De acordo com um estudo do Departamento Nacional de Segurança Viária, órgão do governo dos Estados Unidos, em 2009, as motocicletas perderam estabilidade durante a frenagem em 43% dos acidentes com esse tipo de veículo. Outras pesquisas revelam que 47%, ou seja, quase metade das ocorrências evolvendo motos, são causados por frenagem inadequada.
Isso acontece porque operar os freios em uma motocicleta é bem mais complicado do que em um automóvel. Além de terem apenas duas rodas, a grande maioria das motos possui controles separados para os freios dianteiro e traseiro. O dianteiro é, geralmente, controlado por uma alavanca, no lado direito do guidão, e o traseiro, acionado por um pedal, no pé direito do condutor. Em uma frenagem de emergência, o motociclista deve decidir quanta força aplicar em cada controle.
“O que para mesmo a motocicleta é o freio dianteiro”, explica Alfredo Guedes Jr., engenheiro e supervisor de relações públicas da Honda Motos. Entretanto, existe um mito entre os motociclistas menos experientes de que usar o freio dianteiro faz a moto “capotar”, explica ele. Segundo o engenheiro, esse erro decorre do fato de que, nas aulas práticas das motoescolas, o aluno não aprende a usar corretamente o freio dianteiro. “Há casos em que o avaliador reprova o condutor no exame prático, caso ele use o freio dianteiro”, revela. De acordo com Guedes, uma frenagem correta aplica mais força no freio dianteiro e menos intensidade no traseiro para equilibrar a moto.
Para corrigir esse problema comum, os fabricantes criaram o sistema de freios combinado, popularmente conhecido pela sigla CBS (do inglês, combined brake system). “O CBS ajuda o iniciante a fazer uma frenagem mais equilibrada, pois, quando ele aciona apenas o pedal de freio traseiro, o sistema atua também sobre o disco dianteiro, contribuindo para a segurança do motociclista”, explica Guedes.
Com o objetivo de aumentar a segurança dos motociclistas e reduzir os acidentes com motos, desde 2019, todas as motos e scooters vendidas no Brasil são obrigadas, por lei, a ter sistemas de freio mais eficientes.
Para os modelos de até 300 cc, pode ser adotado o CBS ou o antitravamento (ABS, anti-lock braking system). Para motos com motores acima dessa capacidade, o ABS é obrigatório. Enquanto o sistema CBS combina a atuação dos freios dianteiro e traseiro, o ABS evita o travamento das rodas, em uma frenagem brusca, sobre um piso de baixa aderência, como asfalto molhado.
Além de funcionamento distinto, os sistemas servem a públicos diferentes, explica o engenheiro da Honda. “Optamos por instalar o CBS em motos menores justamente para corrigir as falhas de quem está começando; já nas motos maiores, conduzidas por motociclistas mais experientes, o ABS evita que a roda derrape durante a frenagem. Porém, o ABS é melhor, não tem como negar”, declara Guedes. Testes conduzidos pela Honda demonstraram que, em motos com ABS, no caso de frenagem apenas com a roda traseira, a distância até a parada pode ser maior do que sem o sistema.
Atualmente, mesmo motocicletas e scooters de entrada, com 150 cc, estão saindo de fábrica com o sistema ABS, mas apenas na dianteira. Segundo o engenheiro da Honda, é mais suscetível a causar perda de controle durante a frenagem.
Apenas 20% das motos vendidas no Brasil têm freio ABS
Fonte: Abraciclo
47% dos acidentes com motos são causados por frenagem inadequada
Fonte: German In-Depth Accident Study (Gidas)
CBS – “combina” a frenagem nas rodas dianteira e traseira. O sistema hidráulico ou mecânico distribui a frenagem para a roda dianteira, quando o motociclista pisa apenas no pedal de freio traseiro.
ABS – evita que as rodas travem em uma frenagem brusca. Há sensores que medem a velocidade das rodas e, ao detectar uma diferença grande entre a velocidade delas, alivia a pressão hidráulica nos freios, geralmente a disco, evitando uma derrapagem.