Startup cria primeira smart bike brasileira

App usa o acelerômetro do smartphone para alterar o nível de assistência ao pedal do motor elétrico de acordo com a inclinação da ladeira. Fotos: Marco Ankosqui

22/09/2020 - Tempo de leitura: 7 minutos, 30 segundos

Dispositivos conectados, geolocalização, experiência do usuário e propulsão elétrica. A startup Vela Bikes decidiu unir todos esses conceitos em seu novo modelo de bicicleta elétrica e criou a primeira smart bike brasileira. 

Batizada de Vela 2, a bicicleta inteligente se conecta por Bluetooth ao smartphone do usuário. Todas as funções são controladas exclusivamente por meio de um aplicativo, disponível para os sistemas operacionais iOS e Android. 

A ideia inicial da empresa era oferecer apenas o rastreamento com GPS, por uma questão de segurança, mas, em pesquisas com usuários e de olho no mercado de dispositivos conectados, o projeto evoluiu. “A gente se espelhou em carros elétricos, como o Tesla, que também é conectado. É uma tendência”, afirma Victor Hugo Cruz, 32 anos, CEO e fundador da Vela Bikes.

Constante evolução

Todo o funcionamento da Vela 2 é controlado pelo aplicativo. Desde ligar e desligar a bicicleta até alterar o nível de assistência do motor elétrico, travamento remoto e alarme. Além disso, por meio do aplicativo, o ciclista pode conferir o nível da bateria em porcentagem; a velocidade em km/h; a localização por meio do GPS; e os quilômetros percorridos. 

Nem todas as funções já estão disponíveis no app, que ainda está em sua fase beta. “O legal da smart bike é isso, com as atualizações, a gente consegue mudar o desempenho, agregar as funções, com base na experiência dos usuários. Não se trata de uma solução estática, ela está em constante evolução”, avalia Cruz.

Não só o aplicativo mas também a própria bike traz um chip com conexão 3G para permitir atualizações do software de gerenciamento. “Por isso que o painel da bike é o próprio smartphone do usuário. Se tivéssemos um painel, seria um projeto engessado”, vislumbra seu idealizador, formado em engenharia mecânica.

Como é pedalar uma bicicleta inteligente 

Quem bate os olhos na Vela 2 pode pensar que se trata de uma bicicleta restaurada. Com linhas clássicas, seu design contrasta com a tecnologia de ponta. A conectividade também ajudou a reduzir os fios na bike pela metade, deixando seu visual ainda mais atraente.

O primeiro passo para começar a rodar com a Vela 2 é instalar o aplicativo no smartphone, criar uma conta de “velejador”, como são chamados os consumidores, e se conectar à bike. A conexão Bluetooth foi simples e rápida. Bastou aproximar o celular ao “cérebro” da Vela 2, uma espécie de estojo forrado de couro instalado no quadro da bike, e, em poucos segundos, o farol acendeu, indicando que ela estava ligada.

O modelo cedido para avaliação possuía quadro baixo e rodas aro 26, mas há outras opções . Uma configuração amigável para quem mede a partir de 1,65 metro. 

A ciclística mostrou-se ideal para pedalar na cidade. Entre as mudanças na Vela 2, em comparação com a primeira smart bike da empresa, estão as manoplas em formato mais ergonômico, revestidas de couro e costuradas à mão. O guidão também mudou para facilitar o manuseio. Estreito, faz com que as mudanças de direção sejam rápidas e facilita desviar de buracos e obstáculos, mas exige cuidado, principalmente em descidas. A resposta aos comandos é “arisca” em alguns momentos. 

O modelo é vendido a partir de R$ 6.890, um valor alto, porém condizente com outras bikes elétricas à venda no mercado
Feito em aço cromo molibdênio, há dois tipos de quadro – baixo e reto – que podem ser combinados com rodas aro 26 ou 700. Há cinco opções de cores, à escolha do cliente
O motor de 350 watts (W) é da chinesa Bafang e tem frenagem regenerativa. A bateria é de 378 W, com tensão nominal de 36 Volts
A Vela 2 já vem com farol e lanterna em LED: indispensáveis para pedalar pelas ruas da cidade
A bike não tem marcha e a relação é fixa: 48:18
Além do freio regenerativo, que até “freia” a bike em descidas, há freios V Brake, que funcionam bem para parar os cerca de 20 quilos da Vela 2
Voltada para o uso urbano, a Vela 2 já vem com para-lamas e cobre corrente. A buzina e o bagageiro são vendidos como acessórios
Também criado pela Vela, o suporte de celular Grudi usa um ímã, que facilita fixar o smartphone ao guidão com segurança, fazendo com que a tela funcione como um painel

Assistência ao pedal 

O motor elétrico é instalado na roda traseira e, seguindo a regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), só funciona quando você pedala – na verdade, é preciso dar a primeira pedalada para ele entrar em ação. Os níveis de assistência são ajustados automaticamente por meio do acelerômetro do smartphone e um mapa de calor. 

Ao detectar que o ciclista está fazendo muito esforço – por exemplo, em uma ladeira –, o app e o software da smart bike aumentam a assistência do motor. Na descida, a mesma coisa: se o usuário está muito rápido, automaticamente, a bike segura um pouco a velocidade.

Também é possível utilizar o botão multifunção, instalado no guidão. Feito em aço inox, à prova d’água e resistente a impactos, o botão aciona um assistente de partida, caso você esteja parado em uma subida, por exemplo, ou a função “boost”, que maximiza a assistência do motor elétrico.

Bastam dois toques rápidos para acionar o “boost” e sentir um impulso imediato do motor, que reduz em 80% o esforço para vencer as muitas ladeiras íngremes da capital paulista. É impressionante, para quem não está habituado a bikes elétricas, vencer uma subida pedalando sem suar e a 25 km/h – velocidade máxima permitida por lei. 

O motor é alimentado por uma bateria de íons de lítio, armazenada no tubo do selim. Removível e impermeável, promete 60 quilômetros de autonomia, mas que pode cair para 25, caso você utilize muito o botão “boost”. Pedalei cerca de 15 quilômetros e o nível de carga, indicado no app, foi para 80%. 

A Vela 2 ainda conta com freio regenerativo no motor, que repõe cerca de 15% da carga da bateria. Também é fácil perceber a atuação do sistema: em uma descida, por exemplo, ele “reaproveita” a energia para recarregar um pouco a bateria. 

O tempo de recarga total é estimado entre duas e três horas. Pode-se conectar o carregador, fornecido com a bike, diretamente na bicicleta ou retirar o selim e levar a bateria ao escritório ou para casa e recarregar na tomada.

Confesso que uma preocupação era, caso a bateria do smartphone acabasse, se a smart bike pararia de funcionar. Os criadores também pensaram nisso. O tal cérebro da Vela 2 traz uma entrada USB para recarregar o smartphone enquanto pedala.

O aplicativo deixa o usuário mais tranquilo em relação à carga da bateria da Vela 2. Quando o nível atinge 10%, o app emite um alerta e indica pontos de recarga próximos. A Vela Bikes tem atualmente 30 pontos espalhados pela cidade de São Paulo, mas pretende chegar a 100 até o fim do ano. Segundo o CEO da empresa, a pandemia atrasou a instalação da infraestrutura. 

A conexão era outra dúvida, mas funcionou bem. Enfrentei apenas algumas falhas no primeiro dia de pedal. A conexão caiu, mas percebi que se tratava de uma atualização do app e do software da bike. Ao chegar em casa, fiz a atualização pela internet e não tive mais problema.

A experiência com o aplicativo foi, em geral, positiva, mas as funções ainda são limitadas. No caso do meu smartphone, com sistema Android 10, não era possível ainda alterar os níveis de assistência por meio do app, mas, segundo Cruz, os desenvolvedores estão correndo com isso. “Há uma variedade muito grande de modelos e sistemas Android”, explica ele.

Bike para todos 

Sempre que as bicicletas são sugeridas como uma opção de mobilidade urbana, aparecem desculpas, como “Pego muito subida a caminho do escritório”, “Não posso chegar suado ao trabalho” ou “Faz tempo que não me exercito”. As bikes elétricas, como a Vela 2, podem ser a solução desses problemas. 

“A smart bike elétrica pode democratizar o uso da bicicleta. Independentemente da profissão, do trajeto ou da idade, torna-se mais fácil o uso da bicicleta como meio de transporte”, garante o criador da Vela Bikes. E ele tem razão.

Em um trajeto de 15 quilômetros, uma bicicleta elétrica pode muito bem servir como um modal interessante. Pedalar fica menos cansativo, é um meio de transporte ecologicamente correto e, de quebra, mais saudável.