Queda de árvores causada pelos ventos e seu impacto na mobilidade urbana
Vegetação melhora o ar, oferece sombra e conforto térmico, mas precisa de planejamento e melhor distribuição pela cidade de São Paulo
Praticamente toda a chamada Grande São Paulo sofreu, nessa última semana, pelos problemas causados pelos fortes ventos, resultado da aproximação de um ciclone extratropical no litoral brasileiro. Chegando a 74 km/h, a ventania resultou na queda de dezenas de árvores, atrapalhando a circulação de veículos e de pessoas e diminuindo ainda mais a mobilidade e cobertura verde da cidade. Apenas o Corpo de Bombeiros da cidade registrou, em apenas algumas horas do dia 10/08, mais de 200 chamadas por quedas de árvores.
Esse é apenas um dos exemplos da relação entre árvores e mobilidade urbana que, embora tenha muitos desafios, é fundamental para os grandes centros. Quem caminha ou pedala pelas cidades sabe como as sombras são importantes e como elas estimulam a prática desses modais. Mas enxerga, também, que muitas espécies de árvore têm raízes que estouram calçadas, limitam seus espaços e dificultam ainda mais a já difícil vida dos pedestres.
Plano Municipal de Arborização Urbana
De acordo com Giuliana Del Nero Velasco, da Seção de Planejamento Territorial, Recursos Hídricos, Saneamento e Florestas, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 2020, foi lançado o Plano Municipal de Arborização Urbana. “Ele está muito bem elaborado, e tem diretrizes, metas e ações no curto, médio e longo prazo. Só que esse planejamento está muito aquém do necessário, na maioria das cidades”, explica.
De acordo com o plano para valorização da paisagem e para oferecer serviços ambientais fundamentais, as cidades precisam ter árvores de médio porte (de 5 a 10 metros) e de grande porte (10 metros ou mais). Além disso, o planejamento deve considerar maior biodiversidade de espécies para aumento da fauna, especialmente de pássaros. O que ocorre, na prática, é uma distribuição muito desigual de cobertura pela cidade, muitas vezes com espécies que não são as mais indicadas, causando diversos prejuízos à mobilidade das pessoas.
No começo, planejamento
De acordo com Maria Alejandra Devecchi, arquiteta, urbanista e de planejamento urbano da consultoria Ramboll, a arborização da cidade de São Paulo teve sua origem nos projetos de urbanização dos bairros centrais no início do século 20: no Jardim América, foram plantadas tipuanas; no Pacaembu, figueiras; na Avenida Paulista, ipês; e, nos Jardins, cássias, sibipirunas e jacarandás. “A vegetação era escolhida pela ambientação paisagística, pela cor da floração e não havia restrição no uso de espécies não nativas. Muitas dessas árvores ainda persistem nas ruas de São Paulo, mas, em toda tempestade, uma ou outra cai”, explica Devecchi.
Essa iniciativa, segundo ela, foi muito positiva e permitiu a criação de ambientes urbanos agradáveis. Porém, essa organização inicial não continuou com o desenvolvimento de São Paulo. “A cidade que foi construída informalmente, sem planejamento, ocupa, aproximadamente, 50% da mancha urbana e foi feita com calçadas muito estreitas ou sem calçamento. E, portanto, sem vegetação”, completa.
Distribuição desigual
De acordo com uma pesquisa feita em 2017 pelo Laboratório Senseable City, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a cobertura verde de São Paulo é de apenas 11,7%. O estudo mostrou que, enquanto a zona oeste é bem arborizada, encontrar uma sombra na região leste da cidade é uma raridade. Algumas ruas do Alto de Pinheiros chegam a ter 46% de cobertura verde, enquanto, no bairro da Mooca, as vias têm menos de 3%.
“A cidade de São Paulo possui grandes discrepâncias sociais que modelam o ambiente urbano, desigualdades que também se refletem na arborização. Podemos encontrar bairros com boa cobertura vegetal, inclusive mais valorizados do ponto de vista imobiliário, enquanto outros são marcados com a escassez ou a ausência de áreas verdes”, diz Carla Moura, professora de graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental do Senac EAD.
Segundo ela, mesmo nos bairros arborizados, a falta de planejamento é sentida e impacta a mobilidade. “Alguns problemas comuns de espécies não indicadas ao ambiente urbano são árvores de porte muito grande para o local, crescimento que compromete o distanciamento necessário entre calçadas ou mesmo risco de tombamento, caso haja infestação por cupim”, explica Moura.
Impactos positivos
Convivendo entre prédios, pessoas e veículos, a arborização dos grandes centros proporciona diversos benefícios: diminuem a poluição atmosférica e a visual, amenizam a temperatura, ajudam na drenagem urbana e na absorção da unidade. “A árvore, na cidade, é um serviço urbano essencial. Ela está diretamente relacionada à qualidade de vida, ao melhorar o conforto térmico das pessoas, a saúde e o bem-estar”, diz Sergio Brazolin, da Seção de Planejamento Territorial, Recursos Hídricos, Saneamento e Florestas, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Segundo ele, as árvores têm a capacidade de reduzir o escoamento superficial por meio da interceptação das precipitações, com suas copas atuando como guarda-chuvas. “Estudos já mostraram que espécies como a tipuana e a sibipiruna interceptam de 50% a 80% da água da chuva, em suas copas. Além disso, elas são capazes de filtrar até 70% da poluição do ar, retendo os poluentes em suas folhas, evitando a inalação pelas pessoas”, completa. E um último aspecto, não menos importante: “As árvores são capazes de criar bem-estar psicológico”, diz a gerente de planejamento urbano da consultoria Ramboll.
- São Paulo tem apenas 11,7% de cobertura verde e distribuição desigual
- Algumas ruas do Alto de Pinheiros possuem 46% de cobertura; Na Mooca, menos de 3%.
Fonte: Laboratório Senseable City (MIT), 2017
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