O Brasil está longe das metas de paz e justiça da ONU
E o cenário pode piorar, já que o número de armas nas mãos de civis dobrou nos últimos três anos
Justiça, segurança pública e uma sociedade mais pacífica são Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e desejo de moradores das periferias brasileiras. Mas está difícil chegar lá
Crianças e adolescentes vivem sob o risco de ser baleados, mortos, desaparecer. Chefes de Estado incentivam o armamento da população e a polícia desrespeita a liminar ADPF 635, uma decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe operações nas favelas enquanto durar a pandemia. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, laboratório de dados da violência armada no Brasil, dos tiroteios/disparos mapeados em ações/operações policiais durante a quarentena da região metropolitana do Rio de Janeiro, 1.440 (80,4%) se deram depois de a ADPF 635 entrar em vigor, em junho de 2020. Foram 693 mortos e 757 feridos.
Especialista em segurança pública e idealizadora do Fogo Cruzado, Cecília Olliveira afirma que o descumprimento à decisão do STF demonstra ineficiência das operações, alta letalidade policial e desrespeito à democracia.
Longe da meta
Ao analisar as metas globais, Cecília afirma que o Brasil está longe de alcançá-las e que o cenário pode piorar, porque o número de armas nas mãos de civis dobrou nos últimos três anos.
“Isso tem a ver com um indicador que deveria ser reduzido até 2030: o fluxo de armas. Estamos na contramão. O número de homicídios no Brasil voltou a crescer em 2020. Agora, a câmara de vereadores do Rio de Janeiro está discutindo se deve ou não armar a Guarda Municipal. Até estudiosos que defendem o armamento das guardas veem com cautela a questão no Rio de Janeiro, por causa da ação descontrolada das milícias”, diz Cecília.
Enfrentamento à violência
Além de seguir estritos critérios raciais, a letalidade policial é maior nas periferias da baixada fluminense e no leste metropolitano do Rio de Janeiro. Em um levantamento do Fórum Grita Baixada, o município de Belford Roxo apresenta quase três vezes mais mortes por 100 mil habitantes que a capital.
Desde 2012, a organização apoia o protagonismo de mães e familiares de vítimas de violência de estado e propõe políticas públicas de combate a desigualdades, letalidade e violência. Para Adriano de Araújo, coordenador do Fórum Grita Baixada, entre as soluções conjuntas que podem mudar o cenário brasileiro estão orientação da máquina pública para a redução de homicídios; prevenção da violência; definição de metas objetivas e factuais; atenção à juventude pobre, negra e das periferias; participação social em diversas etapas; além de ações de inteligência no rastreio do fluxo financeiro do crime organizado.
“Podemos afirmar sem medo de errar, que na baixada fluminense a polícia mata essencialmente pessoas negras”, diz Adriano. “O lugar do negro em uma sociedade escravocrata não permite imaginar outro lugar que não esse que observamos: do não humano, do descartável e da mão de obra barata”.
Quer uma navegação personalizada?
Cadastre-se aqui
0 Comentários