Prejuízo anual com vandalismo supera R$ 1,2 milhão só na CPTM | Mobilidade Estadão | Mobilidade como Serviço

Buscando sugestões para:


Prejuízo anual com vandalismo supera R$ 1,2 milhão só na CPTM

Por: Mário Curcio . 01/12/2022

Publicidade

Meios de Transporte

Prejuízo anual com vandalismo supera R$ 1,2 milhão só na CPTM

Problema cresceu em 2022, assim como ataques a ônibus da região metropolitana

5 minutos, 21 segundos de leitura

01/12/2022

Por: Mário Curcio

Ônibus foi cercado e depredado por frequentadores da Cracolândia, no centro de São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Embora não exista uma conta única para todos os prejuízos causados pelo vandalismo contra a mobilidade urbana, o problema exibe alguns números expressivos. De janeiro a outubro de 2022, R$ 1,21 milhão foram gastos com reparos no sistema elétrico e sinalização apenas nos trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Em todo o ano passado esse custo chegou a R$ 1,28 milhão. O valor total de 2021 ante o acumulado de 2022 revela que o gasto mensal com reparos subiu de R$ 107 mil para R$ 121 mil de um ano para outro.

Os números são da Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM), que também indicam 168 ônibus vandalizados de janeiro até a metade de novembro de 2022. Em todo o ano passado foram 160 veículos.

Vale dizer que os dados relativos aos ônibus se referem apenas à frota da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). São ônibus que circulam da capital paulista para municípios vizinhos ou entre estas cidades ao redor. Não há informações do tipo sobre os 12,5 mil veículos que rodam somente na capital paulista.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos destaca que muitos recursos “poderiam ser investidos integralmente na aceleração de obras e melhorias, mas acabam realocados para reparar danos”, o que significa que a qualidade do transporte seria melhor se não houvesse vandalismo.

Em dez anos, 2.274 ônibus queimados

Outro dado relevante são os 2.274 ônibus incendiados somente nos últimos dez anos, de acordo com levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Considerando R$ 750 mil como valor médio de cada veículo, o prejuízo só nesse período passou de R$ 1,7 bilhão.

Segundo Eurico Galhardi, autor de “Fogueiras da Insensatez – Por que Queimam os Ônibus no Brasil”, os custos de um ônibus incendiado são integralmente pagos pelos empresários do setor de transporte.

Danilo dos Santos, gerente de operação da Santa Brígida, confirma o problema. “Tivemos um carro parcialmente incendiado há poucos dias. O reparo ficará por nossa conta”, diz. O executivo lamenta os estragos. “Para nós, os problemas com vandalismo são mais comuns nos fins de semana, nas saídas dos bailes. Em regra riscam vidros, cortam bancos e fazem pichações com pincel atômico. Normalmente, os vândalos agem em grupo. O problema também ocorre entre estudantes”, afirma Santos.

As atitudes em grupo são explicadas em “Fogueiras da Insensatez”. Segundo a psicóloga Mary Scabora, um indivíduo frágil pode se sentir corajoso com outras pessoas reunidas e consegue até mesmo contagiar aqueles à sua volta. Ele se torna impulsivo, por causa das emoções ampliadas naquele momento, e perde o senso crítico, a capacidade de julgamento.

Mortes e ferimentos graves

A partir de pesquisas da NTU e do apoio da Confederação Nacional do Transporte (CNT), “Fogueiras da Insensatez” já apontava em 2018 um total superior a 4.300 ônibus incendiados no Brasil. Os ataques resultaram em 20 mortes e mais de 60 pessoas gravemente feridas.

Inflação descontrolada, ações do crime organizado e protestos contra o reajuste de tarifas foram alguns dos motivos desses incêndios. A falta de rigor na punição aos culpados explica, segundo o autor, o maior número de coletivos queimados no Brasil que em outros países.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informa que atos de vandalismo contra o transporte público se enquadram no artigo 163 do Código Penal, como crime de dano ao patrimônio público. A pena é a detenção de seis meses a três anos. Quando publicou a obra sobre os incêndios, Galhardi relatou ser improvável que alguém envolvido diretamente fosse preso ou ficasse detido por alguns meses.

A CPTM informa que a pena chega a 12 anos de reclusão para quem “impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro”. A companhia investe em rondas de tempo integral como forma de prevenir os furtos de cabos e tem ajuda das Polícias Militar e Civil.

A operação do Metrô aposta na modernização de sua rede de monitoramento, que já conta com mais de 5 mil câmeras integradas. E quem percebe um ato de vandalismo pode enviar mensagem pelo SMS-Segurança (11 97333-2252) ou pelo aplicativo MetroConecta, sempre com garantia de anonimato.

Segundo a STM, os problemas mais comuns no Metrô são vidros riscados, furto ou quebra de extintores e danos a lixeiras. O furto de cabos de energia também afeta as linhas 4 Amarela e 5 Lilás do Metrô.

Menos bikes na rua

A maior empresa de micromobilidade na cidade de São Paulo é a Tembici, responsável pelas bicicletas com patrocínio do banco Itaú. “São 2.700 bikes e 260 estações, funcionando 24 horas nos sete dias da semana”, afirma Gabriel Reginato, diretor de negócios da Tembici.

Para reduzir o problema do vandalismo, todas as bicicletas recebem rastreador GPS, alarme e a Tembici adota medidas de segurança complementares, como parcerias com a segurança pública. A utilização de estações fixas também ajuda a reduzir danos.

Em 2018, a cidade de São Paulo viu chegarem as bicicletas Yellow, que não tinham estações. O usuário liberava a bike pelo aplicativo ao custo de R$ 1,00 a cada 15 minutos e pedalava de onde ela estivesse até sua casa ou trabalho. Muito conveniente. A operação começou com 500 unidades e a intenção de chegar a 20 mil até o fim daquele ano.

Mas nos primeiros dias já chamava a atenção a quantidade de bicicletas danificadas. A empresa chegou a renovar a frota, substituindo rodas e freios por peças mais resistentes. Mas em janeiro de 2020 acabou recolhendo todas as bicicletas.

Daniel Guth, diretor-executivo da Aliança Bike, também atribui o fim da Yellow ao modelo de negócio: “A operação é cerca de dez vezes mais cara sem as estações fixas, porque também é preciso recolher e levar as bicicletas aos locais de maior procura.”

Guth recorda ainda que a operação não se sustentava por causa do baixo valor do aluguel. “Esse tipo de operação não se paga apenas pela bilhetagem, a não ser que tenha um custo muito alto para o usuário.” Guth acredita que os problemas com vandalismo sejam piores em outras cidades: “Em Paris, no ano de 2019, até mil bicicletas por semana eram danificadas.”

De 1 a 5, quanto esse artigo foi útil para você?

Quer uma navegação personalizada?

Cadastre-se aqui

0 Comentários


Faça o login