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‘Fui salvo pela arte e faço esse trabalho de resgatar os outros’, diz poeta de Belo Horizonte

Por: Nataly Simões . 16/08/2022

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‘Fui salvo pela arte e faço esse trabalho de resgatar os outros’, diz poeta de Belo Horizonte

Dereck Carvalho fala da transformação que a poesia pode promover na vida das pessoas e afirma: falta apoio a artistas periféricos

3 minutos, 29 segundos de leitura

16/08/2022

Dereck Carvalho fala da transformação que a poesia pode promover na vida das pessoas e afirma: falta apoio a artistas periféricos. Foto: divulgaçào/Chamakebunito

Poesias escritas nos muros dos bairros periféricos de Belo Horizonte, em Minas Gerais, ajudam a população a lidar com os problemas de forma mais leve. O artista Dereck Carvalho, de 32 anos, morador da Vila Embaúbas, na zona oeste da capital mineira, acredita nesse poder transformador e, em seu ofício, encurta as distâncias entre a arte e o dia a dia das pessoas. Seus versos expressam pertencimento, vivências e resistência de jovens negros. E agora, além das paredes, ocupam também as páginas de um livro: Eu Escolhi Trajetos Para Evitar Tragédias, em edição independente.

A independência, aliás, é uma marca na trajetória de Dereck: a reprovação em um edital da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LMIC), da Prefeitura de Belo Horizonte, foi  uma espécie de motor para seguir em frente. “Em 2015, tentei aprovar um projeto que levaria espetáculos de circo para as comunidades e fui reprovado”, conta. “Aí eu comecei a escrever poesia e transformei a frustração em motivação. Continuei a escrever e não me vejo de outra forma.”

Nas visão do artista, becos e vielas coloridas com grafite suavizam o cotidiano de regiões marcadas pela ausência de políticas públicas para melhorar a vida das pessoas. “Comecei a pintar e a ressignificar ambientes com a intenção de suavizar o cotidiano periférico, porque a única coisa que chega do Estado é a repressão. Quando se tem um beco pintado com poesias , entramos em contato com a arte que merecemos diariamente”, relata.

Saúde emocional e mental — Em contato com a arte, o público é estimulado a consumir e a produzir cultura. Dereck tem consciência de que seu trabalho incentiva o hábito de leitura, por exemplo, e que mostra para as pessoas que elas podem se expressar e ser ouvidas sobre os problemas sociais. Mas, além disso, ele percebe benefícios  para a saúde emocional e mental da população.

“Já me disseram ‘eu desisti de me suicidar porque eu li uma poesia sua’. As palavras escritas pelos muros das periferias conseguem alcançar esse lugar dentro do coração das pessoas e mostrá-las um ponto ofuscado pelo momento que ela está vivendo. Eu fui salvo pela arte e faço esse trabalho de resgatar os outros também”, reflete.

Dereck Carvalho: espalhando poesia pela cidade. Foto: divulgação
Dereck Carvalho: espalhando poesia pela cidade. Foto: divulgação

Concorrência desleal — Para financiar seus projetos artísticos, Dereck Carvalho depende da venda de exemplares de seu livro e da participação em eventos e palestras. As redes sociais, no entanto, têm sido fundamentais para que seu trabalho alcance mais pessoas. “Não consegui nenhum apoio financeiro fixo. Eu vivo da arte na raça, dependendo da venda de livros e de palestras. Mas todos os dias eu recebo muito apoio das pessoas nas redes sociais, que fazem meu trabalho chegar mais longe”, afirma.

A viabilidade financeira dos artistas das periferias seria menos complicada se o acesso a políticas de incentivo à cultura não fosse burocrático. Todo ano a Prefeitura de Belo Horizonte abre inscrições para a lei de fomento à cultura, a mesma em que o projeto de Dereck sobre arte circense foi negado sete anos atrás. Segundo o poeta, porém, uma das barreiras é a linguagem acadêmica, que diminui as chances dos artistas das periferias na disputa por verba.

Dereck Carvalho: 'TV Grrafitti'. Foto: divulgação
Dereck Carvalho: ‘TV Grrafitti’. Foto: divulgação

“Falta incentivo para nós artistas negros e periféricos e as iniciativas que existem são burocráticas e até surreais. Às vezes a pessoa tem algum dom artístico, mas não possui o conhecimento técnico para se inscrever, o que faz a concorrência entre os artistas ser desleal”, avalia. Nesse cenário, mais uma vez os artistas precisam contar com o apoio de quem já conhece seus trabalhos no boca a boca ou pela internet. “Nós precisamos que as pessoas comprem os produtos para ler e para dar de presente para os outros também. Quem indica e compartilha os trabalhos nas redes também os mantém vivos.”

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