Por que as ferrovias são a transição energética no Brasil?

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Por que as ferrovias são a transição energética no Brasil?

Por: Isabel Lima . Há 10h

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Frota e Logistica

Por que as ferrovias são a transição energética no Brasil?

Apesar do alto investimento, ampliação do uso da malha ferroviária já existente no Brasil pode corresponder ao sequestro de carbono de uma floresta do tamanho da região metropolitana de São Paulo conforme direção de governança e sustentabilidade do ANTF

5 minutos, 48 segundos de leitura

29/04/2025

ferrovias são o caminho da transição energética
Apesar do alto investimento a longo prazo, ferrovias são essenciais na transição energética brasileira. Foto: littlewolf1989/ Adobe Stock

Desde o início da humanidade acontecem transições energéticas. Quando se fala em transporte, a tração animal foi pioneira e abriu espaço para o vapor, seguido de combustíveis fósseis. Atualmente, a principal fonte energética no horizonte é a elétrica, na mira de todos os setores de transporte. Porém, além de trocar a fonte de energia por uma questão econômica, a transição em curso atualmente visa reduzir a intensidade da crise climática.

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Em entrevista ao Mobilidade Estadão, Ellen Martins, diretora de governança e sustentabilidade da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), defende que as ferrovias são a própria transição energética no Brasil. 

Intensificada e até provocada pela queima de materiais fósseis não renováveis, o aumento das temperaturas médias da Terra e o agravamento de fenômenos climáticos tem ligação direta com o petróleo. A fonte de energia fóssil é essencial no sistema capitalista globalizado, principalmente nos transportes. 

Conforme levantamento da ANTF com dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o transporte rodoviário corresponde a 92,43% das emissões de dióxido de carbono (CO2) do setor de transporte de cargas no Brasil.

Por outro lado, o setor ferroviário emite apenas 1,41%. Além disso, o transporte de cargas por caminhões equivale a 67% da logística cargueira do País, enquanto as ferrovias, 21%, segundo ANTF com dados do Plano Nacional de Logística de Transportes (PNL 2035).

Isso torna a transição energética no setor de frotas e logísticas ainda mais caro e urgente. Portanto, um dos caminhos defendidos por Ellen Martins é o equilíbrio na matriz energética.

O que é o equilíbrio da matriz energética?

De acordo com um levantamento feito pela ANTF com o simulador de emissões do Observatório Nacional de Transporte de Logística (ONTL), o aumento de 1% da participação das ferrovias no transporte de cargas permite deixar de emitir 2 milhões de toneladas de gases de efeito estufa. “Equivalente a um sequestro anual de carbono por uma floresta de árvores nativas do tamanho da região metropolitana São Paulo”, exemplifica a diretora. 

Portanto, o equilíbrio da matriz energética do transporte de cargas seria utilizar de forma mais eficiente os diferentes modais possíveis. Dessa forma, é possível valorizar as vantagens de cada um, como, por exemplo, a flexibilidade do rodoviário e a alta capacidade do ferroviário.

“Por isso que curtas distâncias sempre vão ser o rodoviário, não vai ter essa coisa de que eu tirei a carga do outro, sempre todos estarão trabalhando, mas de uma forma equilibrada”, defende Ellen. 

Aliás, conforme a especialista, cada país tem seu equilíbrio, mas um local como o Brasil, com dimensões continentais, chegar aos 40% de participação ferroviária seria o ideal. 

Vantagens do setor ferroviário na transição energética

Além de emitir menos gases de efeito estufa, o setor ferroviário fica muito competitivo quando assunto é capacidade de transporte. Principalmente em longas distâncias, com mais de 400 quilômetros de trajeto. 

De acordo com a ANTF, uma locomotiva com 120 vagões tira 360 caminhões da estrada. Porém, Ellen ressalta que cada meio de transporte tem o seu espaço. Portanto, as grandes distâncias e volumes podem ocorrer por meio de trens, enquanto o transporte mais local, com carácter distribuidor, deve ser rodoviário. 

Como potencializar a transição energética com transporte ferroviário?

“Ela é a própria transição energética”, defende Ellen sobre o uso da estrutura ferroviária. A diretora explica que mesmo sem ampliação da malha ferroviária e apenas o crescimento do uso atual já é uma atitude de transição energética. 

Além disso, ela defende incentivos para o crescimento dos investimentos. Para ela, o simples uso mais eficiente da estrutura já existente atrairia investimentos relevantes. Entretanto, apesar do setor privado ser o principal investidor, a diretora acredita que o poder público precisa entrar na conta, seja com recursos quanto alterações de questões regulatórias. 

Até recentemente, o simples investimento em ferrovias não estava contemplado em nenhum programa de incentivos ligado a sustentabilidade. Porém, o Fundo Clima do Banco Nacional de Desenvolvimento to (BNDES) incluiu esses investimentos no texto. Antes dessa alteração, o documento previa apenas apoio a eletrificação das ferrovias, o que é um retrocesso, na opinião de Ellen. 

“Estudos internacionais já mostram que o custo para 1 km de construção de ferrovia elétrica são US$ 2 milhões”, explica a diretora. “A nossa malha ferroviária hoje são 31 mil km. É um retrocesso, refazer tudo para ser um modelo de eletrificação”, defende.

“Precisamos de créditos, financiamentos, independentemente de ser sustentável ou é a questão da sustentabilidade tá no foco, ou não”, conclui. Portanto, o crescimento e melhor uso da estrutura ferroviária já faria a diferença esperada para um País como o Brasil, que precisa reduzir suas emissões e mostrar sua intenção de ser ator principal na transição energética. 

Por isso, em maio, a Coalizão para a Descarbonização do Transporte vai publicar um documento com estudos inéditos sobre o tema. 

Investimentos privados

Atualmente, a maior parte dos recursos aplicados na malha ferroviária brasileira é de origem privada. Segundo Ellen, da década de 1990 até 2024, foram R$ 180 bilhões privados, enquanto o setor público aplicou R$ 26 bilhões. Além disso, ela ressalta que a estimativa é em mais R$ 54 bilhões até 2028 de investimentos privados. 

“Isso tudo vem das prorrogações de contratos antigos”, ela explica. ”As empresas passaram a ter obrigação de investir, o que não aconteceu lá na época da desestatização”, contextualiza Ellen. Portanto, a renegociação dos contratos permitiu incluir esses investimentos, com regras mais claras, permitindo maior estabilidade. Atualmente, 14 sistemas ferroviários, desestatizados ou privatizados, funcionam no Brasil. 

Entretanto, a diretora acredita que falta ainda mais uma alteração relevante na dinâmica dos investimentos. De acordo com Ellen, os recursos provenientes dessas prorrogações de contratos não ficam no setor. Ou seja, o setor público injeta esses valores em outras áreas, como saúde e educação. Dessa forma, o setor ferroviário fica refém de vontades políticas. 

Infelizmente, o investimento na malha ferroviária é de longo prazo e de alto custo, o que afasta destinação de emendas e recursos públicos por parte dos governos e legislativo. 

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