Pelos planos da Prefeitura de São Paulo, os bondes da região central devem voltar a circular: em dezembro passado, o órgão recebeu a liberação de R$ 1,4 bilhão, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, para a implantação de um projeto de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). A ideia é que ele articule bairros como Brás, Bom Retiro e Campos Elíseos, com meta de ser o primeiro movido a hidrogênio no Brasil.
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Batizado de Bonde São Paulo, o modal, que tem previsão de entrega para 2027, está em fase de trabalhos técnicos preliminares e de projetos funcionais feitos pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL). O projeto está recebendo, também, outros estudos urbanísticos e serviços especializados pela SP Urbanismo, como parte do Plano de Requalificação Urbana com Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável.
Em 25 de janeiro, a Prefeitura anunciou a consulta pública para modal e outras ações para a revitalização da região, como a criação do primeiro Distrito Turístico Urbano do Brasil, a regulamentação da nova lei do Triângulo e Quadrilátero e a entrega de 190 apartamentos do Residencial João Octaviano Machado Neto.
Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper, enxerga potencial na iniciativa, mas com ressalvas.
“Será positivo se for embutido em um projeto maior, dentro de uma requalificação urbanística”, alerta. Para ele, mesmo sendo um transporte de média capacidade, bonito, moderno e atraente, que convida ao uso e valoriza os imóveis por onde passa, para funcionar como ferramenta para aumentar a atratividade urbana é preciso que o Poder Público adote outras medidas, em conjunto e de forma paralela.
Uma delas seria restringir a circulação de veículos privados e ampliar as ruas para pedestres onde estão os melhores pontos comerciais. “Além disso, remodelar o centro como um todo é ampliar a área para ciclistas, ocupar os espaços à noite, com atividades culturais e de lazer, incentivar o comércio de rua com quiosques, food trucks, ambulantes qualificados, ter a presença da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, câmeras e conexão com o metrô. É ocupar as ruas como acontece com a Avenida Paulista”, analisa.
Outra medida, de acordo com o especialista, é trazer pessoas para viver na região e usufruir desses locais de forma massiva, buscar recursos para requalificar imóveis, comprar terrenos para habitações de interesse social e beneficiar trabalhadores de regiões mais distantes.
“Tão importante quanto requalificar é torná-lo um bairro de moradia, para que as pessoas se sintam seguras caminhando em um lugar já privilegiado de transporte, com atividade econômica durante o dia e com vida à noite”, frisa.
Ele acredita que essas condições são essenciais para que a região se recomponha gradualmente. “Os problemas sociais [a Cracolândia e pessoas em situação de rua] existem porque há vácuo nesse espaço, que precisa acabar. Mas, para isso, o Poder Público precisa atuar para o enfrentamento dessas questões de forma muito holística, com tratamento humanizado.”
Em relação aos parques e espaços livres de relevância acessados pela obra, Avelleda também reconhece a necessidade de revitalizá-los de forma paralela, para que se tornem cartões de visitas. Além disso, a presença VLT não pode desestimular a mobilidade ativa.
A caminhabilidade, explica o especialista, é fundamental para dar segurança e vibração ao comércio, ao mesmo tempo em que diminui o uso de automóveis. “Não pode ser uma maquiagem, mas ser uma obra que venha a reboque de outras mais amplas, que resolvam os vários problemas estruturais da região”, finaliza.
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Fonte: CPTM