“A Fórmula E é uma plataforma competitiva e relevante para o futuro da mobilidade elétrica, pois impulsiona a tecnologia de carros elétricos que beneficia os motoristas das ruas.” A afirmação de Jeff Dodds, diretor executivo da Fórmula E, soou como celebração do crescimento da categoria, que vem se firmando cada vez mais como laboratório de novas tecnologias a serem transferidas das pistas para a mobilidade elétrica urbana.
A estreia do carro GEN3 EVO, no São Paulo e-Grand Prix, que marcou a largada do campeonato da Fórmula E na temporada 2024/2025, no dia 7 de dezembro, foi mais uma demonstração desse compromisso em prol da descarbonização. Para vencer, o piloto neozelandês Mitch Evans, da equipe Jaguar TCS Racing, lançou mão das melhorias que o carro recebeu em relação ao modelo anterior.
O GEN3 Evo ainda não representa a mudança mais profunda que os monopostos passam em ciclos de quatro anos. Ainda assim, apresenta evoluções significativas. Uma delas é a tração integral, dispositivo usado em alguns momentos da prova, como nos duelos de classificação, na largada e no modo ataque – quando o carro passa por um trecho do circuito para ativar a função que lhe dá potência extra. A tecnologia foi saudada pelos pilotos: “Há sete anos venho reivindicando a tração integral na categoria”, diz o piloto brasileiro Lucas Di Grassi, da Lola Yamaha.
“Durante a construção do carro, sempre pensamos o que pode ser incorporado na eletromobilidade, como a segunda vida e a reciclagem de células de bateria, o reaproveitamento da fibra de carbono e materiais naturais – como linho integrado ao chassi – e o aprimoramento nas recargas ultrarrápidas”, destaca Dods. Hoje, 30 segundos de reabastecimento na Fórmula E aumenta 10% da carga da bateria de 38,5 kW.
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O chefe da equipe Nissan, Tommaso Volpe, acrescenta: “Existe uma ansiedade natural para ver as tecnologias da Fórmula E aplicadas nos veículos convencionais. O aumento de autonomia da bateria é a nossa busca principal, o principal motivo para investirmos tanto na categoria”.
Para Volpe, a autonomia estendida acontecerá nas próximas gerações dos bólidos (e, consequentemente, nos carros elétricos de rua), a ponto de as corridas de Fórmula E, que duram aproximadamente 40 minutos, ficarem mais longas e atrativas. Para se ter ideia, Mitch Evans terminou a etapa de São Paulo com 0% de bateria no seu Jaguar, apesar da regeneração obtida nas frenagens, que recupera de 30% a 40% da carga.
A bateria do carro da Fórmula E pesa 250 quilos, alívio que ajudou no aumento da velocidade. O novo GEN3 Evo acelera de 0 a 100 km/h em 1,82 segundo, melhorando em 36% a marca do antecessor. A velocidade máxima é de 322 km/h.
Acertos da suspensão, da asa, longas horas gastas pelos pilotos nos simuladores das equipes e o novo design dos carros também foram responsáveis pelo desempenho superior dos GEN3 EVO. O ganho de performance chega a 2% em relação ao GEN3.
O GEN3 mal estreou e a Fórmula E não perde tempo na corrida tecnológica, com o desenvovimento do GEN4, próxima geração programada para estrear na 13ª temporada da categoria, em 2026/27. O monoposto deverá trazer inovações que vão impactar o ecossistema completo da eletromobilidade global.
A começar pela capacidade de regeneração de até 700 kW, aumento de potência de 600 kW e melhorias na segurança de ponta. Tais avanços representam novo desafio aos fabricantes, além de oferecer recursos que aceleram o desenvolvimento de veículos elétricos de rua.
Segundo Santo Ficili, diretor executivo da Maserati, o vínculo entre pistas e ruas não tem limites. “A evolução dos monopostos mostra as possibilidades de aperfeiçoamento da mobilidade elétrica”, afirma. “Continuaremos a repassar o desenvolvimento alcançado nas corridas para nossa linha 100% elétrica.”
Para Luciano Nassif, CEO da ABB Brasil, empresa de automação e eletrificação que patrocina a Fórmua E, ainda há um caminho longo para crescer, principalmentenos nos aspectos do aumento da eficiência energética dos carros e do surgimento de sotwares para deixá-los para ainda mais inteligentes.
“Os estudos de novas tecnologias adotadas nas corridas precisam se tornar realidade na vida real da mobilidade urbana, ou seja, no dia a dia do motorista”, defende. “Veja o caso do equipamento de recarga da Fórmula E, que já é utilizado pela Shell em alguns eletropostos das cidades. No final das contas, é disso que estamos falando: de avanços que, acima de tudo, estimulem o usuário a querer andar de automóvel com combustíveis sustentáveis.”
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Os pneus são um capítulo à parte nos carros da Fórmula E. A Hankook, fornecedora exclusiva da categoria, alcançou pico de performance superior ao do modelo anterior, que surpreendeu até mesmo os pilotos. “Precisamos entender esses novos pneus e nos adaptar a eles”, diz Oliver Rowland, da equipe Nissan.
Feito com 35% de materiais reciclados e sustentáveis, o Hankook iON combina fibras resistentes ao calor de 40% nas pistas e borracha natural, unindo desempenho, durabilidade e sustentabilidade. Ele também está mais macio, permitindo um desempenho mais agressivo nas curvas, e de 5 a 10% mais aderente.
“A combinação de curvas técnicas, variações de superfície e mudanças de temperatura cria o cenário ideal para testar os pneus”, explica Jiwoong Choi, gerente do projeto de pneus da Hankook. “Assim, trabalhamos por uma baixa resistência ao rolamento, o que melhora a eficiência energética.”
A Fórmula E já transferiu recursos para os pneus de carros de passeio. O iON evo AS, principal pneu da Hankook destinado aos veículos elétricos, aplica elementos derivados das pistas. O design foi projetado para suportar o peso dos automóveis e tem tecnologia avançada de redução de ruído, denominada i Sound Absorber.