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Biocombustíveis no transporte de cargas: é possível um Brasil sobre rodas limpas

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Inovação

Biocombustíveis no transporte de cargas: é possível um Brasil sobre rodas limpas

É preciso estimular, com incentivos econômicos e financeiros adequados, planos de investimento que fortaleçam a competitividade dos biocombustíveis de segunda geração

3 minutos, 33 segundos de leitura

02/07/2024

Brasil é o segundo fabricante mundial de biocombustíveis de acordo com a Agência Internacional de Energia. Foto: Adobe Stock

Não é exagero dizer que parte importante da economia brasileira gira sobre as rodas de caminhões. Em torno de 70% do transporte de cargas passa pelas rodovias, segundo dados do projeto Centro Clima, da COPPE/UFRJ. Cerca de 95% desta movimentação é feita com base no diesel mineral.

Saiba mais: Novo movimento discute alternativas para a descarbonização veicular

Fica fácil, portanto, entender como este modal sozinho se tornou responsável por mais de 7% das emissões de gás carbônico segundo estudo da LCA Consultores, e porque é fundamental discutirmos políticas para tornar o transporte rodoviário de cargas mais sustentável para alcançarmos a neutralidade na emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Dessa forma, no médio prazo o cenário não deve se alterar substancialmente. Uma publicação de 2023 da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério das Minas e Energia, prevê que, até 2032, 64% do transporte de cargas seja feito pelo modal rodoviário, uma proporção menor que a atual, mas com aumento do total transportado.

Biodiesel na mistura

Assim, a tendência é que cresça também a participação dos caminhões nas emissões de GEE, o que só torna mais urgente discutir alternativas.

Em contrapartida, não havendo perspectiva de substituição do transporte de cargas rodoviário por outro modal menos carbono intensivo, como o ferroviário ou o aquaviário, deve-se então discutir o combustível que movimenta os caminhões.

Desde 2005 o governo federal adota uma política de misturar biodiesel ao óleo diesel. E, desde março deste ano, por determinação do Conselho Nacional de Política Energética, o combustível vendido nas bombas tem 14% de biodiesel.

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou, porém, que 60% das empresas de transporte relatavam, em 2021, problemas relacionados à mistura, que, na época, era de 13%.

Dentre os danos estavam a maior constância na troca de filtros de combustível e o aumento no consumo, resultados desfavoráveis de uma medida que tinha, como justificativa, mitigar justamente os impactos ambientais negativos.

Dessa forma, é preciso um acompanhamento minucioso, pois o que se ganha numa ponta pode estar sendo perdido na outra.

Novas alternativas

A eletrificação é uma das primeiras respostas quando se fala na descarbonização do transporte. Mas, por enquanto, ela tem sido mais usada em veículos de passeio. No Brasil, algumas empresas até estão adotando caminhões menores, elétricos ou híbridos, para entregas urbanas como maneira de diminuir suas emissões.

Porém, um caminhão com carga pesada precisaria de uma bateria muito grande para funcionar, além do desafio da infraestrutura de recarga elétrica, ainda incipiente. Não à toa, 99,5% dos veículos pesados licenciados em 2023 eram movidos a diesel, segundo a Anfavea.

O nosso principal trunfo rumo ao transporte rodoviário limpo de cargas são os biocombustíveis. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o Brasil é o segundo fabricante mundial desse tipo de produto, que já responde por 22% da energia consumida em nossa matriz de transporte.

Em consonância com os objetivos de uma mobilidade mais limpa, temos, desde 2017, o RenovaBio, iniciativa que tem o objetivo de alavancar a produção, consumo e a inovação em biocombustíveis.

Protagonismo

O Brasil tem, assim, possibilidade de se tornar pioneiro na adoção em massa dos chamados biocombustíveis de segunda geração, obtidos a partir de materiais orgânicos não utilizados na alimentação, como palha, cascas de frutas e resíduos agroindustriais.

Dentre eles temos o HVO, diesel verde que pode ser misturado ao diesel fóssil, podendo até substituí-lo totalmente. E com a vantagem de não necessitar de adaptação dos motores.

É preciso, portanto, fomentar, com incentivos econômicos e financeiros adequados, planos de investimento que fortaleçam a competitividade dos biocombustíveis de segunda geração, e adotar políticas capazes de acelerar a capacidade de produção destes produtos.

Assim, poderemos conseguir sua ampla adoção pelo modal rodoviário de transporte de cargas. Uma economia se movimentando sobre as rodas sustentáveis de caminhões é possível.

Leia também: Levantamento revela como será o cenário do veículo eletrificado no Brasil em 2030

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão

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