Novos aplicativos entram em cena
Conheça alguns apps de delivery e transporte alternativos que buscam trazer melhorias a motoristas e usuários
Os aplicativos de entrega e transporte já fazem parte da mobilidade urbana de muitos países e também do Brasil. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, para o Instituto Fairwork, da Universidade de Oxford, publicada em maio deste ano, 46% dos paulistanos usam apps de entrega e transporte, frequentemente.
A pandemia e a necessidade de isolamento social impulsionaram ainda mais a economia de plataforma, fazendo com que o ato de pedir uma refeição ou solicitar uma corrida pelo celular tenha virado rotina para muitas pessoas.
Face mais tangível da economia de plataforma, os apps costumam enaltecer a autonomia dos moto e bike-entregadores e motoristas, que podem fazer seus próprios horários e “decidir” quanto querem ganhar. Porém, na prática, a teoria é outra.
“Eles não têm autonomia para definir o quanto ganham nem a possibilidade de escolher quais corridas podem aceitar ou negar”, afirma Rogério Nogueira, criador do AppJusto, em operação desde agosto de 2021.
Idealizado como um projeto de economia social, o AppJusto foi financiado por equity funding, ou seja, 939 pessoas investiram dinheiro e se tornaram sócias do aplicativo. O objetivo é criar um modelo de negócio que seja bom para todos, com taxas menores para os restaurantes e a possibilidade de os entregadores definirem os valores das entregas.
De acordo com Nogueira, os restaurantes pagam uma taxa fixa de 5%, bem inferior aos mais de 20% cobrados por outros apps. Já os entregadores podem criar “frotas” e definirem as taxas para uma determinada distância ou dia.
“Também não trabalhamos com cupons de desconto ou frete grátis. Isso não existe. Preferimos que todos lucrem com a operação”, explica ele. Outro diferencial é que o código do aplicativo é aberto e pode ser utilizado por outras empresas ou cooperativas que queiram criar seus próprios apps.
Atualmente, o AppJusto atua apenas em São Paulo (SP) e tem 1.150 restaurantes e cerca de 27.000 entregadores (entre bike e motoentregadores) cadastrados. De acordo com seu criador, são mais de 40.000 consumidores em sua base de clientes.
“Todos elogiam o aplicativo, mas dizem que o único problema é que toca pouco”, lamenta. Além de atrair restaurantes e entregadores com ganhos maiores e melhores condições de trabalho, Rogério acredita que a chave para o crescimento do app está no consumo consciente por parte dos usuários.
Melhores condições aos motoristas
Outros apps de transporte têm surgido para oferecer melhores serviços aos clientes e condições de trabalho mais dignas aos motoristas. Caso da empresa Ubiz Car. Criado em Parnaíba (PI), em setembro de 2018, o app surgiu da experiência ruim do seu próprio criador, Alécio Cavalcante, com apps. “Peguei um carro por aplicativo em São Paulo (SP) e esqueci meu celular. Não tinha uma central para entrar em contato nem com quem reclamar. Não consegui reavê-lo”, relembra.
O Ubiz Car tem como objetivo resgatar o bom atendimento e valorizar os motoristas. “Nossos carros são identificados, os motoristas passam por treinamentos presenciais e estão sempre uniformizados”, destaca Cavalcante.
A empresa também adota uma filosofia do “quilômetro saudável”, que leva em conta os custos de combustível e manutenção do veículo para calcular os valores das corridas. A taxa cobrada dos motoristas é, em média, 15%, e ainda existe um grupo VIP, de motoristas frequentes, que recebe benefícios da Ubiz Car.
Outro diferencial, segundo o co-CEO da empresa, é a valorização da cultura local. “Em Parnaíba, por exemplo, as pessoas não estavam acostumadas a pedir corrida no celular. Minha avó nem sabe instalar um app. Criamos uma central de atendimento física, na qual as pessoas podem chamar uma corrida pelo telefone até se habituarem”, exemplifica.
Por meio de operações próprias e franqueadas, a Ubiz Car já atua em 29 cidades, com 16 mil motoristas cadastrados e 400 mil usuários ativos. O plano é chegar a 250 cidades do interior do País em até cinco anos.
De Nova Serrana, cidade mineira com 120 mil habitantes, surgiu o app Me Busca, em 2018. “Nas cidades menores, os apps não se firmaram. As pessoas têm receio de entrar em um carro desconhecido ou, se conhecem o motorista, acabam combinando corridas por fora”, diz Marcelo Caires, idealizador do Me Busca.
Para driblar essa cultura, Caires criou um app que trouxesse benefícios para conquistar os motoristas. “Temos uma central de apoio ao motorista, com café, refeitório, sanitários e até lava- jato. Os motoristas frequentes também recebem vouchers para abastecer em postos com desconto”, explica. Segundo ele, os benefícios evitam as corridas por fora.
“Dessa forma, os motoristas têm rentabilidade com as corridas e o passageiro fica satisfeito por pagar um preço justo”, completa Caires. Segundo ele, as taxas cobradas dos motoristas, em Nova Serrana, podem chegar a, no máximo, 20% do valor da corrida.
Apesar de operar em cinco pequenas cidades de quatro Estados brasileiros, inclusive com viagens de moto, o Me Busca prepara-se para atuar também na capital paulista, como uma alternativa para os motoristas insatisfeitos. “Teremos um limite de repasse de 15% para o app, e vamos replicar o modelo de central do motorista, mas serão em vários pontos da cidade”, diz ele.
Serviço de entrega em números
– 1,5 milhão de entregadores e motoristas nas plataformas*
– 93% dos paulistanos pensam que os trabalhadores de plataformas merecem melhor remuneração e mais proteção**
– 7 em cada 10 paulistanos deixariam de usar aplicativos de entrega e transporte que não oferecem remuneração e condições de trabalho dignas a esses profissionais**
– 64% consideram que os trabalhadores de plataforma não recebem salário justo**
– 84% consideram injusto os bloqueios e cancelamentos de trabalhadores sem justificativa**
* Fonte: Ipea
** Fonte: Pesquisa do Instituto Locomotiva para o projeto Fairwork. Foram entrevistadas 1.021 pessoas da cidade de São Paulo, entre 31 de março e 11 de abril de 2022
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