Livro infantil da chef Aline Chermoula fala de comida africana
‘Cozinheirinhos da Diáspora’ foi publicado de forma independente e está disponível no formato digital
Chef de cozinha, pesquisadora da culinária da diáspora africana e professora de gastronomia, Aline Chermoula chegou à cidade de São Paulo com 1 ano de vida — veio de Feira de Santana, na Bahia, junto de sua família. Hoje, aos 37, é uma empreendedora de sucesso em Itaquera, zona leste de São Paulo. Aline também é escritora, e está lançando um livro digital, ilustrado e interativo, para crianças.
Cozinheirinhos da Diáspora: Saberes e Sabores de nossa Culinária Ancestral e Afetiva foi editado de forma independente. O e-book custa R$ 25 e, para comprar, quem quiser pode entrar em contato nas redes sociais da autora
Ao falar do desafio que é incorporar a boa alimentação na vida das crianças, Aline, mãe de Malu e Pedro, costuma dizer que “o paladar se forma em um ambiente competitivo, onde estímulos externos como propagandas de alimentos industrializados são bem comuns”. Seu livro tem receitas fáceis de fazer com ingredientes africanos e conta histórias desses alimentos, além de destacar a ancestralidade e o afeto que envolvem todas as etapas do preparo. As ilustrações são do artista Rangel Egídio.
O trabalho da chef Aline Chermoula inspira iniciativas de diversos estudantes de gastronomia e coletivos de comidas periféricas, que produzem sites, cartilhas e guias gastronômicos com foco na periferia e na ancestralidade negra. “Existem muitas opções de lugares com comidas acessíveis e de qualidade, com referências, e uma história que merece ser contada. A geração mais nova não admite mais a falta de valorização da cultura do povo preto e periférico”, comenta Aline.
A geração mais nova não admite mais a falta de valorização da cultura do povo preto e periférico
Alimento é cultura
“O meu olhar para o alimento é pelo viés cultural. Assim como a língua e as artes, a comida também é um elemento que representa a cultura de um povo. Os africanos que vieram para o Brasil, mesmo no contexto da escravidão, e depois, mais recentemente, para conhecer e estudar, trouxeram uma contribuição muito grande para a construção do povo brasileiro”, diz a chef. Ela também é proprietária do ateliê Chermoula Cultura Culinária, onde produz refeições para eventos residenciais, sociais e corporativos.
Há mais de 15 anos, Aline pesquisa os impactos da diáspora africana pelas Américas tanto em relação aos alimentos como também no preparo e no servir. “É um modo de compartilhamento da comida e de comensalidade que nos representa bastante, faz parte do nosso cotidiano, principalmente nas periferias, e que tem uma ligação direta com a África”, diz a chef, que não encontrou nada sobre a África no conteúdo que falava sobre culinária internacional. “Se falou bem pouco sobre Marrocos, mas com o enfoque da comida do mar Mediterrâneo. Ingredientes africanos como a melancia e o quiabo eram desvalorizados. Havia um apagamento da cultura africana”, avalia.
O contato a cozinha da diáspora africana se intensificou na troca de experiências, a partir de 2018, com a pedagoga e cozinheira baiana Angélica Moreira, baiana, que já estudava os ingredientes, a cozinha ancestral e a afetividade.
O meu olhar para o alimento é pelo viés cultural. Assim como a língua e as artes, a comida também é um elemento que representa a cultura de um povo
Comunidade
Aline morou muito tempo em Itaquera e Cidade Tiradentes, onde estabeleceu parcerias com outras iniciativas que promovem alimentação saudável na região. Um exemplo é uma horta orgânica em Guaianases, bairro vizinho. Ainda em 2018 e durante oito meses, tocou o projeto gastronômico “Aproveitamento Integral dos Alimentos” no Centro Cultural de Cidades Tiradentes. “Na periferia as pessoas são unidas e parece que todos são uma família só. Elas vivem em harmonia e se ajudam”, comenta.
Os pratos desenvolvidos pela chef trazem ingredientes e referências de culinárias de diversos países onde houve forte influência de pessoas negras. “Desse forma, evidencio a ancestralidade e destaco a potência dessa diáspora. A minha pesquisa me permitiu olhar a história com mais profundidade e perceber a continuidade dessa história ainda hoje.”
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