Apesar dos números oficiais não confirmarem o aumento nos casos de roubo e furto de motos, os motociclistas têm sentido na “pele” a alta nesse tipo de crime e buscam se proteger como podem. De acordo com Vitor Corrêa, do Grupo Tracker, a empresa registrou crescimento de 11,5% no número de rastreadores instalados no segundo semestre de 2023. Atualmente, mais de 40% da operação da empresa é focada em motocicletas.
“Cresceram também em 66% os chamados para que nossas equipes localizassem motos furtadas ou roubadas nesse período”, afirma Corrêa. Nas motos acima de 600 cc, o aumento no número de ocorrências foi de 37%, enquanto nos modelos de média e baixa cilindrada, foi de 80,6%. “É um crescimento assustador”, analisa o coordenador do Comando de Operações do Grupo Tracker.
A Suhai Seguradora identificou aumento de 27% na contratação de seguro para motos no ano passado. Ecoando os dados da Tracker, a base de dados da seguradora demonstra que as motos mais visadas são aquelas de baixa cilindrada, principalmente, devido ao volume em circulação e utilização para fins comerciais. Os modelos também são alvo por conta do comércio paralelo e ilegal de suas peças e partes.
Embora as motos de menor cilindrada ainda sejam as preferidas dos bandidos, os modelos maiores também tiveram aumento expressivo nos casos de roubos e furtos no Estado de São Paulo.
Os dados do primeiro semestre deste ano do Boletim Tracker-Fecap revelam que os roubos e furtos de modelos acima de 600 cc quase dobraram. Entre janeiro e junho de 2023, houve 794 ocorrências desse tipo de crime – no mesmo período do ano passado, o volume foi de 400 casos.
Porém, diferentemente das motos de baixa cilindrada, cujo principal destino é o mercado ilegal de peças usadas, modelos maiores são furtados ou roubados para ostentação. “A principal motivação é justamente essa: empinar, fazer manobras e ostentar nas redes sociais”, afirma Corrêa.
Basta navegar nas redes sociais para encontrar perfis, com milhões de seguidores, nos quais jovens fazem manobras e se exibem com motos de alta cilindrada em comunidades e bailes funk. Muitas delas têm as placas retiradas ou escondidas, pois são frutos de roubo ou furto.
Além de ostentar, começa também a surgir um mercado ilegal de peças de motos de alta cilindrada. Embora os rastreadores ajudem a empresa a localizá-las, a recuperação só é feita quando o veículo está parado e sempre com a ajuda das autoridades. “Com isso, já localizamos algumas motos que estavam completamente desmontadas, ou seja, prontas para serem vendidas no mercado ilegal”, afirma.
Alarmados com os crimes, alguns proprietários de motocicletas de alta cilindrada que residem na capital paulista se uniram em 2020. “Começou como um grupo no WhatsApp, de clientes BMW preocupados com o aumento de roubos de motos”, revela um dos fundadores, que prefere não se identificar por questões de segurança.
Decidiram, então, criar um grupo formalmente, com o objetivo de chamar a atenção das autoridades para o problema. Fizeram reuniões com fabricantes e seguradoras para tratar do aumento no roubo de motos.
O trabalho tem dado resultado. No início do ano passado, a BMW passou a oferecer um ano de rastreador grátis para os clientes que adquirem motos zero-quilômetro. “22% dos clientes instalaram rastreadores em suas motos”, revela o CEO da BMW Motorrad, Julian Mallea. Segundo o executivo, as três motos roubadas desde então foram recuperadas.
O medo de roubo, porém, tem levado motociclistas e empresas a medidas drásticas. Outro motociclista, que prefere não se identificar, trocou a bigtrail BMW R 1250GS, um dos estilos preferidos dos bandidos, por outro modelo mais touring da BMW, a R 1250 RT.
No último final de semana de fevereiro, a concessionária BMW de Alphaville, na região metropolitana de São Paulo, organizou o passeio “Café sem Destino”, com um trajeto de 200 quilômetros. O convite incluía a observação de que o trajeto era 100% seguro, pois contava com escolta armada.
O aumento nos casos de roubo de motos para ostentar motivou até mesmo uma operação da Polícia Civil de São Paulo contra esse tipo de crime. Após investigação, que dura nove meses, a polícia identificou e prendeu diversos integrantes de quadrilhas especializadas em roubos de motos de luxo que atuam na capital paulista e na região metropolitana.
No final de janeiro, na quarta fase da Operação Drake, nome em referência à expressão “mandrake”, gíria usada pelos criminosos para ladrões de moto, os investigadores da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), da 3ª Seccional, cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e nove de buscas na Grande São Paulo.
“Os criminosos atuam sempre com violência para roubar as motos, com uso de arma de fogo e ameaçando as vítimas. No desdobramento das investigações, pudemos identificar que o bando age sempre da mesma maneira”, afirmou o delegado da Cerco Oeste, Felipe Nakamura, em nota no site da Polícia Civil paulista.
Até agora a Polícia prendeu 15 criminosos e dois adolescentes e cumpriu diversos mandados de busca e apreensão em todas as regiões da capital paulista. Além das prisões, os policiais recuperaram 11 motocicletas no curso das investigações e esclareceram 14 roubos.
Conversamos com especialistas de empresas de rastreamento e de seguradoras para elaborar um guia com dicas para evitar o roubo ou furto de sua moto: