Mulheres na bicicleta: superando barreiras e conquistando espaços
A pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro de 2024, realizada pela Transporte Ativo, revela que as mulheres no Brasil ainda pedalam 37% menos que os homens, com desafios específicos enfrentados pelas ciclistas, como o risco de importunação
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05/03/2025

A bicicleta é uma forma sustentável de mobilidade, promovendo bem-estar e eficiência nos deslocamentos urbanos. No entanto, a presença feminina nesse universo ainda enfrenta desafios como barreiras culturais, infraestrutura inadequada e insegurança.
Embora historicamente associada ao público masculino, a bicicleta teve um papel importante na emancipação feminina, como afirmou a sufragista Susan B. Anthony em 1896. Nos últimos anos, a participação das mulheres no ciclismo tem aumentado, impulsionada por iniciativas que promovem inclusão e segurança. Contudo, a falta de políticas públicas que considerem a perspectiva de gênero ainda limita o acesso das mulheres à mobilidade.
A pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro de 2024, realizada pela Transporte Ativo, revela que as mulheres no Brasil ainda pedalam 37% menos que os homens, com desafios específicos enfrentados pelas ciclistas, como o risco de importunação. Em São Paulo, 65,7% das mulheres e em Belém, 67,7% já sofreram esse tipo de agressão enquanto pedalavam. Além disso, fatores raciais e socioeconômicos agravam a vulnerabilidade das mulheres, especialmente as negras, que enfrentam maiores dificuldades com a infraestrutura de mobilidade e a acessibilidade urbana.
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Déficit em infraestrutura cicloviária
Embora a bicicleta tenha sido um símbolo de liberdade para muitas mulheres, nem todas tiveram o mesmo acesso, especialmente mulheres negras, que enfrentam barreiras sociais e econômicas que restringem sua mobilidade. A pesquisa também aponta que muitas cidades brasileiras apresentam déficit em infraestrutura cicloviária, o que dificulta o uso seguro e eficiente da bicicleta. Em Araucária (PR), 62% dos entrevistados disseram que pedalariam mais com melhores condições, e percentuais semelhantes foram observados em São Paulo (52,8%) e Rio de Janeiro (47,7%).
Apesar de as mulheres representarem 51,5% da população brasileira, sua participação na sociedade ainda está vinculada às responsabilidades domésticas, o que limita seu envolvimento nas decisões sobre a organização do espaço urbano e políticas públicas, perpetuando desigualdades e violência de gênero. Isso impacta diretamente o acesso das mulheres a direitos fundamentais, como a mobilidade.
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Algumas cidades brasileiras têm se destacado ao investir em políticas ciclo-inclusivas, como Niterói (RJ), que ampliou a infraestrutura dedicada e implementou um sistema de bicicletas compartilhadas gratuito, promovendo a cultura da bicicleta e aumentando o número de pessoas que utilizam a bicicleta nos seus deslocamentos na cidade. Tais iniciativas colaboram para que mais mulheres pedalem com segurança no cotidiano.
Iniciativas de capacitação e empoderamento também têm se mostrado eficazes. O projeto Viver de Bike, criado pelo Instituto Aromeiazero em 2016, que se estrutura a partir de um curso de empreendedorismo e mecânica de bicicletas, com aulas abertas e ações comunitárias.. O projeto já formou centenas de mulheres em diversas cidades do Brasil, como em Macaé (RJ), onde 162 mulheres foram capacitadas. Em Fortaleza (CE), a adaptação do projeto, o Dando Grau, também superou a paridade de gênero, com 56% de mulheres formadas.
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Desafios a serem superados
Embora a inclusão feminina no uso da bicicleta esteja crescendo, ainda há muitos desafios a serem superados. A presença de mulheres pedalando com segurança depende de fatores além da infraestrutura, como um poder público atuante e iniciativas sem fins lucrativos que garantam capacitação, acesso à informação e equipamentos adequados. Também é essencial considerar questões como segurança, combate à violência e equidade no trânsito.
Ampliar a participação feminina no planejamento urbano é fundamental. Garantir cidades mais inclusivas e seguras envolve ter mulheres em posições de liderança e na tomada de decisões. Políticas públicas que incentivem o uso da bicicleta de forma equitativa são essenciais para assegurar o acesso igualitário à cidade, permitindo que mulheres de diferentes origens, raças e classes sociais possam pedalar com confiança e liberdade.
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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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