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A dama de ferro

Por: Ju Cabrini . 08/03/2022

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A dama de ferro

Na Nissan Américas, brasileira ocupa um dos cargos mais relevantes da atualidade

6 minutos, 39 segundos de leitura

08/03/2022

Por: Ju Cabrini

Executiva está baseada na sede da Nissan para as Américas, em Nashville, EUA. Foto: Divulgação Nissan

Curitiba, 2010, os funcionários estavam em polvorosa. Um novo presidente, vindo dos Estados Unidos, aportava na Nissan do Brasil e trazia consigo três dos seus pupilos. A missão do esquadrão era preparar o terreno para a implantação de uma nova fábrica para o lançamento do primeiro Nissan popular, o March.

A única representante da trupe do gênero feminino era uma brasileira, que havia feito carreira na terra do Tio Sam. Lembro-me da primeira vez em que a vi (a jornalista autora deste texto trabalhou na Nissan entre 2005 e 2014). Uma figura esguia, cabelos longos e pretos, cerca de 1,60 metro de altura, acrescidos pelos saltos agulha, olhava nos olhos e tinha o andar firme, de quem sabia aonde queria chegar. Veio-me à cabeça a imagem da dama de ferro, alcunha dada à ex-primeira-ministra do Reino Unido Margareth Thatcher (que ocupou o cargo por 11 anos, de 1979 a 1990), pelo seu estilo rígido de comandar o País.

Aos poucos, Ana Paula Serra, então chefe de marketing de produto, foi se mostrando e deixando de lado aquela impressão intimidadora. Sim, ela era extremamente objetiva, mas não rígida. Pelo contrário, era de uma empatia ímpar, característica difícil de se ver no mundo corporativo. Pode parecer bobagem, mas nunca me esqueço de uma recomendação que fez durante uma reunião. “Existe muita troca de e-mails, isso acontece porque eles não são objetivos. É preciso ser claro no que vocês querem. Enumerem as necessidades e concluam”, decretou.

É, Serra sabia mesmo aonde queria chegar. Jornalista, formada pela PUC-SP, pós-graduada pela ESPM, mãe de dois adolescentes, atua há quase 20 anos como executiva da Nissan. Passou por diversas áreas na região até voltar ao local em que tudo começou, os Estados Unidos.

Baseada na sede da Nissan Américas, em Nashiville, no estado do Tennessee, Serra ocupa, atualmente, um dos cargos mais representativos da montadora japonesa na atualidade, é diretora de governança e sustentabilidade da Nissan Américas, responsável por toda a região. Confira, a seguir, o que ela pensa sobre carreira, equidade de gênero, indústria automotiva, sustentabilidade e futuro da mobilidade.

Como foi o começo de carreira em um país estrangeiro?

Ana Paula Serra: Foi desafiador, como qualquer início de carreira. Havia, certamente, uma dose de coragem e curiosidade, o que me fez superar algumas barreiras e insistir num propósito. Estar disposta a ficar desconfortável foi a forma que encontrei para me adaptar.

Em algum momento sentiu preconceito por ser brasileira e mulher em um mercado tão machista?

Serra: Pessoalmente, não, mas o tema é relevante não apenas para a indústria automotiva. Felizmente, há uma mudança gradual, na qual um maior número de mulheres tem acesso a posições de supervisão e gerência – embora ainda poucas cheguem a postos de comando e liderança. Não há dúvida de que os avanços são significativos; porém, ainda temos um caminho longo para garantir acesso pleno e mais equilibrado a mulheres e minorias.

Você passou por diversas áreas da indústria. Quais os principais aprendizados ao longo desses anos?

Serra: É comum acharmos que, para competir com sucesso em um ambiente iminentemente masculino, as mulheres devem adquirir as mesmas competências, habilidades e estilo de gerenciamento. Em um determinado momento da minha carreira, entendi que ter um propósito e objetivos claros era mais importante do que copiar certos comportamentos. Ser leal e autêntica na busca desses objetivos me fez sentir mais confortável comigo mesma e me ajudou a ter coragem para tentar novos desafios, com uma tolerância maior a riscos.

Com mais de 20 anos neste segmento, quais as principais mudanças que observou ao longo do tempo?

Serra: Certamente, a rapidez com que as coisas acontecem, fomentada pela transformação digital, conectividade cada vez maior dos veículos e novos conceitos de mobilidade urbana. Os ciclos de vida dos produtos também tendem a ficar cada vez menores. Particularmente, o Brasil tem um mercado com consumidores muito exigentes e que vêm demandando as mesmas coisas do que regiões maduras têm. Como equipamentos como alertas de colisão, câmera de 360º, itens que a Nissan disponibiliza em seus modelos à venda no Brasil.

A velocidade de chegada das novidades no País, hoje, é muito maior. Do ponto de vista da gestão de talentos, acho que as empresas estão avançando muito em temas de diversidade, equidade e inclusão. Até porque diversidade é um componente fundamental para empresas inovadoras.

Em 2021, você assumiu uma das cadeiras de mais destaque do momento, a de governança e sustentabilidade. Existe pressão muito grande por resultados?

Serra: A pressão é menor sobre minha performance individual e mais forte em relação aos planos de ações e na forma como as organizações, governos e sociedade irão se mobilizar para mitigar e reverter os efeitos de emissões contínuas de gases do efeito estufa e da má utilização de recursos naturais. Esse é um esforço coletivo, e não apenas de uma entidade ou setor específico.

O que a Nissan vem fazendo nesse sentido?

Serra: A montadora está comprometida com a criação de novas formas de mobilidade urbana para combater as mudanças climáticas. Temos a meta de ser uma empresa neutra em emissão de carbono até 2050, incluindo todas as operações e o ciclo de vida dos produtos. Estamos reduzindo as emissões de CO2 por meio da eletrificação dos veículos, com foco significativo na inovação das baterias.

Até 2030, 40% das vendas nos Estados Unidos serão de veículos eletrificados. Como parte do plano global, a companhia tem levado seus carros elétricos a diversos mercados. E o Brasil é um deles. Em 2019, o Nissan Leaf foi lançado, comercialmente, e se transformou no modelo 100% elétrico mais vendido no Brasil, em 2021. Além do foco na eletrificação, a empresa também criou, há 20 anos, o Nissan Green Program, que monitora e desenvolve uma série de ações de longo prazo relacionada ao meio ambiente.

Como a companhia está se preparando para o mercado do futuro?

Serra: Ela é pioneira na eletrificação de veículos fabricados em massa, e esse é o pilar central da estratégia de longo prazo da empresa. Recentemente, foi anunciado o plano Nissan Ambition 2030, que tem como principal ponto acelerar a eletrificação da sua linha de veículos e o nível de inovação tecnológico, com investimentos de 2 trilhões de ienes nos próximos cinco anos.

Dentro desse plano estão os investimentos anunciados, recentemente, no Reino Unido e nos Estados Unidos, para a fabricação de novos produtos (um na Inglaterra e três nos Estados Unidos). A Nissan também revelou, há pouco tempo, que trabalha para ter baterias de estado sólido nos seus veículos, no final dessa década, para que o custo por kW/h das baterias seja menor e que a autonomia dos veículos cresça, além de diminuir o tempo de recarga dos carros elétricos.

Como a companhia enxerga a mobilidade elétrica no País?

Serra: No Brasil, estamos na segunda fase do plano de eletrificação. Após o lançamento do Nissan Leaf, em 2019, inicialmente, vendido em sete revendas do Sul e Sudeste. Agora, o modelo pode ser encontrado em 44 concessionárias de todo o País, ampliando o acesso ao modelo e à eletrificação. Temos o compromisso de disseminar a mobilidade elétrica no Brasil e desmitificar a tecnologia e sua utilização. Para isso, é importante que o País tenha uma política de eletrificação clara e que permita às empresas desenvolverem planos de médio e longo prazos, assim como já acontece nos principais mercados mundiais.  

Foto: Divulgação Nissan

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