‘Brasil precisa melhorar a formação dos motociclistas para reduzir acidentes’, diz especialista
Em entrevista, Koji Maehara, especialista em motocicletas da associação japonesa dos fabricantes de veículos, diz que condutores tiram carta sem saber frear

Em visita ao Brasil, durante o Maio Amarelo, o representante da associação japonesa dos fabricantes de automóveis, Japan Automobile Manufacturers Association (JAMA), Koji Maehara deu palestra sobre as medidas tomadas pelo Japão para reduzir os sinistros de trânsito desde o pós Segunda Guerra Mundial. De acordo com o especialista em motocicletas, o governo japonês investiu forte na infraestrutura viária e na formação dos condutores, tanto motoristas como motociclistas, mas sem deixar de lado a fiscalização e a punição.
De acordo com Maehara, o Brasil precisa de uma abordagem multidisciplinar para reduzir os números de sinistros de trânsito, principalmente com motocicletas. Um dos maiores problemas apontados pelo especialista japonês está a fraca formação dos condutores. “A pista é muito pequena, a velocidade baixa demais e os motociclistas nem aprendem a trocar de marcha, usam só a primeira”, diz Maehara.
O representante da Jama já viveu no Brasil por nove anos e voltou ao País para dar uma palestra durante o pit stop educativo para motociclistas realizado pela Abraciclo, na capital paulista, em maio passado.
Estratégia combinada para reduzir acidentes
Em entrevista exclusiva ao Mobilidade, Maehara criticou o processo de formação dos motociclistas no Brasil e reafirmou a importância de uma fiscalização rigorosa com multas pesadas como forma de educar os condutores. Confira.
Depois de entrar em contato com a realidade brasileira, na sua opinião, quais são os motivos para o Brasil ter índices tão alarmantes de mortes e sinistros com motociclistas?
Koji Maehara – Eu acho que, primeiro, é o comportamento do motociclista mesmo e também dos motoristas de automóveis. É preciso melhorar a infraestrutura, a sinalização, e como eu falei na minha palestra, a educação, a fiscalização e a repressão. Tudo combinado.
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Então a solução para o problema não é fácil, precisa de uma abordagem multidipliscinar e em várias frentes?
Koji Maehara – Sim, multidisciplinar. Na minha apresentação hoje, eu não falei nada de infraestrutura. Mas o governo japonês investiu muito na época depois da Guerra. Aumentou o investimento em infraestrutura, sinalização, placas… Um aumento de quase 100 vezes no orçamento destinados a essas áreas.
‘Multa também tem uma função educativa’
Você também comparou a formação dos motociclistas no Brasil e na Europa. Também sabemos que o processo é bastante exigente no Japão. Como você enxerga essa questão no Brasil?
Koji Maehara – No Japão, por exemplo, já é um pouco demais… As carteiras são divididas por cilindrada. É complicado demais. Por outro lado, aqui no Brasil, para tirar a habilitação, a pista é muito pequena e o motociclista só usa a primeira marcha e só o freio traseiro. Isso não pode. Depois, o motociclista vai para as ruas sem saber usar os freios. Isso gera muito problema. Atualmente, muitas pessoas nas áreas rurais, no Nordeste, não sabem frear uma moto corretamente. Não sabem usar o freio dianteiro. É preciso aprimorar o currículo na formação dos motociclistas. Não é muito difícil.
Além da infraestrutura e da educação dos condutores, você destacou outro pilar muito importante que é a fiscalização.
Koji Maehara – Fiscalização e punição. Punição é importante (Maehara interrompe e completa minha pergunta).
Então, você contou que o Japão também investiu em fiscalização rigorosa e multas pesadas para reduzir os acidentes. Você também enxerga que a punição é uma das medidas necessárias para reduzirmos as mortes no trânsito?
Koji Maehara – Então, eu morei nove anos no Brasil. A multa é muito importante. Japão fez isso. Além da fiscalização, é preciso ter repressão às infrações viárias. Dessa forma, os condutores ficam com medo de serem punidos e levar multa. No Japão, quando as leis e punições mais rígidas foram implementadas, vimos um aumento exponencial das multas, mas com o tempo isso foi caindo, juntamente com as mortes no trânsito. Certamente, existe uma relação direta entre o número de multas e a redução dos acidentes no trânsito. A multa também tem um efeito educativo.
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