Caminhões semiautônomos ganham espaço nos canaviais
O uso desses veículos cresce nas operações de agronegócio, mas presença do motorista ainda é indispensável
6 minutos, 18 segundos de leitura
28/09/2020
Por: Andrea Ramos
Não é de hoje que os caminhões com algum nível de autonomia estão sendo testados em diversos países. Mas, por razões de legislação e até mesmo de segurança, os ambientes controlados são os locais mais adequados para a atuação de caminhões semiautônomos.
No Brasil, a Volvo foi a primeira a oferecer o veículo com nível 2 de autonomia para operações nos campos de cana-de-açúcar. Graças ao sistema de geolocalização, o caminhão pode, sozinho, frear, acelerar e seguir a rota predeterminada. Sua operação é limitada a ambientes controlados. Um motorista deve ficar a bordo para monitorar o comportamento do veículo e intervir quando necessário.
Depois da Volvo, a Mercedes-Benz também desenvolveu essa tecnologia. A Volkswagen Caminhões e Ônibus, por sua vez, está criando sua versão para atuar na operação de cana.
Os modelos com essa tecnologia foram feitos para atuar no transbordo da colheita. Como resultado, a produtividade praticamente dobra em cerca de um ano. Entre as vantagens, os caminhões semiautônomos eliminam a destruição de brotos. Ou seja, os pneus não passam sobre as novas mudas durante a colheita. Isso é possível graças a um sistema de georreferência de alta precisão que faz com que o caminhão circule pelo plantio sem esmagar os brotos de cana. E cada marca desenvolve seu próprio sistema de geolocalização.
Volvo é o primeiro dos Caminhões semiautônomos do Brasil
A Volvo oferece a versão do VM 32 com nível 2 de autonomia. Isso significa que o caminhão trafega sozinho durante a colheita de cana. De acordo com a Volvo, esse é um segmento que perde cerca de 12% dos brotos da planta durante a colheita por causa da devastação provocada pelos pneus dos caminhões semiautônomos. O VM, no modo autônomo, reduz a quase zero essa destruição, graças ao sistema de geolocalização. O caminhão utiliza pneus de alta flutuação, que ajudam a reduzir os impactos no solo.
O VM traz duas antenas de alta precisão para o navegador GPS e o Volvo Dynamic Steering (VDS). O sistema de direção com assistência elétrica deixa o volante “mais leve” e faz com que o Volvo seja mais fácil de manobrar.
O caminhão da marca sueca foi lançado no País, em 2016, na versão 6×4. E começou a operar nas lavouras de cana-de-açúcar da Usina Santa Terezinha, em Maringá (PR).
O VM eleito é equipado com motor MWM de 330 cv de potência a 2.200 rpm e 133 mkgf de torque entregues entre 1.200 rpm e 1.600 rpm. O seis cilindros em linha tem sistema Common Rail de injeção de diesel. O câmbio é automatizado de 12 velocidades. O peso bruto total (PBT) do VM é de 32 toneladas. E sua capacidade de carga líquida é de 24 toneladas.
Axor e Atego autônomos
A Mercedes-Benz oferece o caminhão autônomo Axor 3131 e o Atego 2730, ambos são 6×4. O sistema, de nível 2, foi desenvolvido em parceria com a empresa brasileira de tecnologia Grunner, de Lençóis Paulista (SP).
O sistema também foi desenvolvido para operar no transbordo da colheita. Como resultado, a produtividade praticamente dobrou em cerca de um ano. Para ter uma ideia, na safra 2017/2018 da Agrocana Caiana, onde os caminhões da estrela operam, foram colhidas 118 toneladas de cana-de- açúcar por hectare. Antes do início da operação do caminhão autônomo, a cooperativa colhia 69 toneladas por hectare. E assim como o modelo da Volvo, o sistema da MB também elimina a perda de brotos.
O Axor 3131 tem capacidade de carga líquida de 20 toneladas e o Atego 2730 oferece 14 de carga líquida. O Axor 3131 tem motor OM-926 de seis cilindros em linha turbodiesel, que gera 310 cv de potência a 2.200 rpm. O torque, de 122 mkgf, é entregue entre 1.200 e 1.600 rpm. O câmbio é o Comfortshift, uma caixa semiautomatizada de 16 marchas, o PBT é de 31 toneladas. Já o Atego tem o mesmo motor, porém, desenvolve 286 cv a 2.200 rpm e torque de 114 mkgf de 1.200 a 1.600 rpm. E seu PBT é de 23 toneladas.
Vantagens operacionais
Com o fim do “pisoteamento” dos brotos, a longevidade do canavial também aumentou. Antes dos caminhões autônomos a cada cinco anos, era preciso fazer o replantio dos brotos. Agora, a expectativa é que o intervalo médio passe para cerca de nove anos. Um ser humano, mesmo que seja muito bem treinado, dificilmente conseguirá obter o mesmo nível de resultado.
O sistema autônomo da Mercedes-Benz também utiliza sistema de geolocalização. Graças ao navegador GPS de alta precisão, a margem de erro é de 2,5 centímetros. Isso faz com que o caminhão mantenha sempre a trajetória entre as filas de plantas, separadas por “ruas” com cerca de 90 centímetros de largura.
Entre as adaptações feitas nos caminhões autônomos, está a bitola (distância entre as rodas do mesmo eixo) de 3 metros. No caminhão original, a do eixo dianteiro é de 2,62 metros e a do traseiro, de 1,8. O aumento foi de, respectivamente, 38 centímetros e 1,2 metro.
A operação, na prática
O caminhão autônomo roda paralelamente à colheitadeira, que é geralmente autônoma. Durante a operação, a distância entre os dois veículos fica em torno de 1 metro. Para garantir a segurança, há um motorista no caminhão e um operador na máquina agrícola. Mas nenhum dos dois aciona qualquer tipo de comando.
Um braço mecânico da colheitadeira despeja a cana picada na carroceria do caminhão. Ao fim do carregamento, o motorista assume a direção e leva o Axor até o local em que será feito o transbordo da carga para veículos maiores.
O caminhão anda com precisão sem destruir os brotos graças ao sistema de geolocalização. A colheitadeira também é autônoma.
Os caminhões semiautônomos têm todos os comandos presentes em um veículo comum, como volante, pedais e alavanca de câmbio. Do pátio de estacionamento até a plantação é o motorista que conduz o caminhão.
Ao chegar à lavoura, o próprio motorista ativa o modo autônomo do caminhão, por meio de uma tela sensível ao toque. O equipamento remete a um grande tablet. Ainda assim, o profissional fica o tempo todo na cabine para agir em caso de pane ou se for preciso fazer alguma manobra mais complexa, por exemplo.
Há vários dispositivos focados na prevenção de acidentes. Radares e sensores identificam obstáculos, pessoas e mesmo animais à frente. Nesse caso, os freios serão acionados de forma automática, independentemente da ação do motorista. O caminhão também opera no modo autônomo em marcha à ré.
No caminhão autônomo, o navegador GPS é de alta precisão e ele atua em conjunto com o piloto automático. O sistema utiliza uma série de parâmetros para manter o veículo no trajeto preestabelecido. Nesse caso, entre as filas da plantação de cana.
O caminhão é conduzido pelo motorista para chegar até o campo, manobrar ou transportar a cana colhida para o veículo de transbordo.
O representante da Volkswagen Caminhões e Ônibus ainda está em desenvolvimento. Mas, quando a tecnologia chegar, deverá ser equipada no Constellation 31.280 ou no 31.330, modelos da marca direcionados às atividades de cana-de-açúcar.
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