Foi José Datrino (1917–1996), pregador urbano notório pelas suas inscrições nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, centro do Rio de Janeiro, quem proferiu a máxima ‘Gentileza gera gentileza’, eternizada na voz de Marisa Monte em canção homônima de 2000.
O ‘Poeta Gentileza’ não teve oportunidade de conferir o impacto que a mobilidade trouxe ao espaço urbano ao qual tanto se dedicou: estações de patinetes em saídas de metrô, bicicletas e suas ciclofaixas, suscitando novos ares e possibilidades para a paisagem e, sobretudo, opções para a vida das pessoas.]
Outra mudança que também promete revolucionar o estilo de vida da cidade, o carro elétrico, tem trazido impacto muito além da mitigação do CO2.
Todos conhecemos o termo ‘poluição sonora’, que trata do excesso de ruídos capazes de afetar a saúde física e mental das pessoas, a partir do alto nível de decibéis provenienteS das mais variadas atividades urbanas.
Ruídos do trânsito são um dos grandes vilões invisíveis e podem provocar sérios danos à audição da população. Segundo a fonoaudióloga Ana Luiza Toledo de Paula, a poluição sonora é um problema de saúde pública das ruas e avenidas das grandes cidades.
De acordo com ela, a perda auditiva induzida por ruído (Pair) é a causa mais frequente de problemas da audição e ocorre devido à exposição a ruídos acima de 85 decibéis por mais de oito horas ao dia. E acima de 60 decibéis, segundo a fonoaudióloga, os níveis de ruídos já causam stress e perda de atenção.
É claro que o ronco do motor é apenas um em meio a milhões de sons da selva de pedra. Entretanto, já existem estudos demonstrando o benefício à saúde dos motoristas de carros elétricos, em face da inexistência de barulho.
Outro fator positivo é a menor trepidação desse tipo de automóvel, embora, no Brasil, esse benefício seja menos notado pela má conservação das vias.
A frota elétrica vai possibilitar incontáveis avanços ao desenvolvimento sustentável, da melhoria dos índices de saúde pública à segurança, com carros e motoristas mais inteligentes e colaborativos.
Em fóruns de amantes da mobilidade elétrica, não são raros os depoimentos de condutores que adotaram um modelo mais defensivo e prudente na direção, seja pela nova proposta baseada na empatia e respeito ao espaço público, seja na busca da eficiência energética e consequente economia.
O carro elétrico é também um veículo inteligente e conectado que, de modo geral, já garante mais segurança se comparado à geração anterior. Hoje, realiza, sozinho, tarefas como acelerar e frear, além de se auto- orientar dentro das faixas de rodagem.
Muito embora, no Brasil, não exista previsão de adoção do carro 100% autônomo, o chamado nível 5, surgem pelo mundo notícias como o recente lançamento do carro elétrico da Sony, o Vision-S, que acaba de iniciar testes pelas ruas de Tóquio, no Japão.
Fato é que, em um futuro próximo, duas das tecnologias mais revolucionárias de todos os tempos serão contemporâneas: o carro elétrico e o carro autônomo. Juntos, num só cockpit, cortarão as cidades mundo afora, em busca da outrora utopia do Duplo Zero: zero emissões e zero fatalidades.”