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“Vamos fazer controle radical das emissões”

Por: Tião Oliveira . 29/01/2022

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“Vamos fazer controle radical das emissões”


Iveco vai testar caminhão pesado a gás no Brasil e investir em veículos elétricos na Europa

7 minutos, 32 segundos de leitura

29/01/2022

Diretor comercial da Iveco, Barion atua há mais de 25 anos no setor de caminhões, tendo trabalhado na Ford e na VW/MAN. Foto: Divulgação Iveco

Ricardo Barion trabalha com caminhões há mais de 25 anos. O engenheiro mecânico iniciou sua carreira na Ford, em marketing e produto, e continuou na mesma área por mais 17 anos, período no qual trabalhou na Volkswagen/MAN.

Em 2015, ingressou na Iveco, onde ocupa atualmente o posto de diretor comercial. Barion sabe tanto do assunto que é comum ser destacado como porta-voz da marca italiana, que produz veículos em Sete Lagoas (MG).

Ao Estadão, o executivo falou sobre a alta de 95% nas vendas de pesados em 2021, os desafios impostos pela falta de peças e os planos para 2022, que incluem o teste de 22 caminhões a gás para longas distâncias com clientes brasileiros.

Como foi o desempenho da Iveco no Brasil em 2021?

Ricardo Barion: Em 2021, a gente sofreu muito com o problema de fornecimento de peças. Sobretudo os componentes eletrônicos, não só semicondutores. Também tivemos dificuldades com outros insumos, como pneus e plásticos. Isso fez com que tivéssemos de ajustar a produção.

A ponto de ter de parar nossa linha. Por outro lado, tivemos de ampliar a produção quando os componentes chegavam, de modo a atender a demanda. Seja como for, fizemos um trabalho muito bom porque, apesar das dificuldades, crescemos em todos os segmentos em que atuamos. 

No caso dos pesados, a gente cresceu 95%. Ou seja, quase dobramos as vendas. Então, eu diria que 2021 foi o ano de sustentação e consolidação da marca. A gente lançou a nova Daily no ano anterior. Já vínhamos em uma trajetória muito positiva. E acreditamos que, em 2022, devemos manter esse ritmo de crescimento.

Desde o dia 1º de janeiro, a Iveco deixou de ser parte da CNH industrial para ter uma nova estrutura. Quais são os resultados práticos dessas mudanças no Brasil?

Barion: Antes, fazíamos parte do grupo CNH. Ou seja, juntamente com a Case e a New Holland tanto da área agrícola quanto de construção. Agora, junto com a FPT (motores), nos tornamos o Grupo Iveco e somos focados em veículos comerciais, ônibus e caminhões. A FPT fornece os motores de todos os nossos modelos.

Na CNH, algumas áreas prestavam serviço para todas as marcas. A mudança agiliza a resposta que precisamos dar ao mercado.

Quando ocorrerá a regularização da cadeia de fornecimento?

Barion: Neste momento, não temos essa visibilidade. O ano de 2022 começou com as mesmas dificuldades de 2021 e uma agravante, o avanço da Ômicron aqui e no exterior. Então, muitas empresas vêm sofrendo com a falta de gente que se contaminou e teve de se afastar do trabalho. Isso impactou toda a cadeia produtiva, inclusive nossos fornecedores.

A logística também continua complicada. Muitas vezes você não encontra container ou navio para trazer componentes. Assim, é obrigado a aderir a fretes aéreos, que têm custos muito maiores, para não parar a produção. Ou seja, você é obrigado a tomar medidas para honrar compromissos e manter a cadeia produtiva operante.

Obviamente, isso afeta o custo do produto. Fazemos reuniões diárias da gestão da produção e estamos muito atentos a esse movimento. O crescimento que tivemos no ano passado mostra nossa gestão foi bem feia.

Para 2022, o aumento das taxas de juros deve encarecer a compra de produtos como o nosso. A falta de componentes deve se estender até a metade, no mínimo. Por outro lado, o mercado continua crescendo.

O agronegócio e o comércio eletrônico devem continuar a  puxar as vendas, assim como a construção civil. Outro ponto positivo é que, em 2022, haverá a Fenatran (maior feira do setor de transportes da América do Sul). E deve haver antecipação de compras por causa da mudança de legislação.

No início de 2023, entram em vigor as novas regras de emissões. Por isso, vamos ter de adicionar itens nos produtos para atender a lei. Isso, obviamente, traz aumento de preços. Tudo isso me leva a acreditar o mercado vai crescer entre 5% e 10%.

 “Os veículos a gás estão mais próximos da realidade brasileira. Não quer dizer que a Iveco não tem intenção de lançar elétricos.”  Foto: Divulgação Iveco

Em 2021, a Iveco lançou a nova linha Daily, focada no setor de entregas urbanas. Como será o desempenho desse setor em 2022?

Barion: Em 2021, as vendas da linha Daily cresceram 50%. Fomos líderes no segmento de chassi cabine, entre caminhões de 3,5 a 8 toneladas. Com a Daily 35, fomos a primeira montadora do País a lançar um produto Euro 6. É produto 100% alinhado com o que oferecemos na Europa e adequado ao mercado brasileiro.

Além disso, adicionamos mais conforto e novas tecnologias, que permitiram reduzir o consumo de combustível. A linha Daily é o nosso carro chefe de vendas. Nossa intenção é acompanhar o crescimento do mercado. Os grandes clientes estão atentos à fatores como as mudanças de legislação.

A antecipação das compras para evitar o aumento de preço também aconteceu também na linha Daily.

A Iveco tem planos de lançar veículos eletrificados no Brasil?

Barion: Na Europa, temos diversos veículos movidos a combustíveis alternativos e também elétricos. É o caso da Daily. Também temos parceria com a NIkola (marca de caminhões dos EUA) e acabamos de produzir o primeiro modelo 100% elétrico. Ele vai ser produzido na nossa fábrica na Alemanha.

Teremos uma versão elétrica do (caminhão Iveco) S-Way baseado na mesma plataforma do Nikola à venda a partir deste ano. Além disso, somos líderes na venda de veículos a gás. E acreditamos que essa tecnologia é adequada para o Brasil. Vamos começar a testar caminhões pesados a gás com alguns clientes brasileiros neste ano.

Os veículos pesados a gás estão muito mais próximos da realidade brasileira. Isso não quer dizer que a Iveco não tenha intenção de lançar veículos elétricos no Brasil. Mas, neste momento, não é nossa prioridade.

São 20 caminhões Hi-Way de longa distância a gás, certo? Quando virá o S-Way?

Barion: Sim, são H-Way feitos na planta de Sete Lagoas (MG) e com motor a gás. A gente tem pela frente uma mudança radical no controle de emissões de poluentes.

Então, todos os nossos investimentos estão feitos para mudar nossa linha de produtos que será vendida a partir de janeiro de 2023.  Obviamente, o S-Way (sucessor do Hi-Way) vai ser vendido no Brasil. Não sei dizer se será em 2023.

“Deve haver antecipação de compras por causa de mudanças nas leis de emissões. Isso deve causar aumento dos preços.” Foto: Divulgação: Iveco

Os sistemas eletrônicos e de conectividade estão cada vez mais presentes nos caminhões. O brasileiro está disposto a pagar por isso?

Barion: Sistemas como de telemetria e conectividade ajudam a gestão de toda a operação. Temos uma sala de controle em Sete Lagoas, onde a gente consegue ver como está a operação de cada cliente. O operador pode até entrar em contato com um motorista, por exemplo, e fazer recomendações para ele melhorar e condução. Antigamente, a gente entregava o caminhão para o cliente e não tinha ideia de como ele operava.

Agora, podemos oferecer, por exemplo, contratos de manutenção personalizados para cada cliente. Podemos entrar em contato para avisar que ele deve procurar o concessionário mais próximo porque tal componente precisa ser trocado. Ou seja, isso ajuda na manutenção preventiva e corretiva.

Quando o cliente consegue enxergar esses benefícios, ele paga por isso. Isso é mais comum no caso de clientes de caminhões de longas distâncias. Ou seja, são modelos que exigem investimento mais altos.

Os donos de veículos mais leves estão mais próximos de sistemas de conectividade de automóveis. Seja como for, são os donos de pesados que mais investem em novas tecnologias.

Se você pudesse mandar uma mensagem para o Ricardo que estava se formando em engenharia há 26 anos, qual seria?

Barion: Eu diria para ele continuar acreditando no ser humano. As barreiras sempre vão aparecer, mas você precisa ter força e fé acima de tudo. E tem de ser uma pessoa justa, não passar por cima dos outros. Procuro honrar o que meus pais me ensinaram, que é acreditar e compreender o ser humano e ajudar os outros.

Quanto mais eu ajudo, mais eu percebo que sou ajudado. Gentileza gera gentileza. É preciso fazer melhor e ajudar as pessoas a serem melhores. São crenças ensinadas pelos meus pais que procuro passar para os meus filhos.

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