Como tornar as cidades mais seguras para as mulheres?
País carece de políticas para proteção do público feminino; iniciativas como projeto Nina tentam mudar esse quadro
3 minutos, 1 segundo de leitura
27/09/2022
Por: Patrícia Rodrigues
As mulheres precisam lidar diariamente com medo, insegurança e violência nos deslocamentos do seu dia a dia. Essa dificuldade imposta nos espaços públicos da cidade diminui a participação feminina em atividades profissionais e também de lazer. Impacta, ainda, negativamente em sua saúde e em seu bem-estar.
Para Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, as políticas públicas precisam ser reestruturadas, especialmente nas áreas de periferia, onde falta transporte público de qualidade, além de calçamento e iluminação. “Ter receio de andar no próprio bairro ou no transporte público só acontece porque há uma falta permanente de rede de proteção.”
“Não se veem ações para a transformação da infraestrutura e da segurança e também não há muita divulgação de campanhas nos meios de comunicação e redes sociais para, de fato, combater, constranger e punir assediadores, além de dar acolhimento e suporte reais às vítimas”, acrescenta.
No Brasil, as mudanças têm acontecido especialmente por causa de ações individuais de outras mulheres. Como é o caso da empreendedora pernambucana Simony Cesar, criadora do projeto Nina. A iniciativa oferece consultoria em mobilidade de gênero e também tecnologia para auxiliar no planejamento de políticas urbanas de forma a garantir uma experiência de cidade mais igualitária.
“A Nina só existe porque, infelizmente, o assédio e a importunação sexual existem e, muitas vezes, não há transparência por falta de dados oficiais”, afirma a idealizadora.
Por causa dessa ação, desde 2019 todos os ônibus de Fortaleza (CE) têm pelo menos três câmeras que auxiliam vítimas e testemunhas a denunciar ocorrências. Só nos primeiros 12 meses do projeto-piloto, foram quase duas mil denúncias de assédio sexual nos coletivos urbanos — média superior a cinco ocorrências por dia apenas entre os casos registrados em Fortaleza.
Em setembro deste ano, a prefeitura de Fortaleza lançou o Nina 2.0, ampliando as funcionalidades da ferramenta de denúncias de assédio sexual no transporte público (acessada pelo Aplicativo Meu Ônibus) também por WhatsApp, no número (85) 93300-7001.
Na capital paulista, algumas iniciativas também foram criadas nos últimos anos para conter essa violência.
No Metrô, por exemplo, há agentes de segurança nas estações das linhas 1 (azul), 2 (verde), 3 (amarela) e 15 (prata), e o SMS para denúncia (11) 97333-2252. Também há o aplicativo Conecta, em operação desde 2017. Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o serviço é acionado pelo SMS (11) 97150-4949 e, no caso dos ônibus da capital paulista, a vítima deve comunicar o cobrador ou motorista, além de ligar para o telefone 156.
A pesquisa Percepções Sobre Segurança das Mulheres nos Deslocamentos pela Cidade, feita pelos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão com apoio da ONU Mulheres e Uber, divulgada em outubro do ano passado, revelou que 81% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência como importunação e assédio sexual em seus trajetos.
“Além da questão da segurança como um todo na sociedade, muitas não conseguem nem reagir quando algo acontece, o que se reflete em poucas denúncias”, lembra a diretora. “Elas se sentem desacreditadas, envergonhadas, com medo de represálias porque normalmente, em casos de violência, já há a falta de sensibilização e de treinamento para o atendimento e acolhimento dessas vítimas. E, pior: elas sabem que os agressores quase nunca são punidos.”
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