Ataques a ônibus em SP: onda de violência continua, ao menos 141 veículos foram apedrejados
Ataques ocorrem em diferentes regiões da capital paulista e do ABC há uma semana; motivo dos atos de vandalismo é incógnita. Para presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos, “é um caso de polícia e falta punição aos vândalos”

Chegou a 141 o número de ônibus alvos de vandalismo na região metropolitana de São Paulo desde o dia 12 de junho, segundo informações da SPTrans e do Sindicato das Empresas de Ônibus do ABC (Setc-ABC). Novos ataques ocorreram na quarta, 18, e quinta-feira, 19, em Diadema, no Corredor Metropolitano ABD (São Mateus-Jabaquara).
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Polícia Militar prendeu em flagrante um homem de 41 anos na quinta-feira, 19, em pleno dia de feriado de Corpus Christi. Ele teria acertado pedras em seis ônibus na Avenida Antônio Piranga, em Diadema, até ser rendido por um motorista e entregue, a seguir, às autoridades.
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A série de ataques a veículos do transporte público instaurou clima de medo e insegurança entre motoristas e usuários nesta última semana, com apedrejamentos diários a ônibus que levavam passageiros. Foram 78 ocorrências na zonas sul, leste, norte e oeste da capital paulista e, além disso, 63 nos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires.
Ataques impactam operação dos ônibus na cidade de SP e no ABC
O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) disse, em nota, que “as ações violentas colocam em risco a segurança dos passageiros e dos profissionais e afetam a operação normal das linhas do transporte público”. As empresas têm buscado, nesse sentido, fazer a reposição do material ou equipamento rapidamente, segundo a entidade.
Todas elas têm ônibus reservas, por obrigação contratual, equivalentes a 8% da frota, que é de 13.340 veículos, de acordo com dado mais recente da SPTrans. Considerada essa porcentagem, há, portanto, ao menos mil veículos estacionados nas garagens e que podem ser utilizados para substituir os depredados.
“As ações são lamentáveis e trazem preocupação às empresas associadas. Os últimos acontecimentos causaram sérios prejuízos às empresas concessionárias, atingindo grande quantidade de veículos”, disse, ainda, a SPUrbanuss.
Os primeiros casos registrados ocorreram na quinta-feira passada, 12 de junho, nas avenidas Edgar Facó e Ermano Marchetti (zona oeste da cidade) e Rodovia Anhanguera, segundo o sindicato das empresas de ônibus da capital paulista. Os ataques se intensificaram no último final de semana, 14 e 15, e continuaram ao longo desta semana. Em nota, a SPTrans afirmou que as concessionárias afetadas foram Santa Brígida, Gato Preto, A2, Pêssego, Ambiental, Transpass, Metrópole Paulista, Transunião, Express, Via Sudeste, Mobibrasil e, além disso, Campo Belo, nas regiões norte, leste e sul da capital.
O que explica a onda de violência aos ônibus?
Até o momento, falta esclarecer o motivo dos ataques e se houve coordenação entre eles. As ocorrências seguem sob investigação pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil. Na cidade de São Paulo, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) afirma, além disso, ter reforçado o patrulhamento nas regiões onde elas ocorreram.
Para o CEO da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam, o problema em casos como este não é, necessariamente, o transporte público. A entidade monitora dados sobre incêndios a ônibus – não há dados para apedrejamento – desde 2004. E eles chegaram, assim, à conclusão de que a explicação para a maioria dos atos de vandalismo é externa.
“Não se ataca os ônibus porque o serviço de transporte é ruim. Mas para chamar atenção da mídia. Sobretudo quando tem passageiros dentro. Se falta água em um bairro, se há muitos acidentes em uma rua e a CET não foi fazer manutenção do semáforo, se mataram o chefe do tráfico na comunidade, tudo isso pode gerar esses problemas”, explica, nesse sentido. “Pode ser um manifesto, uma represália, uma tentativa de chamar atenção. O que sabemos é que é um problema de polícia.”
Foram incendiados 2.896 veículos nestes 21 anos de monitoramento, segundo a NTU. A maioria dos casos ocorreu no Rio de Janeiro (529) e, além disso, em São Paulo (475). Somente em 2014, 657 ônibus foram incinerados. Em 2024, o número já caiu para 105. Os dados foram analisados na publicação “Fogueiras da insensatez: por que queimam os ônibus no Brasil”.
Falta punição aos vândalos, diz CEO da NTU
Christovam entende que falta maior punição ao crime de vandalismo a coletivos do transporte público. Há três projetos de leis tramitando na Câmara dos Deputados que propõe ampliar a pena para este crime: o PL 1.572/2007, que endurece penas para ataques a transportes e serviços públicos; o PL 215/2020, que agrava pena a crimes cometidos contra motoristas e veículos; e o PL 5.606/2023, que eleva o crime para ato terrorista, com consequências legais mais severas.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em nenhuma das ocorrências houve feridos.
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