Iniciativas querem tornar estatísticas de trânsito mais precisas e completas
Além de novo modelo para o registro de sinistros da Senatran, parceria entre hospitais privados e o Ministério da Saúde quer unificar dados para orientar políticas públicas de prevenção de acidentes e violência no tráfego
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15/05/2024
Por: Arthur Caldeira
“Você tem razão, as estatísticas de sinistros de trânsito no Brasil são limitadas e ainda existe muita subnotificação”, admite o secretário nacional de trânsito, Adrualdo Catão, em entrevista ao Mobilidade Estadão. A opinião, compartilhada por muitos especialistas, levou órgãos públicos e entidades privadas a trabalharem em projetos que tornem as estatísticas de trânsito mais precisas e completas no País.
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Desde março, por exemplo, a Senatran passou à fase de testes do novo modelo de coleta de dados do Registro Nacional de Estatísticas e Sinistros de Trânsito (Renaest). que visa ampliar e melhorar as estatísticas sobre as ocorrências de trânsito em todo o Brasil.
“O Renaest já existe e funciona, mas tem um problema, pois terceiriza a coleta de dados ao Detran de cada Estado”, analisa Catão. A ideia com o novo modelo é criar um formulário simplificado para reduzir a burocracia e tornar as estatísticas mais precisas.
Direto da fonte
A coleta de dados, feita pelo aplicativo de fiscalização da própria Senatran, será feita diretamente pelo agente de trânsito que chega primeiro ao sinistro. “Depois, aqui na Senatran fazemos as devidas integrações, qualificações e o trabalho desses dados”, explica Catão.
Nessa primeira etapa, o principal desafio é disseminar o uso do aplicativo e a coleta dos dados necessários, bem como fazer treinamentos para popularizar o uso do novo formulário em todo o País.
Com geolocalização, o formulário reúne informações como o local das ocorrências, CPF dos envolvidos, placa do veículo, hora e a dinâmica dos acidentes. “Só depois de testado e disseminado vamos liberar para todo o Brasil e tornar obrigatório o uso do sistema”, explica.
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Prevenção
Por meio desses dados, a Secretaria tem como mapear os pontos críticos de estradas e dar uma visão mais clara sobre os sinistros e mortalidade no trânsito em todo o País. “Também será possível monitorar e fazer o ranqueamento dos Estados que têm se engajado na segurança viária. Queremos transformar o Pnatrans em um plano de conformidade no trânsito”, finaliza.
Futuramente, o formulário deverá funcionar também de forma interoperacional, em conjunto com outros apps por meio de API. Com estatísticas mais precisas, o secretário nacional de trânsito acredita que teremos maior agilidade na divulgação dos dados sobre sinistros de trânsito.
Também será possível usar de maneira mais eficaz modelos preditivos, como o Antecipa, uma tecnologia de inteligência artificial que pode prever locais e horários com maior risco de ocorrer colisões e outros acidentes, explica Catão.
Informações integradas
Outro problema apontado pelos especialistas é a falta de integração dos dados. Em algumas situações, uma vítima de atropelamento que vier a falecer no hospital depois de algum tempo de internação, por exemplo, poderia ficar de fora das estatísticas de mortes no trânsito.
“Existem mais de 300 sistemas de saúde em todo o País, e o maior desafio é integrar esses dados”, explica Bruno Zocca, epidemiologista do Hospital Albert Einstein. Hoje, as informações são disponibilizadas para o SUS por meio de vários sistemas distintos que não estão conectados.
Projeto TRAUMA
Para tornar a vigilância em saúde eficaz, foi criado o Projeto TRAUMA, sigla para “Tecnologia de Rápido Acesso de Dados Unificado para Mitigação da Acidentalidade”. O projeto faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), uma parceria do Ministério da Saúde com seis hospitais privados filantrópicos. O TRAUMA nasceu de uma parceria entre pesquisadores do Hospital Albert Einstein e o Ministério da Saúde.
O projeto busca fortalecer o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) ao integrar serviços de atendimento e sistemas de informação da saúde, criando uma base de dados unificada, afirmou o Ministério da Saúde em nota. Visa melhorar a vigilância, atendimento de urgência e emergência, e facilitar o acesso a informações cruciais para profissionais de saúde, explica Zocca, um dos idealizadores.
Na primeira fase, entre 2021 e 2023, foram usados dados de cinco locais que viraram parceiros do projeto, para testar a tecnologia, o sistema e verificar se seria possível unificar esses dados, resultando em uma ferramenta funcional para integrar as informações.
“A partir de agora, vamos coletar dados de mais locais para ter a certeza de que a ferramenta funciona. Nosso maior desafio é a interoperabilidade, pois existem muitos sistemas diferentes e precisamos quebrar essa barreira”, explica o epidemiologista.
Pronto para uso em 2026
Já numa segunda fase, que abrange o triênio de 2024-2026 e visa integrar o projeto e a Rede Nacional de Dados em Saúde. Entretanto, “para implementá-lo efetivamente, é essencial o envolvimento de estados e municípios, capacitação de recursos humanos e organização dos serviços locais para o uso eficaz dos dados”, observou o Ministério da Saúde sobre o projeto.
A previsão dos pesquisadores e da pasta é que o TRAUMA esteja pronto para o uso em 2026. “Queremos ter um portal do TRAUMA onde seja possível contar a história de um acidente com um mínimo de esforço e recurso possível, só usando os sistemas de informação já ativos e em uso pelo Ministério da Saúde”, projeta Bruno Zocca.
Para o epidemiologista, os dados são fundamentais para nortear políticas públicas de prevenção de acidentes e violências com mais precisão em todos os níveis. “Um gestor de trânsito municipal, por exemplo, poderá colocar um semáforo em uma esquina onde existem muitos acidentes de trânsito”, conclui.
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