Pesquisa Origem e Destino é antecipada para avaliar o impacto da pandemia no transporte público
Tradicionalmente feita a cada dez anos, estudo já tem agentes em campo na cidade de São Paulo. Os resultados serão conhecidos no último trimestre de 2024
Desde a pandemia, o transporte público em geral registrou uma perda significativa de passageiros, um fato que pode ser comprovado. Muitos especulam os motivos da queda, mas, ao certo, ninguém sabe. Para obter essa e outras respostas, bem como compreender novos hábitos de deslocamento no pós-pandemia, o Metrô-SP decidiu antecipar a pesquisa Origem e Destino (OD), que estava prevista para 2027. Esse é o tema da entrevista com Luiz Cortez Ferreira, gerente de planejamento do Metrô. Confira, a seguir.
Por que o Metrô antecipou o estudo?
Luiz Cortez Ferreira: A pesquisa Origem e Destino (OD) é feita tradicionalmente a cada dez anos, sendo que a última aconteceu em 2017. Entretanto, a partir de 2002, passamos a fazer um estudo intermediário batizado de Pesquisa de Mobilidade, com uma amostra reduzida, mas que serve para avaliar tendências por meio de uma sondagem mais barata e mais simples.
Só que, em 2022, ainda sob os efeitos da pandemia, decidimos não fazer essa intermediária e realizar a OD completa, porque tivemos uma mudança muito grande nos padrões de mobilidade e de deslocamento da região metropolitana de São Paulo. Sabemos que mudou, mas não quanto, o que e em qual região. O fato concreto é que, no transporte público, houve uma redução na demanda, o que pode ter diversos motivos, e esperamos poder entender o que está acontecendo nessa região.
Em que momento está a pesquisa e quando teremos os resultados?
Ferreira: As equipes começaram a ir a campo no dia 1º de agosto. São algumas etapas importantes: a primeira é a do planejamento; depois, temos uma fase de licitação e contratação, seguida de uma fase de campo; e, por fim, tabulação de resultados. A ideia é finalizarmos no último trimestre de 2024.
Que novidades o questionário traz em relação ao anterior?
Ferreira: Adicionamos perguntas sobre a pandemia, como mudanças nos hábitos de viagem, se faz teletrabalho ou não, o nível de emprego – formal e informal –, entre outras. Os dados da CET têm demonstrado quedas nos níveis de congestionamento, mas que não estão distribuídas uniformemente em todos os dias da semana – principalmente, diminuição às segundas e sextas-feiras, o que pode indicar trabalho remoto, mas é uma suposição.
Nossa pesquisa mapeia, também, os empregos informais, uma diferença em relação a outros estudos e impactada pelas mudanças na legislação trabalhista. Se, em 2017, essa tendência já aparecia, imaginamos que estará mais forte agora. E incluímos, ainda, uma pergunta sobre a posse de motocicletas, algo que também vem crescendo e que queremos entender melhor.
Questões de gêneros foram incluídas?
Ferreira: Não, apenas perguntamos o sexo no nascimento do registro civil, mas não entramos no âmbito de gênero nem de raça. Para isso, seria necessária uma pesquisa mais específica para detectar diferenças de comportamento nos deslocamentos levando em conta esses aspectos. Mas, para o nível de estudo que fazemos, estamos preocupados com a expectativa da demanda, os grandes números de movimentação, e em criar modelos de simulação de demanda.
O questionário da pesquisa já é muito longo, e aumentá-lo podia torná-lo cansativo para quem responde, com risco de abandono. O cruzamento por sexo já nos permite informações interessantes: na última edição, por exemplo, o uso de bicicletas era predominantemente masculino, assim como o número de condutores de veículos do sexo masculino. Já o uso do transporte público é feminino, mais ainda do metrô do que dos ônibus.
Após a compilação dos resultados, o que o Metrô faz com essas informações?
Ferreira: O banco de dados da pesquisa é público, basta entrar no Portal da Transparência, do Metrô, que reúne todas as pesquisas (exceto a primeira, que não foi digital). O que publicamos são resumos, mas os resultados brutos ficam disponíveis a qualquer pessoa. Para o Metrô, ela é construída para alimentarmos nosso banco de dados de simulação de demanda e definir nossas prioridades em projetos das novas e futuras linhas.
Temos um software que usamos para esse trabalho tão importante, com o conceito matemático de quatro etapas. Primeiro, ele roda os dados para fazer a divisão modal entre transporte publico e individual, incluindo velocidade das vias e tempo de viagem. A seguir, faz o roteamento – quais os percursos de viagem –, que é quando identificamos os grandes fluxos; depois, as divisões dos diversos modos de deslocamento para chegar, como etapa final, na projeção da demandas da viagem.
Tudo isso é usado para dimensionar os projetos do Metrô – tamanho das frotas, oferta necessária para novas linhas, entre outros aspectos – e para o planejamento da rede. Sabemos que é necessário que o Metrô continue se expandindo – hoje, temos 104 quilômetros de vias –, e o estudo nos ajuda a avaliar a viabilidade de novos investimentos necessários e onde eles devem ser feitos.
Como a pesquisa pode ajudar o transporte público a reconquistar passageiros?
Ferreira: Para todo gestor, é importante conhecer o que está sendo tratado. Então, compreender o cenário atual é o primeiro passo para termos domínio das necessidades em políticas públicas. Embora o transporte seja um direito fundamental, acredito que apenas o subsídio tarifário ao transporte público seja um caminho possível em termos de solução.
Com o conhecimento da realidade, pode-se propor novas políticas mais adequadas. Por exemplo, se detectarmos, de fato, uma fuga de passageiros para o transporte individual, quais as medidas seriam mais relevantes? Temos o desafio, também, da questão habitacional, já que não pode ser separada do transporte. Então, é preciso encontrar recursos e priorizar adequadamente a expansão do sistema.
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