‘Criança não precisa de celular; prejuízos para adolescentes são alarmantes’
Que necessidade uma criança tem de ter um aparelho com acesso à internet? Para a psicóloga Rosely Sayão, a reposta é ‘nenhuma’
Não há uma semana em que eu não seja consultada por pais a respeito da relação dos filhos, de diferentes idades, com telas de celular e tablet. “Com qual idade posso dar um celular ao meu filho?”, “Qual o tempo ideal para meu filho usar a internet?”, “Ele adora ficar nas redes sociais, isso é prejudicial?” são alguns dos exemplos de questões. Vamos, então, pensar sobre isso.
Infância — Que necessidade uma criança tem de ter um aparelho com acesso à internet? Nenhuma. Ah, mas os pais oferecem a elas já na primeira infância por dois motivos principais, segundo eles.
Primeiro: a criança fica quieta e entretida com o que vê. Não há dúvida alguma sobre isso, certo? Ela fica seduzida pela tela e parece – só parece – que se acalma. Não entre nessa. Ela fica quieta, sim, quase que hipnotizada. Mas, depois, pode desenvolver ansiedade e irritabilidade, por exemplo.
Segundo: as crianças são chamadas de “nativos digitais”, porque já nasceram em um mundo com essa característica, e os pais temem que os filhos fiquem alienados do seu tempo. Não se preocupe: se seu filho não tiver um aparelho, ele não será excluído do mundo em que vive. No máximo, não saberá a respeito de alguns personagens que só existem nas telas, mas isso não é problema. Quantas vezes não sabemos do que se trata uma conversa? Normal. Bastaria os pais emprestarem, de vez em quando, para que vissem algo interessante.
Perdemos a noção de que a criança precisa descobrir o mundo real, que exige relacionamentos interpessoais – rede social não substitui isso –, que tem natureza oferecendo benefícios e obstáculos, que mostra que precisamos nos conhecer e ao outro, aprender a conviver e a se adaptar nos diferentes contextos. É isso, entre outras coisas, que promove o desenvolvimento saudável
Adolescência — Eles adoram jogar online e buscar temas – muitos deles perigosos – nas redes. Perdem horas de sono e se isolam do mundo real.
O mundo virtual pode trazer benefícios a eles, não podemos deixar de reconhecer. Mas o uso abusivo que muitos jovens fazem das redes é, sim, prejudicial.
A questão é que nós, adultos, é que estimulamos isso. Damos exemplos usando os mesmos aparelhos também exageradamente e nos ausentamos do relacionamento com os adolescentes
É difícil conviver com eles? Pode ser. Mas, se soubermos cultivar essa ligação – mesmo conflituosa em certos momentos –, o relacionamento pode ser agradável e surpreendente.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora educaciona e autora do livro ‘Educação sem Blá-blá-blá’. No site do Estadão, você pode ler todos os textos da autora (conteúdo exclusivo para assinantes do jornal)
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