Papel das motos na mobilidade urbana do Brasil

Segundo pesquisa dos fabricantes, em 2020, 91% das motos foram compradas para o deslocamento diário. Foto: Getty Images
Arthur Caldeira
01/09/2021 - Tempo de leitura: 4 minutos, 9 segundos

As motocicletas assumem um papel cada vez mais importante na mobilidade urbana no País. Atualmente, cerca de 33 milhões de pessoas estão habilitadas na categoria A, para motos, no Brasil. São milhões de brasileiros que, por comodidade, hobby ou profissão, se locomovem sobre duas rodas.

De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), analisados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o número de pessoas habilitadas para este tipo de veículo cresceu 17,5% nos últimos cinco anos.

Embora muitos apontem o boom dos aplicativos de entrega, o crescimento do delivery e a crise econômica gerada pela pandemia como motivos para o aumento das motos nas ruas, os dados revelam uma realidade diferente. Pesquisa dos fabricantes associados à Abraciclo mostra que, na verdade, esses novos motociclistas procuraram motos e scooters como um meio de locomoção rápido, econômico e seguro.

De acordo com pesquisa dos fabricantes, para 91% dos consumidores, o principal motivo para a compra de uma motocicleta em 2020 foi a locomoção. Em segundo lugar, aparece o lazer (66%), seguido pelo trabalho (15%). Os dados mostram que, em função da covid-19, muitas pessoas passaram a utilizar a motocicleta para evitar as aglomerações no transporte público.

É o caso do advogado Leonardo Ludke que colocou em prática o antigo sonho de ter uma motocicleta para evitar as horas que gastava no transporte público: comprou uma em janeiro deste ano. Residente de Caxias do Sul (RS), Ludke pegava de dois a três ônibus para ir ao trabalho. “Neste trajeto, gastava cerca de uma hora. Hoje, levo 10 minutos”, comenta. “Ganhei autonomia, agilidade no deslocamento e ainda economizo o dinheiro que gastava com o transporte público”, conta.

Moto no pós-pandemia

A história do analista de sistemas Fernando Ferreira é bastante semelhante: tirou a habilitação e comprou a motocicleta durante a pandemia. “Quanto voltei a trabalhar presencial, confesso que fiquei incomodado ao me ver rodeado de pessoas – algumas sem usar máscara – no transporte público. Até cheguei a discutir com uma delas. Decidi que a motocicleta seria a melhor solução para evitar esse estresse”, conta. Morador no Rio de Janeiro, Ferreira elogia a praticidade e a agilidade das motos para o seu dia-a-dia.

A paulistana Bruna Portela tem na moto seu instrumento de trabalho. Ela trabalhava como auxiliar de escritório, mas foi demitida durante a pandemia. Com o valor da rescisão do seu contrato, Portela investiu na compra de uma moto e passou a trabalhar com os aplicativos de entrega. “Hoje é minha única fonte de renda”, explica a jovem.

Scooters atraem novos usuários

Espaço sob o assento torna scooters práticas para o dia a dia. Foto: Divulgação Honda

O aumento no número de brasileiros habilitados a pilotar motos e o crescimento da participação feminina têm ajudado a impulsionar a venda de scooters no Brasil. Em julho, houve recorde de comercialização desse tipo de moto: 10.195 unidades.

Entre janeiro e julho de 2021, foram emplacadas 61.677 scooters, revela levantamento da Abraciclo. O volume mostra crescimento de 59,2% em comparação ao mesmo período do ano passado.

As scooters são um tipo de moto que tem câmbio automático e na qual o condutor vai sentado. Caracterizam-se por serem fáceis de pilotar, em função da ausência de embreagem e marchas. Também têm compartimento sob o assento, que funciona como uma espécie de “porta-malas”, onde o condutor pode levar suas coisas enquanto pilota, ou pode guardar capacete e jaqueta, ao estacionar.

Elasjá representam 9,8% dos veículos de duas rodas vendidos no Brasil neste ano. As mulheres são cerca de 30% entre os consumidores das scooters.

“As scooters estão, definitivamente, escrevendo uma nova página na mobilidade urbana brasileira. Elas vêm trazendo para as ruas novos usuários e usuárias, que praticam a conveniência sobre duas rodas em um veículo que ocupa pouco espaço, é amistoso, seguro, tem baixo consumo de combustível e impacto em termos ambientais e é democraticamente acessível”, afirma Alexandre Cury, diretor comercial da Honda Motos.

Economia de combustível

Além de serem fáceis de operar, as scooters também conquistam muitos motociclistas como solução de mobilidade urbana pela economia de combustível. Modelos como a Honda ADV 150, por exemplo, rodam cerca de 40 km com um litro de gasolina.

Outro atrativo para quem troca o carro por uma scooter, segundo as fabricantes, é o design. Os modelos mais vendidos do país todos têm farol de LED e a campeã, Honda PCX 150, tem painel digital que até lembra o do automóvel Honda Civic.

Muitas, como a Yamaha NMax 160, também oferecem sistema de freios ABS, que evita o travamento das rodas em frenagens emergenciais, proporcionando mais segurança aos novos motociclistas. Pela legislação brasileira, o item é obrigatório apenas em modelos acima de 300 cc.