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Sinistros com motociclistas: 90% dos acidentes ocorrem em vias sem radares ou fiscalização

Por: Arthur Caldeira . Há 4h

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Sinistros com motociclistas: 90% dos acidentes ocorrem em vias sem radares ou fiscalização

Levantamento também mostra que 63% dos acidentes acontecem próximos à residência da vítima

5 minutos, 3 segundos de leitura

16/10/2025

sinistros com motociclistas
A pesquisa analisou 329 vítimas atendidas no Centro Hospitalar Municipal de Santo André, região metropolitana de São Paulo. Foto: Adobe Stock

Nove em cada dez sinistros com motociclistas em Santo André (SP) aconteceram em locais sem fiscalização eletrônica, revela um estudo inédito do Instituto Cordial, em parceria com a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) e apoio da Uber. O levantamento analisou 329 vítimas atendidas no Centro Hospitalar do Município de Santo André (CMH) entre janeiro e setembro deste ano. De acordo com o DataSUS, o CMH tem um dos maiores números de atendimentos a vítimas de sinistros com moto na Região Metropolitana de São Paulo.

O estudo sobre sinistros com motociclistas também mostra que 63% dos acidentes ocorreram em trajetos curtos, a até 5 km da casa da vítima. Outro dado relevante é que quase três em cada cinco motociclistas não tinham relação com a geração de renda no momento do sinistro. Entretanto, 42% dos acidentados afirmam que trabalham com entregas ou são motoboys, mas não exerciam a atividade no momento do sinistro.

Veja também: 7 iniciativas para reduzir mortes e acidentes com motociclistas

Infraestrutura viária é fundamental

De acordo com o estudo, 90% dos sinistros ococrreram em visas sem fiscalização, enquanto 81% dos acidentes ocorreram em vias sem limite de velocidade sinalizado. Para Luis Fernando Villaça Meyer, diretor de Operações do Instituto Cordial, os números reforçam a importância da sinalização e da fiscalização na prevenção de acidentes de trânsito.

“A ausência de fiscalização eletrônica e de sinalização adequada cria um ambiente permissivo. Esses dados mostram que precisamos repensar a forma como estruturamos a mobilidade urbana. Não se trata apenas de punir, mas de criar sistemas seguros que reduzam a probabilidade de erro e, principalmente, a gravidade das consequências”, afirmou Meyer.

Para Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet, os números confirmam a vulnerabilidade do motociclista. “Entre todos os usuários das vias, ele é o mais exposto. Está sujeito às falhas de comportamento de outros condutores e à falta de infraestrutura. Proteger quem está sobre duas rodas é preservar vidas e promover um trânsito mais humano”, acredita o médico.

Perfil dos acidentados

A pesquisa analisou 329 vítimas atendidas no Centro Hospitalar Municipal de Santo André (veja abaixo) e traçou um perfil dos acidentados. A idade média dos motociclistas envolvidos em sinistros é de 31 anos, com tempo médio de habilitação de 12 anos. Ainda assim, 21% não tinham CNH para moto.

“Há muita gente pilotando sem estar habilitada, e a falta de fiscalização acaba permitindo que isso aconteça. Essa é uma mensagem central que a pesquisa nos ajuda a enxergar”, afirmou o presidente da Abramet.

O estudo também revelou que 23% dos entrevistados haviam consumido álcool ou drogas antes do acidente. Nenhum deles, contudo, estava em atividade ligada a aplicativos de entrega ou transporte, de acordo com a pesquisa.

“Compreender as causas e os contextos desses sinistros é fundamental para orientar ações preventivas, tanto na formação de condutores quanto nas políticas públicas voltadas à mobilidade segura”, completou Meira Júnior.

Leia também: Acidentes com motociclistas: custo com internações no SUS foi de R$ 233 milhões em 2024

Acidentes do dia a dia

O levantamento mostra também que 74% dos sinistros ocorreram em deslocamentos simples, como passeios, idas a compromissos pessoais ou caronas. Nenhum dos casos analisados estava ligado a atividades em aplicativos de entrega ou transporte, segundo o levantamento.

Na visão de Meyer, esse dado quebra um estigma. “Há uma percepção de que os acidentes estão sempre ligados ao trabalho em plataformas. O estudo mostra o contrário: a maioria acontece em deslocamentos cotidianos. Isso exige políticas públicas que olhem para todos os motociclistas, não apenas para os profissionais”, afirmou.

A análise territorial indica que 60% dos acidentes ocorreram em vias arteriais de 60 km/h, muitas delas em áreas residenciais. Quase metade dos casos foi registrada em zonas predominantemente de moradia.

Para a Abramet, esse cenário reforça a necessidade de fiscalização local. “Muitos sinistros acontecem em locais sem radares ou sinalização. São informações que precisam chegar aos gestores públicos, porque ajudam a salvar vidas”, disse Meira Júnior.

Próximos passos da pesquisa

A metodologia aplicada em Santo André será replicada ainda este ano em São Paulo (SP) e Fortaleza (CE). Para a Uber, o estudo inaugura uma nova forma de olhar para os sinistros. “Essa pesquisa é um marco, pois apresenta dados que nunca foram vistos antes. Com essa análise, é possível definir ações que mitigam riscos, não só para parceiros da plataforma, mas para todos que utilizam veículos em duas rodas”, afirmou Laura Lequain, head de Uber Moto no Brasil.

O crescimento da frota de motocicletas no País nos últimos 15 anos, intensificado após a pandemia, ajuda a explicar, em parte, o aumento dos sinistros. Entretanto, para o diretor de Operações do Instituto Cordial, o excesso de velocidade é um dos principais fatores de risco para sinistros de trânsito em geral e também com motociclistas. “Precisamos moderar a velocidade nas vias. Não tem discussão sobre isso”, afirma.

Para Meyer, o desafio é transformar os dados em ação. “O Brasil precisa avançar na perspectiva dos Sistemas Seguros de Mobilidade e caminhar para a Visão Zero, a visão de que nenhuma morte no trânsito é aceitável. Esse estudo é um passo importante nessa direção”, concluiu.

Como o estudo foi feito

A coleta de dados ocorreu entre 13 de janeiro e 1º de setembro de 2025, no Centro Hospitalar Municipal de Santo André. A metodologia combinou:

  • Entrevistas presenciais com motociclistas, passageiros, pedestres atropelados e acompanhantes;
  • Prontuários médicos de áreas como cirurgia geral, ortopedia e neurocirurgia;
  • Relatórios do SAMU, anexados aos prontuários para detalhar as circunstâncias do atendimento.

No total, foram 329 entrevistas: 261 com motociclistas, 34 com passageiros, 23 com pedestres e 11 com acompanhantes. Esse cruzamento de informações permitiu identificar padrões e causas que não aparecem em levantamentos públicos tradicionais

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