Carro alugado ou próprio: qual a melhor opção para motoristas de aplicativo?
Especialistas em finanças avaliam quais condições devem pesar nas escolhas
Quando um motorista decide trabalhar para um aplicativo ele tem duas opções: usar o próprio veículo ou alugar carro. Mas é preciso analisar quando compensa cada modalidade.
De acordo com Carlos Terceiro, CEO e fundador do Mobills, aplicativo para gestão de finanças pessoais, inicialmente o interessado deve avaliar o quanto se gasta para manter o automóvel. Isso inclui custos de combustível, seguro, manutenção (revisão, limpeza, despesas com oficina, troca de óleo e pneus, entre outros), impostos (IPVA e licenciamento), depreciação e custo de oportunidade caso tivesse o valor do bem investido em outro negócio.
“Por isso, ao escolher o carro é essencial que seja econômico, não tenha um valor alto de seguro nem de manutenção das peças”, afirma o CEO da Mobills.
Ele aponta entre as vantagens de ter o carro próprio, o patrimônio com mais liberdade de uso e dependendo do carro e da forma de pagamento, as parcelas mensais podem ser menores do que o valor de um aluguel (e balancear com os custos citados).
Ao optar por alugar carro não haverá preocupação com alguns gastos, porém as parcelas têm um valor elevado, exigindo que o motorista trabalhe com uma maior frequência para arcar com as mensalidades, custos com combustível e uma margem de lucro no final do mês.
O professor de finanças do Insper, Ricardo Rocha, explica que é preciso fazer um controle das contas pessoais de forma simples: somar custos e o que recebe (líquido) do aplicativo. “Quem aluga carro precisa verificar se o caixa gerado pelas corridas paga o aluguel e o combustível e se o que sobra está adequado ao que ele precisa”, avalia Rocha.
Se o motorista estiver desempregado e trabalhando temporariamente com aplicativo, talvez seja mais indicado usar o carro próprio. “Se a pessoa quiser ser motorista mesmo, é preciso avaliar se aquelas corridas pagam todas as despesas que o carro requer, incluindo o seguro e a depreciação. Sem pagar um aluguel, sobra mais. Mas é preciso ter disciplina para guardar dinheiro para os gastos com o carro.”
O professor do Insper chama a atenção para um cuidado extra na hora de alugar ou contratar um seguro: verificar os valores da franquia.
O motorista ainda deve contar com a depreciação. No primeiro ano, o carro perde 20% de seu valor e 10% ao ano nos próximos 5 anos. “Hoje a depreciação está muito maior do que o dinheiro no banco. Não tem um modelo matemático. Mas se eu tiver de sugerir a alguém desempregado, que vai trabalhar como motorista de aplicativo e tem dinheiro para comprar um carro, eu diria: tenta primeiro com aluguel. Manutenção e seguro já estão incluídos”, pondera.
Em suma, Rocha recomenda: “Se for alugar carro, é preciso ter disciplina. E se for usar o carro próprio, guardar dinheiro para pagar IPVA e seguro. E em ambos, lembrar que a franquia é alta.”
Argumentos dos motoristas
Paulo Bolognani é motorista de aplicativo há 4 anos e meio. No começo utilizou seu próprio carro, mas acha que não compensou. “Fiz contas. Rodo 5 mil km por mês. Em um ano seriam 60 mil km. Em dois, 120 mil km. Seria difícil revender um carro de dois anos de uso com essa quilometragem. Além disso, tem manutenção e despesas com IPVA, seguro e os pneus precisam estar em dia.”
Depois de colocar no papel decidiu alugar carro. Hoje ele roda pelo aplicativo Cabify, usa um Ford Ka Sedan e paga R$ 1.660 pelo aluguel, em contrato mensal. Só gasta com combustível (cerca de R$ 400 por semana). A cada 15 mil km a locadora faz a revisão (com direito a um carro reserva) e a cada 30 mil km ele devolve o veículo (que a locadora o revende) e retira outro novo.
Bolognani estabeleceu uma meta para faturar R$ 1.800 líquidos por semana. Para chegar nisso precisa trabalhar em média 12 horas por dia, seis dias por semana e assim atingir R$ 7.200 por mês.
Já Christina Oliveira, que atua há dois anos como motorista da Uber, preferiu comprar seu carro financiado. “Optei por ter um carro meu. Para pagar o aluguel é preciso fazer uma jornada diária de mais de 12 horas”, afirma a motorista, que trabalha no máximo 9 horas por dia, de segunda a sexta.
“Não fiz cálculo porque queria um carro para mim. O valor de um aluguel é o dobro da prestação do meu carro, então acho que sai na mesma. Conheci uma pessoa que bateu o carro alugado e teve de pagar R$ 2 mil de franquia, fora os R$ 1.500 do aluguel. Ele devolveu o carro e ficou com dívida”, explica Christina.
Bruno Renan da Silva, que está como motorista no aplicativo 99 desde o início do ano, também prefere ter seu próprio carro. No começo alugou, depois decidiu financiar um modelo popular 2014 com baixa quilometragem. “A prestação caiu pela metade.” Ainda assim, faz um cálculo: por causa da depreciação e da alta quilometragem, planeja vendê-lo quando tiver um ano de uso.
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