Cidade na Holanda monitora qualidade do ar com sensor instalado em bicicletas da população
Além de ter o maior bicicletário do mundo, com vagas para mais de 20 mil bikes, Utrecht tem iniciativas voltadas a incluir o ciclismo como parte das políticas públicas

A região de Utrecht, na Holanda, desenvolveu uma estratégia inédita para monitorar a qualidade do ar: instalar sensores de poluição nas bicicletas da própria população. Conhecido como Snuffelfiets (em tradução livre, “bicicleta farejadora”), o projeto mobiliza ciclistas voluntários equipados com sensores de partículas finas acoplados às bikes.
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Enquanto pedalam por diferentes áreas da cidade, eles coletam dados em tempo real sobre a poluição atmosférica. Dessa forma, geram um mapeamento detalhado da qualidade do ar em diversas rotas e horários. A iniciativa se tornou uma referência internacional de ciência cidadã , modelo em que a população participa ativamente da coleta de informações para subsidiar políticas públicas.
Ao todo, 500 kits sensores foram distribuídos aos moradores da província. Portanto, a iniciativa registra o nível de partículas no ar em locais e horários que nem sempre são cobertos pelas estações fixas de monitoramento.
Como funciona a coleta de dados com bicicletas
Cada sensor de ar das bicicletas mede a concentração de partículas finas enquanto o ciclista percorre seu trajeto habitual. Os dados têm registro por GPS e transmitidos automaticamente para uma plataforma online, o Samen Meten Utrecht, que significa “Medir Juntos Utrecht”. Essa plataforma integra informações de diversas fontes, como medições fixas e móveis, permitindo que especialistas e moradores acompanhem os níveis de poluição em tempo real.
Os pesquisadores também atuam na calibração e no tratamento dos dados para garantir maior precisão. De acordo com artigo do periódico International Journal of Urban and Regional Research, um dos desafios do projeto foi justamente processar a grande quantidade de dados. Porém, a equipe conseguiu desenvolver metodologias para interpretar essas informações com confiabilidade.
Os resultados são utilizados por órgãos públicos e planejadores urbanos para identificar pontos críticos de poluição e pensar políticas de mobilidade e saúde pública. Um dos ganhos do monitoramento por bicicletas é permitir uma visão mais dinâmica da qualidade do ar em diferentes horários do dia e estações do ano.
Resultados do Snuffelfiets
As medições já mostraram, por exemplo, que a qualidade do ar tende a ser pior em vias com maior fluxo de veículos e próximo a cruzamentos movimentados. Em contrapartida, áreas próximas a parques e ciclovias afastadas do trânsito apresentaram menores índices de poluição.
Esses dados ajudam o poder público a planejar novas rotas cicloviárias, pensar em medidas de restrição de tráfego e orientar campanhas de conscientização. Além disso, o projeto mostrou ser uma ferramenta eficiente para alertar sobre a importância da mobilidade ativa em áreas urbanas.
O Snuffelfiets também contribui para a educação ambiental. Com o compartilhamento de forma aberta com a população, as informações aumentam a conscientização sobre o impacto da poluição do ar e estimulando mudanças no comportamento.
Outras iniciativas de ciência cidadã
O monitoramento por bicicletas é apenas uma das ações do programa Samen Meten Utrecht, que reúne diversos projetos de ciência cidadã na região. Entre eles estão iniciativas de medição de temperatura para identificar ilhas de calor, monitoramento de ruído urbano e acompanhamento da qualidade da água em córregos e canais. A ideia é envolver cada vez mais moradores na coleta de dados ambientais. Dessa forma, a cidade democratiza o acesso à informação e tornando a população parte ativa no desenvolvimento das políticas públicas.
Além do Snuffelfiets, o programa participa do projeto GLOBE, que mobiliza estudantes do ensino médio para medir partículas em suspensão no ar com sensores portáteis.
Bicicletas como parte da política pública
Utrecht já é conhecida mundialmente por integrar a bicicleta como meio de transporte prioritário. Em 2023, a cidade inaugurou o maior bicicletário do mundo, com capacidade para 22 mil vagas na estação central de trem. O espaço busca estimular ainda mais o uso da bicicleta no dia a dia da população, conectando esse modal aos demais transportes públicos.
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