Pedro Somma

CEO da Quicko, startup de mobilidade urbana

MaaS: integrar, calcular e mostrar

Foto: Getty Images

02/02/2021 - Tempo de leitura: 3 minutos, 5 segundos

Em meu último texto, destaquei a importância de centralizarmos a mobilidade nas pessoas e como a tecnologia é uma aliada importante nesse processo. O Mobility as a Service (Mobilidade como Serviço) é um conceito novo, mas que já tem diversas iniciativas ao redor do mundo. Hoje, quero falar um pouco mais sobre a questão tecnológica por trás do MaaS e como garantir que ele prospere. 

MaaS é sobre integrar dados

Cada tipo de transporte, como ônibus, metrô, bicicletas compartilhadas e carros por aplicativo, é operado por uma ou mais empresas. Essa diversidade é o primeiro desafio tecnológico: para que plataformas MaaS funcionem, elas precisam integrar os diferentes sistemas. O principal objetivo dessa integração é permitir que a plataforma tenha acesso às informações operacionais dos modais, como posição em tempo real, disponibilidade, número da linha (no caso de transportes coletivos) ou mesmo sentido do movimento. 

Além da complexidade de integrar diferentes sistemas, outro desafio é a padronização desses dados. A maturidade tecnológica varia muito entre os operadores: alguns já disponibilizam em formato GTFS (sigla para Especificação Geral do Feed de Trânsito), o padrão mundial; outros compartilham planilhas estáticas ou não abrem os dados, seja por questões tecnológicas, seja por não estarem convencidos do benefício que isso traz. 

Dados viram informação

No entanto, para que uma plataforma ajude, de fato, as pessoas, não basta ter acesso aos dados, mas transformá-los em informação. De posse de horários dos ônibus, localização dos pontos e GPS dos carros, a plataforma precisa processar tudo isso para entregar ao usuário uma informação útil: quando o próximo ônibus passa no ponto próximo a mim? Para isso, dois grandes processos precisam acontecer: um sistema de roteirização moderno e robusto, capaz de calcular rapidamente milhares de combinações, e um entendimento da necessidade da pessoa

Na Quicko, o usuário coloca seu destino e tem como resposta uma lista de opções de deslocamento. Em poucos segundos, o app consulta os sistemas parceiros e simula milhares de cenários, considerando a integração de todos os meios de transporte. Na sequência, lista as melhores opções, levando em conta critérios de preço, tempo e conforto, como a distância que a pessoa aceita caminhar. Tudo isso demanda que a tecnologia seja eficiente, rápida e segura. Do contrário, o próprio aplicativo pode demorar muito tempo para devolver opções ou até parar de funcionar durante o uso. 

O segundo desafio importante é conseguir mostrar opções relevantes para o usuário após todo esse trabalho. É nisso que consiste o maior valor da tecnologia das plataformas MaaS: resumir milhares de dados e cálculos em poucas e relevantes informações, disponíveis na mão das pessoas. Isso só é possível a partir da adaptação da tecnologia ao comportamento prático das pessoas, aprendido diretamente dos usuários com base em conversas e observações. 

 A tecnologia é uma aliada essencial ao avanço da mobilidade humana, pensada e oferecida como um serviço às pessoas. A abertura de dados, em especial os públicos, e suas possíveis integrações técnicas com sistemas privados permitem que plataformas focadas na relação com os usuários transformem esse material bruto em informação qualificada para a tomada de decisão. No entanto, a tecnologia só será realmente útil e relevante para a vida de todos se também for pensada e desenvolvida com base na experiência delas. Não é sobre a tecnologia mais moderna, mas a mais adaptada ao usuário.”