Investimentos em transporte: setor privado precisa de segurança em projetos de longo prazo
Retomada de investimentos em infraestrutura de transporte passa por contratos que garantam recebimento de valores investidos

Pensando em projetos de longo prazo voltados à infraestrutura de transporte, a iniciativa privada precisa de garantias de recebimento daquilo que investiu. Esse foi um dos pontos de destaque do painel “Retomada dos Investimentos Públicos em Infraestrutura para Transporte de Passageiros e Logística”, tema debatido durante o Summit Mobilidade, evento realizado pelo Estadão Mobilidade na quarta-feira, 28.
“Pensando em projetos de 20 ou 30 anos, o Brasil tem amadurecido na modelagem econômica e financeira. Mas o primeiro ponto importante é que o setor privado tenha garantias de que irá receber”, rdisse Fernando Quintas, CEO da CS Infra e da Ciclus Ambiental, um dos painelistas presentes.
“De um total de R$ 260 bilhões investidos em infraestrutura no ano passado, R$ 200 bilhões foram da iniciativa privada. Essa participação aumenta ano a ano”, recorda o executivo.
O painel também teve por objetivo tratar do papel das Parcerias Público-Privadas (PPPs) nesse processo. O mediador, Wladimir D’Andrade, editor do E-investidor, perguntou a Fernando Quintas sobre como lidar com essa insegurança a partir de um caso de sucesso em uma rodovia, a Grãos do Piauí.
“Quando se fala em investimento em infraestrutura, as empresas privadas sempre buscam localidades de maior demanda e a dúvida inicial é se é preciso vir a demanda primeiro ou a infraestrutura. No Piauí há de fato uma PPP de rodovia, a maior da Região Nordeste. Tem 600 quilômetros, fica no sul do Piauí e é utilizada para transporte de grãos”, disse Fernando Quintas.
“A modelagem inclui pedágios e, se a demanda ficar abaixo do previsto, o edital prevê a complementação dessa contraprestação”, lembra. Segundo Quintas, com o sucesso desse modelo, o escoamento da safra de soja permanece viável também nos períodos de chuva e a estrada tem vigilância 24 horas e equipes de socorro, ajudando no desenvolvimento da região.
Fernando Quintas citou também que é muito importante o apoio de bancos como o BNDES para o retorno e fomento de projetos como este, que viabilizem o transporte rodoviário de passageiros e carga. “Acreditamos muito no País e estamos confiantes no crescimento da infraestrutura do Brasil.”
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Nas ferrovias, investimento público alavanca o privado
Outro palestrante, Hélio Sousa, diretor de outorgas ferroviárias do Ministério dos Transportes, comentou que, no setor ferroviário, só se começa a auferir receita quando a ferrovia está pronta. “E isso exige um valor agressivo inicial.” Ele lembra que ferrovias são construídas em regra pelo poder público para que o projeto e modelagem parem em pé.
“É o investimento público que vai alavancando o setor privado.” Sousa diz que tem encontrado desafios porque o transporte ferroviário tem algumas peculiaridades, como os altos custos inerentes a essa modalidade, mas garante que ele tem vantagens: “O governo tem trabalhado em projetos estruturantes que vão permitir o escoamento de carga para diferentes portos com redução de custos”, afirma o representante do Ministério dos Transportes.
Hélio Sousa recorda que o fator que amortecerá a pressão de taxas de juros internas é a modelagem do contrato e citou que o mecanismo de contas vinculadas é um importante instrumento para atrair investimentos.
Sobre a situação delicada em que se encontram algumas companhias aéreas, Eduardo Silva atribui o problema aos frequentes momentos de alta e baixa da economia, que atrapalham o planejamento das empresas do setor.
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Malha aérea precisa ser integrada
Para falar sobre transportes aéreos, a palavra foi do diretor de operações e serviços técnicos da Infraero, Eduardo Gonzaga da Silva. “A economia do País é cíclica, o que dificulta investimentos públicos, mas a ideia é o desenvolvimento da aviação regional. Sou a favor das concessões de aeroportos, mas é preciso, se não de uma vigilância, uma agência reguladora.” Para ele, o instrumento da concessão está mais evoluído no restante da América Latina que no Brasil.
“Temos capacidade instalada, mas precisamos de planejamento para que pessoas de diferentes regiões possam se deslocar [a partir da malha aérea] para grandes centros.”
Sobre a situação delicada em que se encontram algumas companhias aéreas, Eduardo Silva atribui o problema aos frequentes momentos de alta e baixa da economia, que atrapalham o planejamento das empresas do setor.
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