Se o celular é protagonista para a melhor experiência do usuário em diversos serviços, com a mobilidade não pode ser diferente – especialmente no transporte público – para que a inclusão dos diferentes públicos seja cada vez maior e mais rápida, não importam suas origens ou para onde vão.
Este também será um dos temas debatidos no painel Tecnologias para um Transporte Mais Inclusivo, do Summit Mobilidade, evento online e gratuito que será realizado pelo Estadão em 31 de maio.
“O papel da tecnologia é trazer, constantemente, novas soluções para que mais pessoas façam parte do coletivo, em prol de cidades mais inteligentes e sustentáveis”, reforça Niege Chaves, sócia-fundadora do Cittamobi, aplicativo de soluções tecnológicas para mobilidade e VP do Grupo MobiBrasil, de empresas de transporte público de passageiros com atuação no Recife, São Paulo e Sorocaba.
“Já temos muitos exemplos, como novas formas de pagamentos e integração entre modais, que diminuem o custo da passagem até fazer com que pessoas com deficiência possam desfrutar das cidades com mais independência e segurança”, analisa. “Ouvir o usuário é essencial para trazer infinitas possibilidades e ir sempre além.”
Em Sorocaba (SP), por exemplo, desde 2020, o usuário (inclusive o eventual) já se locomove apenas aproximando seu celular para a liberação da catraca, sem qualquer necessidade de dinheiro ou bilhete físico.
A solução desenvolvida pela Cittamobi – chamada de ABT, Account Based Ticketing, ou bilhetagem baseada em contas – é uma carteira digital que permite pagar a passagem de forma mais ágil, adquirir e controlar os créditos, além de reduzir custos operacionais. “E, principalmente, melhora na experiência de quem não possui conta em banco ou acesso a cartão de crédito e de débito, embora o pagamento também possa ser efetuado por eles”, acrescenta.
Já em Campinas, além do app Cittamobi convencional, a prefeitura incorporou, no ano passado, a solução Cittamobi Acessibilidade, cujos recursos – assistente de voz e alertas sonoros – apoiam a utilização do transporte público coletivo para pessoas com deficiência visual, seus deslocamentos sugerindo as melhores rotas (via ônibus ou caminhada).
A ferramenta reconhece mais de 400 comandos de voz, emite avisos sobre obstáculos no trajeto e recebe interações por áudio ou pela tela, além da consulta aos pontos de ônibus, aos horários e aos itinerários das linhas. “E está em constante evolução, dando direcionamentos cada vez mais específicos, tipo à frente/para trás, com base nos movimentos do usuário”, garante a desenvolvedora.
Tecnologias embarcadas para maior segurança, previsibilidade de horários, opções de melhores trajetos e pagamentos por aproximação já são comuns no dia a dia de milhões de brasileiros. “Porém, o futuro do transporte público é ser cada vez mais customizado e acessível”, analisa.
Niege explica que entender os dados e as dinâmicas dos usuários com base nas características individuais amplia, inclusive, a oferta para quem ainda não considera o transporte coletivo como alternativa de deslocamento. “Assim, passará a utilizá-lo, o que barateia as passagens para quem paga 100% da tarifa (não subsidiados por programas), contribui para a fluidez do trânsito ao tirar carros das ruas e melhora a qualidade do ar, entre outros benefícios.”
O futuro dessas tecnologias pode incluir assinaturas para mobilidade, de modo que o passageiro use a sua verba da forma que desejar: para utilizar no ônibus, no táxi ou no aluguel da bicicleta. Outra possibilidade são os bilhetes mensais e anuais (não necessariamente de plástico, mas no próprio smartphone), usados também de acordo com a necessidade, além de integrá-los a diferentes modais.
Ou, ainda, uma solução de mobilidade que possa descontar da carteira digital as tarifas de passagem em diferentes cidades de uma mesma região metropolitana (evitando a compra de novo bilhete, aquisição de outro cartão ou download de diferentes apps) ou até mesmo a criação de um cartão nacional para o deslocamento entre Estados, independentemente do trajeto escolhido.
Já comum em alguns países, políticas tarifárias por quilômetro, por horário (incentivando o uso fora do pico) ou por outra medida podem expandir essa conectividade. “Isso favorece muito quem não recebe vale-transporte ou não se encaixa na gratuidade ou na meia tarifa, além de promover um ambiente benéfico para todos e uma rede cada vez mais eficiente”, avalia Niege.
Porém, ela ressalta que essas comodidades não se tornarão parte do dia a dia com base apenas nos dados abertos ou novos softwares – especialmente em cidades menores, com um ou poucos operadores. “Elas não chegam ou não atingem capilaridade em todas as regiões se não vierem acompanhadas de investimentos em infraestrutura e políticas públicas de transporte.”
Nesses locais, as tarifas pesam ainda mais no bolso da população não subsidiada, que enfrenta longas esperas nos pontos dos ônibus, sujeita a horários imprevisíveis por causa das poucas linhas e veículos. Grande parte deles tem capacidade restrita, caso dos micro-ônibus, rodam lotados em pavimentações ruins e com apenas uma porta para entrada e saída. “São problemas que comprometem o deslocamento, a segurança, o conforto dos passageiros e, consequentemente, a confiabilidade no sistema público de transporte”, finaliza.
Saiba mais sobre sobre o Summit Mobilidade 2023