Cientistas brasileiros criam sistema que recompensa motoristas por reduzir CO₂ nas cidades
Projeto realizado em Niterói (RJ) criou plataforma de monetização de dados, onde motoristas podem compartilhar informações em troca de recompensas financeiras

Um grupo de cientistas da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Inmetro, desenvolveu uma solução inédita no Brasil para reduzir CO₂ emitido no trânsito. Os pilares do projeto estão a promoção de uma mobilidade sustentável e valorizar o papel dos motoristas na construção de cidades mais limpas. Dessa forma, o MobiCrowd une tecnologia de ponta, análise de dados e bonificações financeiras para quem dirige de forma mais eficiente.
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A plataforma, testada inicialmente em Niterói (RJ), permite que motoristas compartilhem dados sobre consumo de combustível, estilo de direção e eficiência energética em troca de recompensas. Conforme os pesquisadores, o sistema garante a privacidade das informações, pois utiliza blockchain e criptografia avançada. Além disso, os usuários têm controle total sobre o que desejam divulgar.
Recompensa por reduzir CO₂
Para realizar os testes, a pesquisa utiliza veículos flex abastecidos com gasolina ou etanol. As informações geradas por esses trajetos alimentam modelos matemáticos que calculam as emissões de CO₂ e sugerem melhorias no modo de condução. Uma simulação, por exemplo, permite comparar o desempenho de um mesmo carro em diferentes proporções de combustível.
“Estamos criando um ecossistema em que o carro deixa de ser apenas um meio de transporte e passa a contribuir ativamente para cidades mais sustentáveis e motoristas mais conscientes”, explica Raphael Machado, coordenador do projeto.
Na prática, a bonificação pode chegar a até R$ 0,10 por litro de combustível economizado. Aliás, proposta é que, no futuro, qualquer veículo com entrada OBD-II, presente em 25 milhões de carros no Brasil, possa se conectar ao sistema.
Reduzir CO₂ como lógica de participação
Além de ganhos individuais, o projeto aposta na coletividade dos dados como ferramenta de planejamento urbano. “Quando dados de mobilidade passam a ser acessíveis ao cidadão, abrimos caminho para uma sociedade mais participativa, consciente e conectada com os desafios urbanos”, destaca Machado.
Os recursos financeiros virão de empresas interessadas na redução de suas pegadas de carbono ou na compra de dados gerados pelo sistema, como concessionárias, seguradoras e órgãos públicos. Durante a fase de testes, seis pesquisadores utilizaram seus próprios veículos para validar o modelo, enquanto outros dados foram obtidos com simulações.
“Estamos inaugurando uma nova lógica, em que o motorista deixa de ser apenas um consumidor de tecnologia e passa a ser um agente ativo da mobilidade inteligente”, afirma Wladmir Chapetta, pesquisador do Inmetro. “Com essa plataforma, ele é recompensado por dirigir melhor, economizar combustível e contribuir com o meio ambiente.”
Tecnologia nacional com visão de futuro

O MobiCrowd também resultou na criação do V2Lab, laboratório de tecnologias em comunicações veiculares com antena 5G própria e testes em tempo real. Portanto, o espaço serve como base para novos projetos, como o Descarbonize.AI, que envolve universidades federais, montadoras e o programa Mobilidade Verde (Mover), do governo federal.
Para Machado, o projeto marca um momento importante para a ciência nacional. “Transformar veículos em aliados do meio ambiente e da inteligência urbana é mais que tecnologia, é compromisso com o futuro das cidades.”
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