em orientação para esses profissionais, facilitando o uso de novas ferramentas disponíveis e aproveitando ao máximo o que elas oferecem.
No cenário atual do mercado, temos muitas opções de ferramentas disponíveis para ajudar nos processos e operações, como o WMS (para controle de estoque), CRM (voltado para gestão de relacionamento com o cliente) e o ERP (software de planejamento que permite a integração de sistemas).
Entretanto, o setor de logística pode se beneficiar de outras maneiras do mercado digital. As transportadoras digitais, por exemplo, investem em sistemas tecnológicos para permitir que os caminhoneiros escolham e marquem sua carga de transporte, façam o carregamento, concluam os serviços e confirmem a quitação de seu pagamento totalmente de forma remota.
Portanto, além de ferramentas que otimizam os processos, a tecnologia está presente no dia a dia de toda a cadeia logística. Apostando na tecnologia, temos redução de custos, otimização do planejamento e a coleta e análise das informações adequadas, que permitem que as empresas tomem decisões mais eficazes.
A logística 4.0 nos mostrou novos horizontes e desafios a serem trilhados, além de caminhos mais inovadores para as soluções dos problemas. Essa nova era também permite otimizações nos ramos sociais e ambientais da logística, conectando toda a cadeia de uma forma única e tecnológica.
Para a transição, o primeiro passo é fazê-los entender que as inovações tecnológicas vieram para agregar ao ramo. A digitalização não é apenas uma tendência, mas sim uma realidade que transforma o dia a dia dos motoristas e das transportadoras.
Entretanto, o setor logístico e todos os segmentos que atuam conectados a ele precisam assumir o compromisso de garantir que essa transição aconteça de forma inclusiva e gradual, proporcionando mais agilidade, eficiência e, acima de tudo, uma experiência mais simples e positiva para os parceiros de estrada, que movimentam, todos os dias, a economia do País.
A inteligência artificial tem sido muito usada na gestão de frotas e na análise dos motoristas de maneira geral. Nós temos aplicações que vão desde a questão da previsão ou otimização de rotas, por meio de algoritmos que olham para a redução da jornada do motorista, diminuição do consumo de combustível e para a assertividade nas entregas.
Como exemplo, mencionamos a gestão do próprio motorista. É possível fazer uma análise de performance do profissional de grandes transportadoras garantindo o foco em sua dirigibilidade, frenagem, consumo de combustível e até corrigindo possíveis ações que poderiam ter melhorias.
No caso dos motoristas que são agregados, ou seja, que buscam fretes pelo Brasil de forma mais autônoma, é possível monitorar o comportamento desse motorista ao longo do tempo pelo tipo de carga, pela região e por meio disso o algoritmo direciona as melhores opções para esse profissional, as mais assertivas.
Sim, com a manutenção preditiva é possível fazer a análise de itens da frota pela leitura dos dados do caminhão. Ela permite uma avaliação, saber que será necessário eventualmente uma manutenção, antecipando situações de risco. E o próprio monitoramento do comportamento desse motorista, a maneira como ele dirige, já dá sinais de desgaste em itens do caminhão e pode sugerir a necessidade de treinamento daquele profissional.
Mas para isso é muito importante que esteja aplicado conceitos da otimização e eficiência, além do output que você quer do seu algoritmo para que ele realmente te traga os resultados esperados.
Vejo dois pontos principais em relação a isso, começando com a importância do recurso trazer retorno para o negócio. Hoje temos muitas empresas que colocam dinheiro e investem nessas tecnologias, mas isso tem que ser orientado para o retorno e não por um simples modismo. Então acredito que é preciso cautela, é necessário avaliar se o que está sendo implementado pode ser mensurado e é preciso aprender com a IA antes de avançar com ela.
O segundo tema em relação aos cuidados com IA é que é importante ter uma governança forte, porque estamos falando de informações da companhia, informações internas e dados relacionados. Então aqui o ponto é garantir uma governança para que informações sensíveis não se tornem públicas.
Então, é preciso avaliar se as ferramentas utilizadas são públicas e se as informações estão em ambiente controlado, com uma arquitetura de desenho de sistemas muito bem desenhadas para garantir a gestão e a segurança dos dados. Com tantas informações de ciber segurança envolvidas nesse tema, é importante que a empresa tenha uma atenção especial em relação à governança.
Leia mais: Evento mostra soluções inovadoras para a gestão de frota