“Todas as nossas marcas terão veículos eletrificados”
Breno Kamei, diretor da Stellantis, revela que as montadoras pertencentes à nova companhia atuam em prol da eletromobilidade
Não será por falta de afinação de ideias entre suas marcas que a Stellantis deixará de aplicar boas políticas de mobilidade no Brasil. De afinação, o executivo Breno Kamei, 40 anos, entende bem. O diretor da marca Ram e programas e planejamento de produtos da Stellantis para a América do Sul é um músico de mão cheia. Toca violão, guitarra e bateria e já emprestou seu talento a algumas bandas.
Atualmente, vem se empenhando para que as marcas da Stellantis – gigante da indústria automotiva que iniciou suas atividades no início do ano – não desafinem na missão de lançar automóveis eletrificados competitivos no mercado brasileiro.
Com mestrado duplo em administração geral pela Universidade Fordham (Estados Unidos) e Universidade de Pequim (China), Kamei trabalhou na Iveco na América Latina, em que ocupou cargos relacionados a marketing de produto e desenvolvimento de negócios.
Em seguida, atuou em funções importantes na área de planejamento de produto na Fiat. Em 2015, assumiu como gerente global de portfólio na FCA, em Auburn Hills (EUA), e, dois anos depois, regressou ao Brasil para ser diretor de portfólio, pesquisa e inteligência competitiva para a América Latina. Kamei concedeu a seguinte entrevista ao Mobilidade.
Mobilidade: No início do ano, a Stellantis foi criada incorporando várias marcas, como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën. Como unificar uma série de pensamentos e ideias sobre assuntos como a eletromobilidade?
Breno Kamei: Desde que a Stellantis surgiu, os primeiro passos já foram dados no Brasil rumo à eletrificação dos nossos produtos. Seguindo uma cadência de lançamentos, apresentamos o Fiat 500 elétrico e o Peugeot e-208 GT. O veículo comercial Peugeot e-Expert será a próxima novidade. Para a companhia, essa transição acontece de forma muito natural e a chegada dos veículos elétricos significa o processo de descarbonização de nossas marcas, que já tinham isso em mente, não só no Brasil como em outros mercados.
A Stellantis adotou iniciativas globais para divulgar sua estratégia da neutralidade de carbono?
Kamei: Em julho, realizamos o EV Day, mais focado, é verdade, na Europa e nos Estados, mas que revelou os investimentos e a maneira como pensamos o futuro da mobilidade, por meio da sinergia das marcas. A Stellantis investirá [SINAL DE EURO] 30 bilhões, até 2025, na eletrificação de veículos e no desenvolvimento de softwares e direção autônoma. Esse anúncio já demonstra nosso compromisso com a descarbonização e preservação do meio ambiente. Todas as montadoras terão veículos eletrificados, com mais ou menos ênfase, dependendo do posicionamento de cada uma nos mercados. A meta é que, até 2030, 70% das nossas vendas sejam de veículos elétricos e híbridos plug-in.
O Brasil será beneficiado com esses investimentos?
Kamei: Pensamos, claro, numa linha de produtos competitivos para Brasil e América Latina. O Fiat 500 e o e-208 T comprovam essa estratégia. Mas devemos considerar, também, as características de cada mercado. No Brasil, o etanol segue como importante aliado e 70% das vendas ainda se concentram nos modelos compactos, porque o poder de compra do consumidor brasileiro é diferente. Assim, o movimento de eletrificação tende a ser menos acelerado por aqui, até porque existem poucas políticas públicas nessa direção. Dando só um exemplo, a China terá 800 mil postos de recarga, até 2030, e os Estados Unidos, 500 mil. São realidades distintas.
O etanol como importante fonte energética impacta a evolução dos carros elétricos no Brasil?
Kamei: O etanol ainda é uma arma poderosa e foi o trampolim de um programa que se desenvolveu, fortemente, no País. Ele continua mais acessível e todo posto de serviço tem uma bomba de etanol disponível. Não dá para desprezá-lo. A indústria, também, está investindo na hibridização dos automóveis, usando o etanol, e a própria Stellantis não descarta empregar essa tecnologia no Brasil. Sempre ressaltamos a importância desse combutível no processo de eletrificação do setor. Com tudo isso em jogo, a transição para os carros 100% elétricos não é rápida. As vendas estão crescendo no País, timidamente, mas vale lembrar que o tempo de desenvolvimento de um automóvel elétrico leva alguns anos de planejamento.
O senhor afirmou que todas as marcas da Stellantis terão modelos eletrificados. Quais veículos a empresa planeja lançar no Brasil?
Kamei: Somos protagonistas em eletrificação e o Fiat 500 já é o carro elétrico mais vendido na Europa. Teremos forte presença também em veículos comerciais, como o já citado Peugeot e-Expert, e citycars. O portfólio é diversificado e inclui Jeep Compass e Renegade com motorizações eletrificadas. O avanço dos nossos modelos no Brasil será gradativo, porque é preciso avaliar as necessidades e a receptividade do mercado.
Qual é o olhar da Stellantis a respeito da sustentabilidade?
Kamei: As marcas que compõem a Stellantis sempre foram referência em todos os canais corporativos. A sustentabilidade é vista com muita seriedade pela companhia. Veja o caso da fábrica de Goiana (PE), a primeira da América Latina a ter certificado de neutralidade de carbono. Além disso, estamos fazendo parcerias para desenvolver o ecossistema da eletrificação. Com a empresa de soluções energéticas Enel e a rede de estacionamentos Estapar, desenvolvemos o projeto Ecovagas, que instalará 250 pontos de recarga aos clientes de veículos elétricos das nossas marcas. Antes mesmo dos lançamentos, nós já discutíamos questões ligadas à mobilidade para identificar os pontos-chave que interessam o comprador desse tipo de carro. A Stellantis caminha em conformidade com os debates da atualidade sobre sustentabilidade.
A ampliação de pontos de recarga será fator decisivo para ajudar nas vendas de veículos eletrificados no País?
Kamei: É um dos fatores. Como o carro elétrico ainda é novidade, no Brasil, muita gente tem receio de ficar com a bateria descarregada na rua. Por isso, é importante ampliar o número de pontos de recarga nas cidades, o que aumenta a confiança do consumidor.
A Stellantis no Brasil
Início das atividades: 2021
Marcas do grupo: Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Fiat, Jeep, Mopar, Peugeot e Ram
Portfólio de veículos: Citroën Aircross, C3 e C4 Cactus; Fiat Argo, Cronos, Dobló, Ducato, Fiorino, Grand Siena, Mobi, Strada, Toro, Uno e 500e; Jeep Commander, Compass, Grand Cherokee, Renegade e Wrangler; Peugeot 2008, 208, 3008, 5008, Boxer, Expert e Partner; e Ram
Número total de concessionárias: 971
Número de colaboradores: 23 mil
Fábricas: Goiana (PE), Porto Real (RJ), Betim (MG) e Campo Largo (PR)
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