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Consciência negra: um Brasil de muitas Carolinas

Por: Eduarda Nunes, Favela em Pauta . 05/11/2021

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Consciência negra: um Brasil de muitas Carolinas

No Mês da Consciência Negra, você conhece histórias de mulheres pretas e notáveis que ajudam a nutrir o país com inteligência, resistência e cultura. A escritora Carolina Maria de Jesus é uma delas

3 minutos, 7 segundos de leitura

05/11/2021

Por: Eduarda Nunes, Favela em Pauta

Carolina Maria de Jesus. Foto: Divulgação/IMS/Folhapress

A memória da escritora negra que narrou suas histórias de vida, ganhou o mundo e caiu no esquecimento antes de morrer tem sido resgatada. E há muito por vir. A mineira Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977), mãe de Vera Eunice, João José e José Carlos, foi catadora de papel e moradora da periferia de São Paulo. Ela vivia na Favela do Canindé, na zona norte, quando mostrou seus escritos para o jornalista Audálio Dantas (1929 – 2018), que publicou alguns textos no jornal em que trabalhava. Esses e outros relatos seriam editados no livro mais famoso da autora, Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960).

O sucesso da primeira publicação permitiu que Carolina fosse morar no bairro de Santana, ainda na zona norte. Foi lá que ela escreveu outro diário. Casa de Alvenaria, sobre a melhora de vida da família, agora afastada da fome. Diário de Bitita, publicado primeiro na França em 1982, fala de um período anterior à chegada da escritora em São Paulo – uma criança na cidade de Sacramento (MG). Somam-se a esses Pedaços de Fome, Provérbios e Meu Estranho Diário.

Edições inéditas e de conteúdo integral acabam de chegar às lojas pela Companhia das Letras. A autora Conceição Evaristo coordena o conselho curador. Casa de Alvenaria, por exemplo, saiu em dois volumes e com diários completos. A bagagem literária de Carolina vai muito além da vida na favela do Canindé. Apesar de ter escrito romances, peças de teatro, crônicas e composições musicais, a crítica literária e a imprensa a colocaram em um lugar estereotipado e subalternizado, apontam estudiosos e pesquisadores.

“Carolina teve sucesso meteórico em vida e também em vida caiu no ostracismo”, escreve a jornalista Maria Fernanda Rodrigues em reportagem do Estadão. “Tem sido redescoberta nos últimos anos, tornou-se leitura obrigatória em vestibular e começa a ser apresentada agora em suas múltiplas facetas: a escritora politizada que expõe a crueza da fome e da vida na favela; a catadora de papel que preferia roupas com bolso para ter sempre consigo um lápis porque escrever, para ela, era urgente e essa urgência poderia surgir a qualquer momento; a autora de romances, contos, poemas, músicas.” Quarto de Despejo foi lançado em 40 países e traduzido para 16 línguas. A nova edição em português dispensa a norma culta e preserva a escrita original da autora, uma filha de analfabetos que teve a breve oportunidade de estudar e encontrou na escrita uma voz própria original e importante.

Legado

A fome é um tema forte em sua produção, que também revela uma Carolina preocupada com a educação e a formação cultural dos filhos. Vera Eunice de Jesus, a única mulher, hoje é professora de Língua Portuguesa e se encarrega de construir o acervo de produções da escritora, proteger e projetar a memória da mãe.

Em São Paulo

O Instituto Moreira Sales exibe até 30 de janeiro de 2022 a exposição Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os Brasileiros. É uma mostra ampla que ilumina faces até então invisibilizadas da autora. A partir de um manuscrito inédito, a historiadora Raquel Barreto e o antropólogo Hélio Menezes buscam explicar quem era Carolina Maria de Jesus, em sua grandiosidade criativa e de percepção da realidade. Formam o conselho consultivo da iniciativa 12 mulheres negras, dentre elas a já citada Vera Eunice, a filósofa Sueli Carneiro, as escritoras Conceição Evaristo e Lúcia Xavier e a atriz Zezé Motta. A entrada é grátis e requer agendamento antecipado no site do IMS.

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