Noam Bardin

CEO do Waze

Cidades para pessoas e não para carros: mudança de comportamento é a solução do trânsito

Foto: Getty Images

21/09/2020 - Tempo de leitura: 4 minutos, 18 segundos

Dia Mundial Sem Carro, uma data que nos convida a repensar os trajetos diários e como podemos torná-los mais inteligentes, ecológicos e econômicos. Acredito fortemente que as cidades devem ser criadas para pessoas, e não para carros. Os governos sempre focaram seus investimentos em uma infraestrutura pensada para o transporte individual. O problema é que a infraestrutura não escala da mesma forma que o mercado automotivo vende, gerando todos os problemas no trânsito que já conhecemos.

Quando começamos o Waze, olhávamos para o trânsito sob o ponto de vista de uma pequena iniciativa em um jogo de gente grande. Existiam poucos usuários por aí e nós estávamos tentando encontrar atalhos para superar o trânsito. Hoje nós temos o nosso próprio mapa, nossa comunidade de voluntários e parcerias com cidades e organizações ao redor do mundo, tudo para que a gente consiga, de fato, transformar a mobilidade urbana.

O nosso próximo passo é deixar de apenas entender o trânsito e como se locomover para um lugar de melhorá-lo. No passado, isso significaria investir em infraestrutura nas ruas, mas hoje sabemos que não podemos apenas construir coisas para acabar com este problema. O congestionamento não é resultado da ação de alguém, nós somos essas pessoas. Então, nós precisamos fazer parte da solução.

Três maneiras de acabar com o trânsito

Nós podemos resolver o problema do trânsito de várias formas, mas uma das coisas que estamos trabalhando é em ajudar os motoristas a se planejarem melhor. Também estamos tentando melhorar o trânsito com o Carpool. Queremos que as pessoas compartilhem os espaços vazios em seus carros. Muita gente gosta de falar como os carros autônomos vão mudar tudo. Mas nada disso importa se continuarmos circulando por aí com apenas uma pessoa no veículo, não é? Não importa se sou eu, você ou um computador quem está dirigindo, se a gente não tirar carros das ruas, nós não estamos realmente resolvendo o problema.

A terceira forma é colaborar com órgãos que regulam o trânsito e as autoridades. Nós alimentamos eles com dados e ferramentas de comunicação com os usuários. Assim, eles podem ver o que está acontecendo nas ruas e trabalhar mais rápido para resolver, como o que aconteceu em Joinville (SC). Eles construíram modelos de trânsito baseados em nossos dados e sincronizaram com os semáforos locais. Só com essa pequena mudança, eles ajudaram as pessoas a diminuir em 18 minutos o tempo que passavam em grandes avenidas. Isso é significativo.

Uma forte conexão com a comunidade

Quando a pandemia se iniciou, nossa comunidade não hesitou em se voluntariar e ajudar. Eles começaram a marcar ruas, centros de saúde, drive-thru de testagens, bancos de distribuição de alimentos, etc. Eles fizeram tudo o que podiam para ajudar as pessoas durante a crise. Mas esse tipo de resposta não é surpresa para mim. No Waze, nós temos uma equipe de respostas a crises que trabalha diretamente com a nossa comunidade toda vez que algum desastre natural acontece. Nós estamos acostumados a vê-los enfrentar os desafios, sempre estendendo a mão para ajudar o próximo. 

Nós também abrimos os nossos dados ao público através do Painel de Impacto da COVID-19 do Waze, tudo para ajudar pessoas e organizações a entender como e quando retomar as atividades. 

Aos poucos, as pessoas estão retomando a rotina — apesar da situação ainda crítica da pandemia em vários países. Seja uma volta total ao trabalho, uma jornada intercalada com o home office ou a retorno de atividades do comércio, o fato é que o movimento nas ruas está crescendo novamente. Para que o retorno dos usuários seja o mais tranquilo possível – seja para quem está voltando ao trabalho ou para quem continua em quarentena e sai para os serviços essenciais -, eles precisam ficar bem informados sobre seus trajetos.

Inovando no seu próprio caminho

Inovação e correr riscos são geralmente confundidos com fazer algo novo, algo completamente fora do que você vem fazendo. Pessoalmente, eu não concordo com isso. O desafio com a inovação é descobrir como inovar naquilo que você já está tentando fazer. É fácil escolher fazer algo completamente diferente. É muito mais difícil manter a sua missão enquanto tenta diferentes formas de chegar lá. Nós trabalhamos muito para criar um ambiente onde o destino é claro, mas há diversos caminhos que podemos seguir.

Eu acho que, pelo que estamos observando, nós não vamos voltar ao mundo da forma que conhecíamos antes. Eu não sei exatamente como este novo mundo vai ser, mas uma coisa é certa: se você costumava passar uma hora dirigindo no caminho para o trabalho, e agora você tem essas duas horas sobrando porque trabalha de casa, vai ser muito difícil ficar preso no trânsito novamente.”