COP-30: estudo inédito investiga por que políticas de mobilidade sustentável não avançam no Brasil
Pesquisa recém-divulgada, feita pelo Cebrap em parceria com o Itaú, analisa dificuldades na implementação de iniciativas de transporte da agenda climática em três cidadess brasileiras, entre elas Belém

Uma pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com o Itaú revela que os desafios para o avanço da mobilidade sustentável nas cidades brasileiras são comuns e, em sua maioria, estão interligados. Batizado de Dificuldades, Barreiras e Possíveis Medidas de Enfrentamento para a Implementação de Políticas de Transporte Sustentável em Três Cidades Brasileiras: Campina Grande (PB); Belém (PA) e Salvador (BA), o estudo se concentrou nos entraves para o fortalecimento de políticas de transporte alinhadas a essa agenda.
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Sua divulgação, às vésperas da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), não foi coincidência. “Uma vez que o setor de transportes é um dos que mais contribui para a emissão de gases poluentes, nos concentramos nessa que é uma área estratégica. Então, detalhar os desafios enfrentados por essas três cidades é o primeiro passo para direcionar medidas necessárias e estratégias de enfrentamento eficazes”, diz Juliana Shiraishi, pesquisadora do Núcleo de Desenvolvimento do Cebrap.
De acordo com ela, as cidades foram escolhidas porque têm propostas ou ações já em desenvolvimento em transporte sustentável.
“E quando falamos isso, não estamos apenas nos referindo à eletrificação. Mas também de um sistema de transporte coletivo aliado a mobilidade ativa e demais políticas que favoreçam formas ambientalmente sustentáveis de se deslocar”, complementa Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú Unibanco.
Mobilidade sustentável no centro da discussão
De acordo com o estudo, uma barreira geral e persistente é a forte cultura do automóvel, que se manifesta na resistência à priorização de modais ativos e coletivos, resultando em infraestruturas viárias que ainda favorecem o veículo motorizado particular. Veja, a seguir, alguns dos destaques do estudo.
Falta de conexão entre bicicletas e transporte público coletivo
De acordo com a pesquisa, esse é um desafio que afeta diretamente a jornada do cidadão, especialmente nas grandes metrópoles. O estudo aponta que, mesmo em cidades com infraestrutura cicloviária reconhecida, caso de Fortaleza (CE), a integração modal é falha.
Além de evidenciar as barreiras, o estudo também propõem alternativas. Nesse sentido, um exemplo mencionado é a destinação da arrecadação da Zona Azul para a infraestrutura cicloviária em Fortaleza (CE). Lá, 100% da verba com a Zona Azul Digital vai para ampliação do programa de bicicletas compartilhadas, além de manutenção de ciclovias e ciclofaixas.
“Os relatos de necessidade de expansão da ciclovia ou a falta de conexão da malha cicloviária com o transporte público apareceram nos relatos de entrevistados de todas as cidades”, diz Luciana Nicola.
Necessidade do transporte público atrair passageiros
O transporte público coletivo enfrenta uma crise generalizada de atratividade e perda de passageiros na maiora das cidades brasileiras, como também nas que foram avaliadas.
“Em Belém, por exemplo, o transporte público é muito utilizado, mas eles vêm com muitas fragilidades operacionais e um desafio institucional na relação entre o poder público e as empresas de ônibus. Por exemplo, lá cerca de 20 empresas de ônibus atuam ao mesmo tempo e e existe uma dificuldade na operação de denominar quem vai operar em qual região. Isso ficou claro em todos os relatos”, diz JuIiana.
Com solução para a crise dos transportes, o estudo destaca que, além da modernização da frota, a solução passa pela ousadia da tarifa zero. E traz exempos de cidades que implementaram a gratuidade no transporte público e estão colhendo os benefícios dessa política pública.
Políticas de desestímulo ao transporte particular
A pesquisa mostra iniciativas com potencial para desestimular o uso do carro, como o estacionamento regulamentado ou Zona Azul. “No entanto, em algumas localidades, sua eficácia está comprometida em por falta de reajuste tarifário, como ocorre em Campina Grande”, diz Juliana.
Também contribuem nesse sentidofragilidades institucionais como carência de dados, a escassez de técnicos qualificados e a baixa autonomia dos órgãos de mobilidade. “Assim como a dificuldade em articular políticas de transporte com a agenda climática de forma orgânica”, completa a pesquisadora do Cebrap.
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