A importância das feiras de rua de São Paulo

Feira na Rua Sepetiba, no bairro da Vila Romana, acontece às terças-feiras e reúne feirantes de vários cantos da cidade. Foto: Getty Images

11/01/2023 - Tempo de leitura: 3 minutos, 19 segundos

Quando os primeiros raios de sol surgem pela manhã, diversos bairros de São Paulo são acordados pelos sons de caixas de madeira ou gritos anunciando que o preço da banana é mais barato naquela banca. As feiras de rua são uma tradição centenária da cidade de São Paulo e, além do valor afetivo, movimentam a economia, empregam pessoas e trazem novos significados a espaços públicos.

As feiras livres foram regulamentadas, em 1914, pelo então prefeito Washington Luís. De lá para cá, esses pontos se multiplicaram e se espalharam por todos os cantos da capital. Atualmente, São Paulo conta com 960 feiras em funcionamento e, de acordo com a Secretaria Municipal das Subprefeituras, elas geram 70 mil empregos diretos ou indiretos, como na produção dos alimentos.

O processo para que uma feira seja criada envolve a Secretaria Executiva de Abastecimento, a subprefeitura do distrito em que ela será criada e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “A CET faz um estudo do impacto no trânsito para analisar a possibilidade e permitir a autorização”, pontua Carlos Eduardo Batista Fernandes, secretário executivo de Segurança Alimentar e Nutricional e Abastecimento (Seabast).

Em geral, as feiras funcionam das 8h às 14h. Após o fechamento, uma equipe de varrição entra em cena para limpar a rua e realizar a separação de resíduos para encaminhar aos pátios de compostagem da cidade. “Claro que há vizinhos que não gostam dessa movimentação, mas a maioria das pessoas adora. A população tem muita sinergia com as feiras”, argumenta Fernandes.

Proximidade dos moradores

Da terça-feira ao domingo, André Freitas Esteves acorda de madrugada para dar início à sua jornada de trabalho. É uma rotina hereditária, que está em sua família há décadas. Antes dele, o avô enveredou pela profissão e depois seus pais. O homem de 30 anos, representante da terceira geração de feirantes, afirma que vende, em média, 25 caixas de ovos por semana.

Esteves acredita que as feiras apresentam um diferencial prático em relação aos mercados tradicionais: a proximidade do público. “Sempre digo que aqui nós criamos uma amizade e um carinho pelos clientes, não é apenas pela venda em si. Na feira, a gente não é só vendedor, muitas vezes somos psicóloga e um ombro amigo”, comenta. Apesar disso, ele sinaliza que nem tudo são flores.

“Existem pessoas boas, que fazem seu dia melhor, e existem aquelas que só aparecem para incomodar quem está trabalhando”, lamenta o feirante, que divide seus dias entre feiras que acontecem na Lapa, no Butantã, em Pinheiros e no centro. “Tenho uma relação muito boa com os moradores. Sempre tentamos resolver qualquer problema na base da conversa, apesar de acontecerem desavenças”, finaliza.

Ocupação de espaços públicos

Diante de um cenário urbano onde bicicletas de entrega dominam a paisagem, as feiras de rua são quase um símbolo de comunidade na vizinhança em tempos de redes sociais e distanciamento físico. “As pessoas não conhecem o seu vizinho de apartamento. As feiras servem como ponto de encontro, um local de convívio. É como uma praça pública”, defende Carlos Eduardo Batista Fernandes, secretário executivo de Segurança Alimentar e Nutricional e Abastecimento (Seabast).

André Freitas Esteves afirma vender cerca de 9 mil ovos por semana nas feiras que participa nos bairros da Lapa, Butantã, Pinheiros e centro. Foto: Breno Damascena

Tanto é que ele garante que algumas melhorias já estão sendo pensadas para tornar esses locais mais agradáveis para os feirantes e moradores do bairro. “Estamos incluindo banheiros aos poucos, modernizando os equipamentos para acelerar o tempo de montagem e aperfeiçoando o processo de compostagem”, promete. “Apesar dos aplicativos e de todas as transformações no comércio da cidade, as feiras continuam sendo imbatíveis no preço e na qualidade”, comenta.