Transporte individual reduz contato social
Ao guidão, profissionais de saúde também reduzem a exposição ao vírus
O técnico de enfermagem Luiz Antônio Costa, de 53 anos, testemunhou a triste estatística que envolve os profissionais que atuam na linha de frente no combate à pandemia do coronvaírus na Unidade Básica de Saúde (UBS), onde trabalha em Barueri, na Grande São Paulo.
No final de abril, acompanhou o funeral de seu colega, o também técnico de enfermagem José Gervásio Garcia Neto, que faleceu em decorrência da covid-19. “Muito triste. Ele tinha boa saúde, apresentou sintomas e foi afastado. Morreu quatro dias depois. A doença é terrível”, conta ele.
O trabalho na UBS deixa os técnicos em contato direto com quem pode estar infectado pelo novo coronavírus. Sua função é recepcionar e fazer a triagem de pacientes na UBS, explica Luiz Antônio. “Estamos trabalhando todo paramentado, redobrando os cuidados”, conta ele sobre as mudanças em sua rotina profissional.
Só não mudou sua rotina de deslocamento até a UBS. Ele vendeu sua moto, uma Yamaha Fazer 250, mas continua indo trabalhar em duas rodas, pedalando sua bicicleta. “Não tem ônibus direto para o bairro onde fica a UBS. Eu teria que pegar duas conduções e leva uma hora e meia para chegar. De bike, faço o trajeto em 40 minutos”, afirma o técnico de enfermagem.
Com sua bicicleta, Luiz Antônio também evita as aglomerações nos pontos e dentro dos ônibus. “Ainda vejo muita gente saindo na rua e sem máscara. Parece que algumas pessoas não acreditam na gravidade dessa doença. Acham que é uma gripezinha. Esse vírus não é brincadeira”, alerta o técnico de enfermagem que trabalha há mais de 30 anos na área da saúde.
Motos nos serviços essenciais
Alguns serviços essenciais para o combate à pandemia também dependem da agilidade das motos. Caso de muitos laboratórios e hemocentros. A motogirl Claudia Santos Leão, 41 anos, trabalha para uma empresa especializada no transporte de materiais biológicos. Ela roda toda a capital paulista com sua Honda CG 160 Cargo, coletando doações e levando bolsas de sangue para o tratamento de pacientes em hospitais.
Trabalho em esquema de plantão de 12 horas por 36. Fico de prontidão para levar os insumos necessários para salvar vidas”, orgulha-se Claudia, que, nos dias de folga, ainda faz entregas com aplicativos para complementar a renda. Claudia segue os protocolos de higienização e o baú da sua moto tem uma placa de identificação, adotada internacionalmente, para os veículos de saúde.
Ela só pilota de máscara e sempre higieniza as mãos quando entra em contato com as bolsas térmicas que levam o material biológico. “Carregamos máscaras de reserva e álcool em gel no bolso. Em todo hospital, agora há locais para lavar as mãos e seguir as recomendações das autoridades de saúde”, conta a motociclista profissional.
Leia também: Veículos de duas rodas facilitam a rotina de profissionais de saúde.
Como as motos ajudam em outros países
Não é apenas no Brasil que a agilidade dos veículos de duas rodas ajuda no tratamento de pacientes. Na Índia, a Hero, segunda maior fabricante de motos do país, criou uma “motoambulância” para ajudar no resgate de doentes com a covid-19.
Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia tem mais da metade da população vivendo em áreas rurais. Equipada com luzes, sirenes e kit de primeiros socorros, nas malas laterais, a ambulância de duas rodas tem um sidecar estendido em formato de leito, para resgatar pacientes em áreas rurais e de difícil acesso, aonde carros e veículos maiores não chegam.
Já na Amazônia peruana, um motoclube encontrou um jeito de unir solidariedade com a paixão pelo motociclismo fora de estrada. O grupo de trilheiros da província de Chachapoya, no norte do Peru, está usando motos off-road e quadriciclos para levar medicamentos a povoados isolados na Floresta Amazônica (foto abaixo).
Além do difícil acesso, o governo peruano decretou uma rigorosa quarentena e toque de recolher que proíbe o tráfego de pessoas e veículos do fim da tarde à manhã do dia seguinte para conter a disseminação da covid-19 no país. Com isso, medicamentos de uso contínuo para tratar outras enfermidades, como hipertensão, diabetes etc., não conseguem chegar aos postos de saúde e aos habitantes desses pequenos povoados.
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