Sem crise na micromobilidade urbana
Se e o comportamento dos cidadãos já está mudando, somos nós, empresas do setor de micromobilidade, que precisamos entender como podemos viabilizar, acelerar e inspirar essa transformação individual e comunitária
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20/03/2020
Uma pergunta que sempre me fazem: ‘Por que o mercado de micromobilidade, com tanto potencial, enfrenta constantes altos e baixos no Brasil e no mundo?’ Após o boom do setor, com o surgimento de startups e o interesse imediato de fundos de capital de risco, vimos uma onda de fechamento de algumas iniciativas e redução de outras, que alegavam problemas em operar o modelo no Brasil.
Muito se gastou e ainda se gasta para tentar justificar os insucessos recentes. Custos logísticos e impostos, extremamente elevados no Brasil, falta de segurança, que acarreta roubos e vandalismo dos equipamentos, e das políticas públicas adotadas para regulamentar os serviços foram alguns dos fatores levados em consideração.
Inúmeros desafios
Os desafios para tocar uma operação de bicicletas ou patinetes compartilhados nas ruas das maiores cidades da América Latina são inúmeros e, enquanto você trabalha para resolver um, surgem tantos outros. Mas uma das principais características de negócios novos e
disruptivos é que eles são dinâmicos, e a minha resposta aos altos e baixos é muito mais simples: eles apenas não existem.
O mercado de micromobilidade está em alta e é irreversível. O que vemos como “baixas” é uma curva natural de aprendizado de modelos de operação e negócio que funcionem e sejam e cientes diante da realidade cultural e social em que vivemos. Já é possível ver uma mudança cultural importante, na contramão dos 90 anos de altos investimentos em infraestrutura, subsídios e tecnologia voltados para a indústria automobilística.
Mudança de cultura
As pessoas cresceram focando no carro como seu principal meio de transporte e, hoje, começam a se questionar sobre o tempo que gastam no trânsito — a média, por trajeto, no Brasil é de 1h30, chegando a quase 2h em algumas cidades.
Muitos já estão repensando suas relações com as cidades em que moram e a ciência da forma em que se deslocam, não é à toa que a emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) cai desde 2015 entre todas as faixas etárias.
Já é comum a existência de diversos grupos que têm cobrado o poder público por novas soluções de deslocamento, como construção de ciclovias, diminuição dos limites de velocidades ou, até mesmo, mais espaços de cidades abertos para as pessoas.
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Exemplos em São Paulo
Basta ver o sucesso que é a Paulista aos domingos e feriados em que a avenida é fechada para veículos. Essa já é uma nova realidade das grandes cidades. A ciclovia da Faria Lima, por exemplo, já chegou a ser a terceira ciclovia mais utilizada do mundo. Em 2019, a Tembici teve um crescimento de três vezes o número de deslocamentos realizados com nossas bicicletas se comparado com 2018.
Ainda no ano passado, nossos projetos realizaram aproximadamente a mesma quantidade de viagens que todos os sistemas de bicicletas compartilhadas somados dos Estados Unidos zeram em 2015. Cada bicicleta nossa rodou mais de cinco vezes por dia, em média. Isso tudo na América Latina, região em que a infraestrutura urbana ainda é extremamente deficitária.
Mas, se o comportamento dos cidadãos já está mudando, somos nós, empresas do setor de micromobilidade, que precisamos entender como podemos viabilizar, acelerar e inspirar essa transformação individual e comunitária.
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Modelo híbrido
Na Tembici, desenhamos um modelo híbrido, com patrocínio de empresas que, em troca de uma forte interação com as cidades e seus cidadãos, garante uma receita recorrente para nosso negócio. Além disso, desenvolvemos planos de assinatura de usuários que geram entradas constantes e muito importantes para nossa expansão.
Hoje, entre nossos patrocinadores, temos o Itaú, conhecido pelas bicicletas laranjas, além do banco Banestes, das empresas Hapvida e Unimed, que atuam na área de saúde, e da bandeira de cartão de crédito Mastercard. Dessa forma, a Tembici está presente em 14 cidades brasileiras, além de projetos em Buenos Aires, na Argentina, e Santiago do Chile.
Visão
Já estamos de olho no futuro e, por isso, começamos a testar o modelo com bicicletas elétricas, que também é muito promissor. Partimos da premissa de que essa revolução de mobilidade — e a consequente transformação do espaço urbano — vai continuar acontecendo, independentemente das empresas do setor serem assertivas no modelo.
Entre questões mais simples e outras mais complexas e ambiciosas, a América Latina vive uma revolução na forma como as pessoas querem se locomover e cidades e empresas devem estar preparadas para buscar soluções e cientes e sólidas para isso. É o início de uma longa e, não tenho dúvida, próspera jornada pelas metrópoles do mundo.
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