Eletromobilidade representa uma alavanca para o crescimento do País
O peso da complexidade gerada pela eletromobilidade estimula o desenho de novas políticas públicas integradas
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30/03/2022
Muito se fala e se observa da eletromobilidade tomando as ruas, mas, se olharmos com mais cuidado, verificamos que sua natureza transversal consiste em uma alavanca para o crescimento da economia e a geração de oportunidades de emprego e renda.
Em geral, tratada com o olhar para o setor elétrico, em razão do papel indutor das distribuidoras de energia em suas áreas de concessão, a eletromobilidade traz consigo a necessária interoperabilidade das estações e recarga (veja a Resolução Normativa Aneel n° 1.000/2021) para que as informações sejam compreendidas pelos sistemas de gestão e que, de largada, proporcionará ao Mercosul que aposte em trocas comerciais terrestres com logística limpa entre Brasil, Uruguai e Argentina, conectando corredores elétricos internacionais existentes.
Além disso, a segurança energética deve ser garantida, sempre, mesmo com a maior complexidade causada pela entrada de novas cargas por novos players, que terão de se compatibilizar com demandas de carga inexistentes até então e procurar ganhos de eficiência energética.
Elétrico e ambiental
Já aqui encontramos a interface do setor elétrico com o setor ambiental, na medida em que as metas de eficiência energética, como economia de energia e redução de demanda na ponta, passam a conversar, diretamente, com a redução nas emissões de gases de efeito estufa, apontando para as metas do Acordo de Paris, no viés da descarbonização.
Ainda no setor ambiental, o lastro da participação de nossas fontes renováveis na matriz energética sugere às empresas com políticas comprometidas com práticas de ESG – sigla, em inglês, para meio ambiente, social e governança – que possam, em breve, escolher suas fontes e ainda aprimorar seus processos pela eletromobilidade em suas frotas e logística direta ou indireta. Ainda nesse setor, abrem-se possibilidades para desenvolvimento de métodos e normativos de reciclagem, second life e descarte de baterias, incluindo uma nova gama de minerais estratégicos que será demandada para o setor de mineração, que também terá de definir novos procedimentos desde a extração até a disposição dos rejeitos.
Caminhos que se cruzam
No setor de óleo e gás, despontam o etanol e o biodiesel para os veículos híbridos, promissores de desenvolvimentos tecnológicos disruptivos e formação de um mercado não concorrente, combustíveis que podem ser usados para complementar com os veículos puramente elétricos, interagindo de forma mais sustentável ambientalmente com os setores de transporte e logística terrestres.
No campo das rodovias e cidades é que se observa a variedade ‘elétrica’ para transporte de cargas/pessoas, público/privado, logística interestadual/last mile, de veículos superleves/leves/pesados, com estações e recarga lenta/rápida/ultrarrápida.
No setor das águas, a eletromobilidade adequa-se tanto em hidrovias como em áreas portuárias, e, no setor aéreo, de drones a carros voadores e/ou autônomos, em que já se observam rupturas tecnológicas e de possíveis reduções de custo.
Todos os setores aqui apontados ainda prescindem da transversalidade do setor de comunicação, que, com a chegada da internet 5G, viabilizará a interação entre usuário, veículo, rodovia, estação de recarga, outros veículos e outros usuários, além, é claro, do setor de ciência, tecnologia e inovação.
O peso da complexidade gerada pela eletromobilidade compensa e estimula o desenho de novas políticas públicas integradas, conectando os diversos setores, e regulamentando, de forma compartilhada, os esforços entre as diversas agências, como Aneel, ANM, ANP, ANA, Antaq, Anac, ANTT e Anatel. É uma época de investir em sinais regulatórios positivos e estimulantes para uma nova jornada de uma moderna indústria que pode vir a aflorar no Brasil.
Esse conjunto, se adequadamente ordenado, terá a eletromobilidade como alavanca para um desenvolvimento econômico robusto, limpo, descarbonizado e dotado de uma cultura de inovação aberta em todas as interfaces setoriais possíveis.
* O conteúdo deste artigo reflete opinião pessoal, e não institucional.
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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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