Mobilidade elétrica entra no mundo da inteligência artificial
Como a IA poderá mudar a eletrificação veicular, melhorando desde os processos de produção até a segurança do motorista
O recente anúncio da General Motors de que passou a utilizar a inteligência artificial (IA) no motor da nova picape Chevrolet S10 – que, entre outras vantagens, reduzirá em 13% as emissões de dióxido de carbono (CO2) – reforça um caminho inevitável da indústria automotiva, que já abriu as portas para essa nova ferramenta tecnológica.
Com a eletrificação não é diferente: as fabricantes e demais empresas ligadas ao ecossistema da mobilidade elétrica veem na IA uma aliada importante para o desenvolvimento de seus produtos e serviços.
“A integração da IA na eletrificação está totalmente relacionada com o desenvolvimento dos carros elétricos”, atesta Carlos Roma, CEO da TB Green, empresa de soluções de energia limpa.
Ele cita um dos componentes beneficiados pela IA: “A bateria é a parte mais sensível do carro elétrico. Com a inteligência artificial, os especialistas simulam novas equações químicas, capazes de antecipar com precisão os resultados de testes de laboratórios”, diz.
Preço da bateria
Roma destaca que a IA consegue acelerar as etapas do trabalho envolvendo análises de reações químicas. “Estudos mostram que ela poderá abreviar para quatro anos o desenvolvimento da bateria, que antes poderia levar dez anos”, explica.
O custo da bateria, segundo ele, será impactado. “Se ela demorava uma década para ficar mais barata, agora precisará de apenas dois anos”, garante.
Segundo o executivo, o preço médio da bateria é de cerca de US$ 110 o quilowatt-hora. No entanto, a IA vai facilitar e agilizar a construção do componente, derrubando 50% de seu valor.
Ao mesmo tempo que ajudará a reduzir custos no aperfeiçoamento de carros elétricos, a inteligência artificial atuará como parceira do motorista para escolher os melhores parâmetros na condução.
Lego automotivo
“Ninguém consegue dirigir de forma econômica o tempo todo”, acentua Roma. “Dessa forma, a IA vai otimizar o desempenho de carros elétricos e coletar dados de como o ser humano pensa ao volante, levando em conta informações como velocidade, aceleração e consumo de energia.”
A inteligência artificial também terá reflexos na fabricação dos veículos elétricos. Atualmente, os automóveis são montados por partes e, depois de uma pré-montagem, entram em uma linha de montagem única.
Com a ajuda da IA, o formato das peças vão se encaixar em tempos menores, como um verdadeiro lego automotivo. “A tecnologia pesquisará materiais e soluções para deixar o carro mais barato, inclusive na ponta de todo o processo, ou sejam o consumidor final”, acredita Roma.
A evolução tecnológica não deixará a central multimídia de lado. “Ela fará a leitura do comportamento do motorista, hábitos de condução e como ele está acomodado no banco para, a partir desses elementos, sugerir determinado estilo de música no rádio”, revela.
Redes neurais
O diretor de tendências tecnológicas da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Murilo Ortolan, explica que as redes neurais da inteligência artificial funcionam como o cérebro humano e estão presentes desde o início do desenvolvimento do carro elétrico e não apenas na sua utilização.
“Esses ‘neurônios’ estão conectados entre si e atuam em todos os aspectos do veículo, desde os ajustes dos parâmetros do motor elétrico e da aerodinâmica, até uma gestão de energia mais eficaz, levando a uma autonomia mais ampla e uma vida útil maior da bateria”, relata.
A inteligência artificial deixará a vida do motorista mais tranquila, porque dará todas as informações de serviço de que ele precisa. Durante uma viagem, por exemplo, um automóvel com propulsão híbrida usará o motor a combustão na estrada ao passo que, ao entrar na cidade, ele entenderá as demandas do trânsito, habilitando o modo elétrico e, consequentemente, gerando menos emissões de CO2.
“Quando chegar a hora de recarregar a bateria, o motorista será avisado onde estão os melhores eletropostos e a situação do entorno. Se o local estiver ocupado, o próprio automóvel se incumbe de encontrar um ponto disponível”, expõe Ortolan.
Essa “rede de neurônios” atuará também em favor da segurança dos ocupantes do veículo. O diretor da AEA destaca que a IA poderá alertar sobre acidentes ocorridos bem mais à frente e que o motorista ainda não tem condições de visualizar.
“Nem toda a cadeira automotiva já está adotando a inteligência artificial, porque é uma questão de amadurecimento do setor”, afirma. “Mas ela está entrando em todos os segmentos da economia e na eletrificação veicular não será diferente. Cedo ou tarde, ela poderá explorar todo o potencial de algoritmos e benefícios da IA.”
Academia projeta IA na organização das vias públicas
Com a crescente demanda por soluções eficientes de mobilidade, a inteligência artificial mostra-se fundamental para otimizar o uso das vias e organizar o planejamento urbano. Interessado no assunto, o meio acadêmico vem estudando a nova tecnologia com especial atenção.
Especialistas da FEI (Fundação Educacional Inaciana) destacam que a IA tem condições de modificar a forma como as vias públicas serão projetadas. Outras melhorias são o gerenciamento de fluxo de veículos e do transporte público.
“Graças a técnicas computacionais avançadas, podemos extrair relatórios detalhados que orientam critérios de segurança”, diz Fernando Ribeiro, professor de engenharia civil da FEI. “Essa abordagem identifica potenciais pontos de risco — como áreas propensas a aquaplanagem –, e intervem de maneira proativa, garantindo a segurança dos usuários.”
A professora Leila Bergamasco, coordenadora de ciência da computação da FEI, vai além: “Os algoritmos inteligentes analisam dados em tempo real, ajustando semáforos e sugerindo rotas alternativas para reduzir congestionamentos e tempo de viagem”, afirma.
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