“Não adianta ter pressa com o carro elétrico”
Evandro Bastos, gerente de produto da Mercedes-Benz, diz que veículos movidos a bateria devem ser vistos com cautela.
5 minutos, 40 segundos de leitura
09/02/2022
Por: Mário Sérgio Venditti
Os automóveis elétricos crescem em ritmo acelerado, no mundo, mas não adianta ter pressa para oferecê-los em todos os países. Essa é a opinião de Evandro Bastos, gerente de produto da Mercedes-Benz do Brasil. “Precisamos respeitar as particularidades de cada mercado”, afirma. “Muitos países ainda não estão prontos para fazer a transição.”
Isso não significa, porém, que a fabricante alemã não esteja desenvolvendo novas tecnologias envolvendo automóveis elétricos. No começo do ano, ela apresentou o carro-conceito Vision EQXX, cuja autonomia é de incríveis 1.000 quilômetros com uma carga de bateria. Ao Mobilidade, Bastos falou sobre esse novo veículo e a visão da Mercedes acerca da eletromobilidade.
Mobilidade: Um dos maiores desafios das fabricantes é aumentar a autonomia dos veículos elétricos. Recentemente, a Mercedes-Benz apresentou o carro-conceito Vision EQXX, com capacidade para rodar 1.000 quilômetros com uma única carga na bateria. Como isso foi possível?
Evandro Bastos: O sonho dos engenheiros é sempre aumentar a autonomia e, a cada lançamento, um novo passo é dado. O Vision EQXX combina uma série de fatores que permite alcançar tamanha capacidade, com consumo de energia de menos de 10 kWh por 100 quilômetros rodados.
Vale ressaltar que essa autonomia não está ligada ao tamanho da bateria, porque a do Vision EQXX caberia em um modelo compacto. Bateria menor significa perda de peso, e o EQXX também emprega materiais mais leves, além da funcionalidade do design, que favorece a aerodinâmica. Enfim, a autonomia se deve ao conjunto da obra.
Essas soluções – que proporcionam autonomia de 1.000 quilômetros – serão implementadas nos carros da Mercedes, em breve?
Bastos: Sempre que a Mercedes-Benz lança um conceito é porque as tecnologias estão prontas, a inteligência já existe. A previsão é equipar nossos automóveis em 2024 ou 2025, mas, até lá, muita coisa poderá ser ampliada e melhorada. Afinal, a evolução de uma bateria com autonomia de 460 para 1.000 quilômetros aconteceu rapidamente, em menos de dois anos.
O Vision EQXX é um carro que expressa nossa visão de futuro e traz muitas ideias interessantes. Veja o caso do teto solar, que funciona como placas fotovoltaicas. Ele capta e armazena a energia solar, transferida para a central de infoentretenimento. Tal recurso poupa a bateria, permitindo que ela forneça energia para o carro percorrer distâncias maiores.
O que a Mercedes-Benz está preparando, agora, para aprimorar ainda mais os carros elétricos?
Bastos: Os engenheiros seguem trabalhando e descobrindo novidades. A evolução não vai parar com a bateria de 1.000 quilômetros, mas é difícil dizer qual será a próxima etapa dessa caminhada. Posso garantir que jamais haverá estagnação nesse segmento, que vem criando parcerias para o desenvolvimento de células de combustível, e com o surgimento de startups, com boas ideias para os carros elétricos.
O campo dos insumos também cresce. Essa movimentação comprova que haverá diferentes maneiras de produzir motores elétricos, e a expansão acontece por todos os lados, cenário apropriado para gerar bons negócios.
Há algo mais sendo feito na área da tecnologia?
Bastos: A principal preocupação dos veículos elétricos é acabar com a emissão de poluentes no meio ambiente. Mas não é só. No segmento de automóveis de luxo, os materiais utilizados na produção são importantes, pois devem ser mais leves e renováveis.
Modelos premium casam bem com a proposta de sustentabilidade. A Mercedes está substituindo, por exemplo, o couro de origem animal por raízes de cogumelo no acabamento interno.
Como a Mercedes avalia o desenvolvimento da eletromobilidade no Brasil?
Bastos: Os investimentos realizados até o momento merecem ser destacados. O Brasil está se espelhando em países mais adiantados na eletromobilidade, e isso é positivo. O avanço se deve, principalmente, à atuação de empresas privadas de energia e das startups que criam tecnologias inovadoras.
A infraestrutura de recarga e a reciclagem de bateria ainda precisam crescer muito, mas várias parcerias buscam isso. É claro que o Brasil está um passo atrás de países europeus como a Noruega, porque fatores econômicos e a nossa dimensão territorial exigem cautela na tomada de decisões. O usuário também precisa ganhar mais confiança e saber que não há necessidade de recarregar a bateria toda vez em que vai ao shopping.
A seu ver, ainda existe algum entrave para o veículo elétrico no País?
Bastos: As empresas com know-how nessa área estão investindo rapidamente, mas existe o lado do governo federal, que deveria definir uma visão para os próximos 10, 15 anos, e estabelecer uma política pública, a fim de incentivar a disseminação dos veículos elétricos por aqui.
O crescimento de 77% nas vendas de carros eletrificados, no Brasil, no ano passado, em relação a 2020, surpreende?
Bastos: Não chega a surpreender, porque é uma tendência em alta. A Mercedes-Benz vende apenas o EQC 400, no Brasil, mas o plano é lançar três modelos neste ano: EQA, EQB e EQS. Com isso, acreditamos na evolução exponencial da nossa participação no segmento.
A Mercedes estabeleceu uma data para parar de fabricar motores a combustão, no mundo?
Bastos:Não temos essa data, porque a empresa se baseia nas particularidades de cada mercado. Entendemos que nem todos os mercados serão 100% elétricos; portanto, o motor a combustão ainda é importante em vários países, como o Brasil. Muitas nações definiram que só venderão carros elétricos já em 2030, mas não dá para colocar todas no mesmo compasso da Noruega.
O Brasil está preparado para isso? É evidente que não. Dessa forma, a Mercedes-Benz será 100% elétrica nos mercados em que isso for possível. A partir de 2025, nossa meta é oferecer carros com opções de motor elétrico e híbrido. Em certos países, o híbrido conviverá com o elétrico, e, em outros, ele será a ponte para a transição da frota em totalmente elétrica.
O importante é que a tecnologia do propulsor elétrico seja tão prática quanto a do motor a combustão. E isso leva tempo, sem pressa. Estamos em uma maratona, e não em uma prova de 100 metros rasos.
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