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Infraestrutura precária torna acidentes de trânsito mais fatais

Por: Arthur Caldeira . 25/05/2021

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Infraestrutura precária torna acidentes de trânsito mais fatais

Geometria inadequada, problemas de sinalização e pavimentação ruim causam altos índices de morte

6 minutos, 9 segundos de leitura

25/05/2021

Por: Arthur Caldeira

Conteúdo produzido em parceria com o Observatório Nacional de Segurança Viária
Mobilidade Estadão, uma marca laço amarelo
Problemas no pavimento das rodovias é um dos principais motivos de acidentes grave. Foto: Getty Images

Acidentes rodoviários ocorrem por diversos fatores. De acordo com estudo do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação, publicado no ano passado, 53,7% dos acidentes nas rodovias federais, entre 2007 e 2016, foram causados por falha humana – 30,3%, por infração das leis de trânsito e 23,4% indicam falta de atenção do condutor.

“Temos um sério problema de notificação das vítimas de acidentes nas rodovias. Como o policial rodoviário não é perito especializado, não é feita nenhuma perícia dos acidentes. Com isso, grande parte dos culpados acaba sendo o condutor”, afirma Bruno Batista, diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT). 

Em 2018, a CNT publicou o estudo Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura, que relacionou as características da infraestrutura viária (estado geral, sinalização, pavimento e geometria da via) com os acidentes com vítimas registrados pela Polícia Rodoviária Federal, em rodovias federais. A conclusão é de que problemas de geometria da via (falhas no projeto ou na adequação da capacidade), de sinalização (inexistência ou informação incorreta devido a problemas de implantação e de manutenção) e do estado do pavimento também são causas determinantes na ocorrência de mortes e acidentes nas estradas.

“Nossas rodovias são antigas. Foram construídas há mais de 40 anos”, afirma o diretor executivo da CNT. Projetadas, em sua maioria, na década de 1970, as estradas federais levavam em conta análises e projeções ultrapassadas nos dias de hoje. “A frota cresceu de forma exponencial nas últimas décadas e as rodovias não foram modernizadas nem adequadas para suportar a quantidade de tráfego, atualmente”, explica Batista.

Como exemplo, ele cita as rodovias radiais, ou seja, aquelas que começam com “0”, caso da BR-040, que liga Brasília (DF) ao Rio de Janeiro (RJ), ou a BR-050, que sai da capital federal rumo à cidade de São Paulo (SP). Em sua maioria, são rodovias de pista simples e apresentam diversos problemas de infraestrutura. “Dessas vias, 48% têm problema de sinalização; em 52,4% da extensão, há algum defeito na pavimentação, como buracos”, comenta o diretor executivo da CNT.

A grande preocupação é que a infraestrutura deficiente torna as ocorrências de trânsito mais fatais. Prova disso é a média de mortes por 10 quilômetros. “Em rodovias em que a geometria é considerada boa, esse índice é de 7,3 mortes a cada 10 quilômetros; já nas rodovias classificadas como ruins, sobe para 33 mortes a cada 10 quilômetros”, exemplifica Batista.

A sinalização também é outro fator determinante para a ocorrência de acidentes fatais. Nos trechos com sinalização considerada péssima, são 13 mortes a cada 100 acidentes – onde a sinalização é ótima, o número cai para 8,5.

Pistas simples são mais perigosas

Outro dado alarmante, revelado pelo estudo da CNT, é que 58,1% dos acidentes, entre 2007 e 2017, ocorreram em rodovias de pista simples, em que um erro pode ser fatal. E, para piorar, 47,7% dos acidentes e mortes nas rodovias foram registrados em locais com problemas de pintura na faixa central. “Colisões frontais, um tipo de acidente muito grave e, geralmente, fatal, têm relação direta com a má sinalização”, alerta Bruno Batista.

O executivo ainda cita mais um dado preocupante sobre a sinalização precária nas rodovias federais. Segundo a pesquisa revelou, em trechos em que não há placas do limite de velocidade, por ausência ou mau posicionamento da sinalização, o risco de morte dobra.

Rodovias que perdoam

“Ainda que haja falha humana, a via deve apresentar estrutura capaz de permitir que o motorista se recupere do evento e prossiga de forma segura, modificando a consequência da sua atitude ou, caso seja impossível a reversão total da situação, que, ao menos, ele reduza a gravidade do acidente”, defendeu Batista, na época da publicação do estudo da CNT.

O conceito, explicitado pelo diretor executivo da CNT, é conhecido como “rodovias que perdoam” e pode ser resumido como uma forma de evitar os acidentes e mitigar as suas consequências por meio da adequação da infraestrutura rodoviária aos erros humanos na condução. 

Recente estudo (Rodovias que perdoam – Brasil), divulgado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), debruçou-se sobre o tema. A pesquisa começou em setembro de 2019, e envolveu mais de 40 técnicos de 60 empresas, entidades e órgãos públicos, que pesquisaram o que há de mais moderno sobre esse conceito em muitos países.

“O conceito é novo no Brasil; afinal, estamos atrasados na implantação de políticas de segurança viária”, frisa Bruno Batista, da CNT, uma das entidades que apoiaram a pesquisa.

“Tornar as rodovias do País seguras, ou seja, que ‘perdoem’ as possíveis falhas humanas, é um conceito internacional e adotado em muitos lugares”, afirmou José Aurélio Ramalho, diretor-presidente do ONSV, em recente artigo publicado no portal Mobilidade, do Estadão.

O estudo traçou nove metas prioritárias para tornar as estradas brasileiras mais seguras. São, em geral, soluções de baixo custo e de rápida adoção para que trechos considerados perigosos deixem de ser palco de acidentes fatais.

Ramalho escreve que, “com um investimento de R$ 500 milhões, daria para implantar três soluções – instalação de defensas, sonorizadores e cilindros delimitadores (balizadores flexíveis) –, com as quais seria possível reduzir pela metade as mortes  registradas, atualmente, nas rodovias federais e ter 30% a menos do total de feridos graves, no prazo de um ano”.

Como efeito de comparação da importância do investimento público ou privado, por meio de concessões, para reduzir o número de acidentes graves e fatais, o diretor executivo cita dados recentes, de 2020. No ano passado, o Brasil gastou R$ 10,2 bilhões com acidentes de trânsito; por outro lado, o governo investiu somente R$ 6,7 bilhões na melhoria da infraestrutura viária. “É bom que tratemos desse assunto. Os números de acidentes e vítimas no trânsito brasileiro são inaceitáveis em pleno 2020”, conclui Bruno Batista.

Destaques numéricos 

– Sinalização com problema é responsável pelo maior número de mortes. Nos trechos com sinalização considerada péssima, são 13 mortes a cada 100 acidentes. Onde ela é ótima, o número cai para 8,5
– Acidentes em pistas simples representam 58,1%
47,7% dos acidentes e mortes ocorrem em trechos com problemas de pintura da faixa central (desgastada ou inexistente)
– Rodovias com traçado ruim matam mais. Nos trechos em que a geometria da via é considerada ótima (33,5 acidentes por 10 km de extensão), há mais acidentes do que nos locais em que é péssima (7,3 acidentes por 10 km de extensão). Entretanto, o índice de mortes é bem maior onde o traçado é péssimo. Nas rodovias em que a geometria é ruim, são 13,3 mortes por 100 acidentes. Nas ótimas, são 7
Ausência de placa de limite de velocidade dobra o risco de morte. Onde as placas são ausentes, o índice de mortes por 10 km de extensão é de 19,9. Onde elas estão presentes, cai para 10,2
Trechos com falta de legibilidade das placas (sinalizações difíceis de ler) aumentam em 19,6% a chance de óbitos por acidente em relação aos locais em que elas estão legíveis

Fonte: Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura (CNT, 2018)

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