Por que em junho quase 80% das multas de Campinas foram para motos?

Entidades da cidade aplicaram em junho 440 multas para motociclistas, o objetivo era impedir comportamentos de risco. Foto Adobe Stock

10/07/2024 - Tempo de leitura: 3 minutos, 56 segundos

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), a Guarda Municipal e a Polícia Militar de Campinas realizaram 11 blitze na cidade durante o mês de junho. Ao todo, as entidades emitiram 559 autuações, sendo 440 dirigidas a motociclistas. Portanto, 78,7% das multas em blitze de Campinas destinaram-se a motos no último mês. Ao mesmo tempo, 113 motocicletas foram apreendidas e levadas para o pátio municipal neste período.

De acordo com nota divulgada pela prefeitura, “as operações têm como foco principal coibir comportamentos de risco e reduzir mortes no trânsito”. No ano passado, 83 motociclistas faleceram em sinistros nas ruas e avenidas da cidade.

Saiba mais: 34% das mortes no trânsito de Campinas ocorreram por excesso de velocidade.

Campinas, cidade que fica a cerca de 100 km da capital paulista, possui 1,138 milhão de habitantes e 977 mil veículos. Os carros representam a maior parcela, totalizando 635 mil unidades em maio de 2024, segundo dados do Senatran. Em seguida, estão as motocicletas, que somam 137 mil veículos, além de 20 mil motonetas.

Motociclistas são grupo de risco

Os condutores de motos são os que mais morrem acidentes em Campinas. Em 2014, 69 motociclistas faleceram em sinistros na cidade. As ocorrências caíram durante a pandemia, mas voltaram a subir em 2022, com 71 óbitos. No ano passado houve 83 vítimas fatais.

“É um aumento expressivo que não foi acompanhado por outros usuários do trânsito e que preocupa, por mais que a frota de motociclistas esteja crescendo”, explica Rafael Bueno da Silva, coordenador de fiscalização da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global em Campinas e no Estado de São Paulo.

Os motociclistas são também os que mais morrem em ocorrências com excesso de velocidade. Dos 52 acidentes fatais com condutores além do limite permitido que ocorreram em Campinas em 2023, 34 pilotavam motos ou estavam na garupa.

A certeza da impunidade também faz com que os motociclistas infrinjam mais as leis. “A iniciativa Bloomberg apoiou a cidade em um esforço que tentou combater o comportamento de motociclistas que ultrapassavam a velocidade em pontos de fiscalização e tampavam a placa com a mão”, explica Silva.

Por que há tantas multas para motos em Campinas?

O coordenador da Iniciativa Bloomberg trabalha junto com a prefeitura de Campinas com o objetivo de reduzir a zero o número de mortes no trânsito no município. Segundo ele, para atingir essa meta, “é preciso que as cidades trabalhem com base em evidência e a Iniciativa apoia a cidade nesse esforço”.

Segundo Silva, uma pesquisa observacional feita pela Johns Hopkins University em conjunto com USP em Campinas, determinou que quatro em cada 10 condutores de motocicletas trafegavam com velocidade acima da permitida. Enquanto 20% dos motoristas de carros correram acima do limite, 40% dos motociclistas ultrapassaram o máximo de velocidade permitida.

“A cidade de Campinas entendeu, com essa evidência, que precisava reforçar a fiscalização de motociclistas para ter condição de reduzir os números de mortes nesse grupo específico”, ele resume. Sendo assim, “é natural que você tenha mais infrações registradas para o grupo que está sendo majoritariamente o foco da operação do que outros tipos”.

Ao mesmo tempo, “quando você fiscaliza motociclista, fiscaliza também o estado da motocicleta”, explica Silva. Por isso, falta de habilitação, documento vencido e o estado do veículo são condições que são mais aferidas quando as blitze focam em motocicletas. Em junho, por exemplo, 42 motos paradas em blitze de Campinas foram apreendidas por irregularidades nos escapamentos.

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Plano de ação

Levantamento feito pela Iniciativa Bloomberg determinou que as avenidas John Boyd Dunlop, Ruy Rodriguez, das Amoreiras e Presidente Juscelino são as que possuem mais óbitos na cidade.

As blitze realizadas em julho deixaram de fora, das avenidas citadas acima, a das Amoreiras e Presidente Juscelino. No entanto, também monitoraram pontos de grande movimento, como as vias Prefeito José Nicolau Ludgero Maselli, Washington Luiz, José Christóvão Gonçalves, Comendador Aladino Selmi e José Amgarten.

Além do aumento na fiscalização, a Bloomberg apoiou uma campanha de mídia de massa para conscientizar os motociclistas sobre o risco de infrações na direção. Para obter melhores resultados, “essas campanhas precisam ser baseadas em dados e evidências e estarem aliadas a blitz de fiscalização durante esse período”, afirma Mariana Pires, coordenadora de comunicação da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global em Campinas e no Estado de São Paulo.

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