10 ações para melhorar a mobilidade nos grandes centros urbanos
Planejar uso do solo, aprimorar transporte público, estimular deslocamento não motorizado e fazer uso racional dos carros individuais estão entre principais diretrizes
Neste ano, o tema do Summit Mobilidade Estadão será “Inovação e Infraestrutura: os caminhos para uma mobilidade sustentável e inclusiva”. O evento, que acontecerá no dia 31 de maio, reunirá diversos especialistas no assunto, que, das 9h às 18h, trocarão ideias e experiências sobre como oferecer à população novas e melhores formas de deslocamento. Confira, a seguir, alguns pontos que farão parte dos debates.
1 – Investimentos em infraestrutura e políticas públicas de transporte
Dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) mostram que os recursos e outros custos associados à infraestrutura para carros e motos são cinco vezes maiores do que os do transporte coletivo – 85% do total, somando gastos em infraestrutura e mortes e internações decorrentes de acidentes e da poluição, contra 15% do transporte coletivo.
Além dos investimentos para tornar o último mais seguro, eficiente, confiável e confortável, e expandir a malha metroferroviária, é preciso fazer com que mais pessoas acessem o serviço. Andar de ônibus custa caro: o preço da tarifa também pesa no bolso dos brasileiros, fazendo com que gastem, pelo menos, 17,66% do salário mínimo (R$ 1.320/IBGE) com transporte público, de acordo com um estudo do Numbeo, banco de dados mundial sobre custo de vida. Dos passageiros cativos por falta de alternativa, 50% pagam, sozinhos, o custo do transporte, sendo que esse valor pesa mais no bolso dos desempregados e trabalhadores, especialmente autônomos e informais não subsidiados pelo vale-transporte ou outro benefício que garanta meia passagem ou gratuidade de locomoção.
2 – Ampliar a mobilidade ativa
Não só com a implantação de ciclovias permanentes e seguras, como acontece em muitas áreas do globo, interligando-as em outros modais, mas dar incentivos a quem vai e volta de bike, pelo compartilhamento ou não, do trabalho ou subsidiar a compra das magrelas.
3 – Tornar as cidades mais seguras e femininas
As políticas públicas precisam ser reestruturadas, especialmente nas áreas de periferia, onde falta transporte público de qualidade, além de calçamento e iluminação. A Pesquisa Origem e Destino, realizada pelo Metrô de São Paulo a cada dez anos na capital paulista, aponta a preponderância do público feminino no transporte ativo e coletivo, com 41% utilizando ônibus, trem ou metrô, e 35% percorrendo a cidade a pé ou de bicicleta. No entanto, as políticas voltadas a elas ainda deixam muito a desejar: 81% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência, como importunação e assédio sexual, em seus trajetos, de acordo com o estudo “Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade”, feito pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, com apoio da ONU Mulheres e Uber, divulgada em outubro do ano passado.
4 – Eletrificação da frota e o novo papel do carro
A eletrificação dos carros particulares com infraestrutura de carregamento compatível contribui para cidades mais sustentáveis, diminuindo a emissão de CO2 na atmosfera, mas é preciso expandir esse movimento ao transporte de massa, além de ressignificar o papel do carro na sociedade: a frota brasileira de automóveis quase quadruplicou, nas duas últimas décadas. Somente entre 2013 e 2019, a demanda por ônibus caiu mais de 26%, resultando em mais congestionamento, poluição e perdas econômicas.
5 – Reduzir a circulação nas zonas centrais
Londres, por exemplo, figura entre as cidades que cobram pelo acesso de carros às regiões centrais, assim como São Francisco (EUA), que precifica o estacionamento em vias públicas de acordo com a demanda por vagas. Esses são alguns dos exemplos que tornaram o uso do transporte coletivo mais barato do que ir de carro, gerando recursos para uma cidade mais sustentável.
6 – Compartilhamento de corridas
Já não faz mais sentido um carro circular com apenas uma pessoa. Por isso, uma medida para otimizar o espaço dentro dos veículos é compartilhar corridas – seja por meio da carona, seja por aplicativos que otimizam as rotas, barateando o custo das viagens.
7 – Melhor gestão de dados
A tecnologia é fundamental para a conectividade e transformação das cidades. Utilizar as informações geradas (dados) pelo trânsito não só para fugir do congestionamento e encontrar os melhores trajetos mas sincronizá-los com semáforos, por exemplo, para diminuir o tempo gasto nas vias mais congestionadas, oferecer soluções de deslocamento, integrando diferentes modais, mais personalizados e com o menor custo, além de reduzir a incidência de acidentes.
8 – Cooperação da iniciativa privada
A mobilidade também deve ser parte das políticas ESG na agenda das empresas, seja com a flexibilização dos horários, nos modelos de trabalho híbridos, seja no home office ou oferecimento de transporte corporativo não poluente e/ou caronas seguras para estimular a adoção de uma cultura de deslocamento mais sustável entre seus funcionários.
9 – Diminuir os índices de mortalidade no trânsito
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem por ano no mundo. Além dos investimentos em infraestrutura e políticas de conscientização, é preciso combater as principais causas, como excesso de velocidade, uso de drogas e utilizar celular ao volante, diretamente ligadas ao não cumprimento das leis. Em 2020, as lesões de trânsito foram responsáveis por mais de 190 mil internações, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Dessas, cerca de 61% são de motociclistas, que passaram de 3,9 por 10 mil habitantes para 6,1 por 10 mil habitantes, entre 2011 e 2021 – um aumento de 55%, considerando somente a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e conveniados. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas em 2021, o custo com esse tipo de internação chegou a R$ 167 milhões.
10 – Inclusão e responsabilidade
O uso do solo, das ruas e das cidades é para todos, estimulando uma convivência pacífica, respeitosa, solidária, responsável e segura para todos os atores em seus deslocamentos. Essa conscientização deve começar na primeira infância, como disciplina integrada no ensino fundamental, e, posteriormente, passando também pela melhor – e continuada – formação de condutores profissionais.
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