Um aplicativo que indica os melhores lugares para o descanso do caminhoneiro, ao mesmo tempo em que possibilita descontos em refeições e gera informações a respeito das condições da estrada. Essa é a ideia central do Parada Certa, projeto vencedor do hackathon promovido pelo Grupo CCR com o desafio de criar serviços para melhorar a qualidade de vida dos caminhoneiros, categoria responsável pelo transporte de mais de 60% das cargas no País.
O hackathon é uma maratona de programação em que os participantes mergulham na análise de determinados problemas e propõem soluções por meio de aplicativos e outros recursos tecnológicos.
Durante três dias, os times, formados por profissionais de diversas áreas, desenvolveram 330 projetos, apresentados ao final como Mínimo Produto Viável (MPV).
Do total, 30 foram qualificados para a semifinal, fase em que uma comissão julgadora de especialistas elegeu os três primeiros lugares. Os prêmios totalizaram R$ 150 mil – R$ 80 mil para o primeiro colocado, R$ 40 mil para o segundo e R$ 30 mil para a terceiro.
Reconhecido com o primeiro lugar, o Parada Certa teve como ponto de partida a preocupação com a segurança, tema detectado pelo time de desenvolvimento como crucial para os caminhoneiros. A investigação demonstrou também que os pontos de parada são os locais em que esses profissionais ficam mais vulneráveis.
Concebido por uma equipe multidisciplinar do Paraná, o aplicativo convida o caminhoneiro a avaliar os pontos de parada, os estabelecimentos comerciais – a exemplo de postos de combustível e restaurantes – e a qualidade do trecho da rodovia que acabou de percorrer.
As avaliações geram pontos que podem ser trocados por cupons de descontos. Na outra ponta, os comerciantes se beneficiam com a publicidade dirigida ao público que passa pela região, além de obter informações para melhorar os serviços que oferecem.
“Constatamos em campo que as maiores dores do caminhoneiro são o desconforto nas paradas, o receio da violência e os serviços nem sempre de boa qualidade”, conta o estudante de engenharia mecânica Akira Tsukamoto, um dos integrantes da equipe.
“O Parada Certa contribui para compartilhar experiências. O caminhoneiro usa muito o WhatsApp, mas as conversas acabam se perdendo. Uma ferramenta que centraliza as informações vai ajudar muito.”
Médicos costumam dizer que o coração carrega muitas informações a respeito da saúde da pessoa. O ritmo cardíaco pode traduzir ansiedade, arritmia, estresse, hipertensão, entre outros problemas. Com esse conceito em mente, a equipe vice-campeã do Hackathon CCR desenvolveu um protótipo de hardware e de aplicativo para monitoramento em tempo real da frequência cardíaca do caminhoneiro.
As informações do Turu App são abastecidas em tempo real por um sensor, instalado no volante do veículo, que mede os batimentos cardíacos do motorista. Os dados são diretamente salvos em nuvem ou no próprio aplicativo, caso o caminhoneiro esteja offline.
A ideia da equipe foi oferecer uma ferramenta acessível e de baixo custo para monitorar a saúde dos profissionais das estradas. “O caminhoneiro tem pouco tempo para cuidar de si mesmo”, diz a profissional de relações públicas Ariane Lima Macedo, uma das integrantes do time de Uberlândia (MG).
“Doenças do coração são algumas das que mais matam no Brasil. Proporcionar atenção primária para preveni-las certamente contribui na qualidade de vida dos caminhoneiros e na redução dos custos para o sistema de saúde”, analisa.
O Turu App interage com o caminhoneiro ao incorporar dicas para preservar a saúde e o bem-estar. O usuário recebe no WhatsApp sugestões de exercícios – alongamentos, por exemplo –, além de relatórios a respeito do monitoramento cardíaco.
Eventuais anomalias são identificadas e informadas. “É uma solução muito útil não apenas para o motorista, mas também para empresas transportadoras interessadas em ter uma visão panorâmica da saúde de seus colaboradores”, conta Ariane, ela própria filha de caminhoneiro.
O terceiro lugar no evento ficou para o time que desenvolveu o Bem no Caminho. O aplicativo, concebido com motivações semelhantes às do Parada Certa, também indica os pontos de paradas mais seguros para o caminhoneiro.
A solução permite organizar a viagem de acordo com horários e rotas, apontando distâncias entre os locais de paradas, além de indicar o número de vagas disponíveis e os serviços oferecidos em cada “quadradão”, que é como os caminhoneiros costumam chamar os estacionamentos nas estradas. “Fizemos mais de 40 entrevistas para entender melhor as necessidades dos motoristas”, conta Dieimerson Vieira dos Santos, responsável pelo design do aplicativo.
O Bem no Caminho também oferece pontos para estimular o uso do app e oferece funcionalidades para o cotidiano do trabalho, como o compartilhamento simplificado de selfies com familiares e amigos – recurso que a equipe chamou de “Matar a Saudade” –, e um botão de emergência para solicitar socorros mecânicos.
O impulso proporcionado pelo Hackathon CCR foi um grande incentivo para que as ideias se viabilizem como negócios. “Já fomos sondados por empresas interessadas em levar adiante o projeto”, conta Tsukamoto, da equipe vencedora.
Organizado totalmente em ambiente digital, por conta da necessidade de isolamento social durante a pandemia de covid-19, o Hackathon CCR atraiu mais de 7 mil participantes – houve tanta procura que foi preciso interromper as inscrições para assegurar a alta qualidade do processo.
“Dentre as diversas iniciativas do Grupo CCR para apoiar os caminhoneiros neste período da pandemia, organizar um hackathon fez todo sentido”, diz André Costa, diretor da CCR EngelogTec, empresa de tecnologia do grupo . “Trata-se de um evento que busca a inovação, um dos pilares do grupo.”
Participaram da maratona mais de 130 mentores, entre profissionais de saúde, tecnologia, negócios, infraestrutura, transporte e pessoas ligadas ao cotidiano do caminhoneiro. Para entender melhor os desafios e encaminhar soluções, as equipes tiveram mais de 800 sessões de mentoria, somando quase 400 horas.
O formato online, inovador em eventos do gênero, mostrou-se oportuno para possibilitar a participação de um grande número de interessados, moradores de diversas partes do País e do mundo, já que elimina a necessidade de estrutura física e de deslocamento dos participantes. “O retorno dos participantes sobre a experiência foi o melhor possível. Essa semente certamente trará muitos frutos”, avalia o diretor da CCR EngelogTec.