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Transporte de bebidas ligado na tomada

Por: Décio Costa . 20/03/2020
Meios de Transporte

Transporte de bebidas ligado na tomada

Operações reais na logística da Ambev com caminhão elétrico mostram resultados promissores na distribuição urbana de carga

5 minutos, 43 segundos de leitura

20/03/2020

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O motorista Anderson Campos faz entregas de bebidas diárias na Zona Sul de São Paulo. Foto: Marco Ankosqui.

Há pouco mais de um ano, a rotina de trabalho de Anderson Soares de Campos mudou e, ele enfatiza, “para melhor”. O motorista da Fadel Transportes e Logística, parceira da fabricante de bebidas Ambev, passou a conduzir um e-Delivery, modelo elétrico da Volkswagen Caminhões e Ônibus, nas entregas diárias por bairros da Zona Sul de São Paulo.

“Dirigir pela cidade ficou mais fácil. Não é preciso trocar marchas, tem assistente de partida nas subidas, o caminhão não faz barulho e acelera mais forte, o que dá agilidade no trânsito”, resume Campos.

“Com isso, o dia rende, não cansa tanto como dirigir um caminhão comum.” Se, na conta do motorista, o e-Delivery entrega benefícios práticos, por parte da Ambev e da VWCO a solução elétrica representa um audacioso projeto que envolve uma frota de 1.600 caminhões elétricos.

O anúncio da intenção de compra, inédita no mundo pelo volume da encomenda, ocorrido em agosto de 2018, coloca em perspectiva o início de uma transformação na logística de distribuição nas cidades.

30 mil toneladas de carbono a menos

“Esse é o primeiro caminhão 100% elétrico da América Latina, com zero emissão de gases, tanto de carbono quanto de outros elementos nocivos”, lembra Bernardo Adão, gerente corporativo de logística da Ambev. “É uma inovação muito bacana, que nos ajuda em nossa meta de reduzir em 25% as emissões de carbono ao longo da nossa cadeia de valor até 2025.”

Para atingir o objetivo de sustentabilidade proposto pela fabricante de bebidas, o plano é ter um terço da frota de caminhões elétricos em três anos. Por isso, a parceria com a montadora, que se prepara para começar a produzir o modelo ainda neste ano (ver quadro). Com a chegada dos veículos, a Ambev calcula reduzir a emissão em mais de 30 mil toneladas de carbono por ano.

Desde que iniciou os testes em condições reais, com entregas em bairros paulistanos como Moema, Vila Madalena, Itaim, Vila Olímpia e Brooklin, o e-Delivery acumulou 22 mil quilômetros. A distância até agora percorrida representou redução de 16 toneladas de CO2 emitidas na atmosfera, além de deixar de consumir mais de 5 mil litros de diesel. “O caminhão consome por volta de 50 kWh por dia, o que evita o uso de 20 litros diariamente”, compara Adão.

Recargas noturnas

O e-Delivery a cargo da Fadel cumpre jornada de segunda a sábado em trajetos em torno de 70 quilômetros diários a partir de Centro de Distribuição da Ambev localizado na Mooca. Carregado com seis pallets, somando por volta de 13 toneladas de peso bruto total (PBT).

A rota estabelece cerca de 20 entregas. Ao final, o caminhão ainda chega com até 40% de energia armazenada, boa reserva considerando a autonomia de 200 quilômetros, fornecida por conjunto que gera 180 kW de potência e até 2.150 Nm (219,2 mkgf) de torque disponíveis logo ao pisar no acelerador.

Estação de recarga

Para o carregamento do e-Delivery, feito durante a noite, a Ambev também prepara infraestrutura própria. Por enquanto, a única estação de recarga se encontra no Centro de Distribuição, em modelo de abastecimento a partir de painéis fotovoltaicos, que transforma a energia solar em elétrica. Bastam de duas a três horas para o caminhão estar com a carga total.

Ao longo dos próximos dez anos, no entanto, a Ambev aplicará US$ 140 milhões para a construção de 31 usinas solares. “Toda essa estrutura não será direcionada apenas ao abastecimento da frota, mas é justamente o que vamos precisar para suprir a demanda energética dos caminhões”, revela o gerente de logística. “Encaminhamos com isso a meta de ter 100% da eletricidade consumida por nossas instalações gerada por fontes renováveis.

Manutenção 30% mais em conta

Questionamentos comuns em relação à rentabilidade do caminhão elétrico a princípio estão sendo superados pela Ambev. De acordo com Adão, até agora o e-Delivery esteve sempre disponível e já mostra potencial de reduzir em até 30% os custos com manutenção; afinal, o caminhão elétrico tem menos peças e sistemas em relação ao veículo convencional a diesel.

“Pelo que vimos até agora, o caminhão se mostra como uma excelente opção para nossas operações. Por estarmos rodando com apenas um veículo, não temos dados abrangentes quanto aos custos operacionais. Mas, no caso da parceria com a Volkswagen, por exemplo, o objetivo é montar um modelo de negócio rentável, justamente para acelerar essa transformação nos transportes”, conta Adão.

“Sempre pensamos em investimentos e parcerias de forma que os custos sejam equivalentes ou mais baixos.” Enquanto a produção em série ainda não tem início, quem segue privilegiado e sofre algum assédio é o motorista da Fadel. “Todos os dias tem uma brincadeira dos companheiros para que eu não me preocupe se precisar faltar no trabalho. Tem sempre alguém muito disposto para cobrir o dia”, diverte-se Campos.

Volkswagen Caminhões e Ônibus investe R$ 110 milhões para produção em série do e-Delivery. Foto: Divulgação Ambev.

VWCO começa produção em série no segundo trimestre

Independentemente da parceria com a Ambev, a Volkswagen Caminhões e Ônibus tem o firme propósito de ser a pioneira na produção nacional de caminhões elétricos. Na Fenatran do ano passado, em outubro, a montadora oficializou a criação de um consórcio de empresas para instalar uma linha de montagem na fábrica de Resende (RJ).

O eConsórcio, como foi chamado, integra fornecedores como Bosch, Siemens, Moura, WEG, Semcon, CATL e Meritor para compor um modelo de negócio que prevê desde a montagem até a infraestrutura de recarga e o gerenciamento do ciclo de vida da bateria.

Mais recentemente, em dezembro passado, a montadora anunciou aporte de R$ 110,8 milhões para fazer da produção de elétricos uma realidade ainda neste ano.

Na ocasião do anúncio, Roberto Cortes, presidente e CEO da VWCO, reforçou que o projeto de mobilidade elétrica da companhia segue de maneira rápida. “Além do protótipo do e-Delivery nas operações da Ambev, outros 17 caminhões estão em teste com a engenharia brasileira para validações com o objetivo de tornar viável a produção do caminhão elétrico no segundo semestre de 2020.

Números

  • 200 KM é a autonomia do e-Delivery
  • Na operação da Ambev, 20 LITROS de diesel deixam de ser consumidos por dia
  • Em 22 mil quilômetros rodados, 16 TONELADAS de CO2 deixaram de ser emitidas na atmosfera
  • 1.600 caminhões elétricos é o que terá a Ambev até 2023.

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