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Projeto musical da periferia de São Paulo exalta, em álbum e livro, Anastácia, a ‘rainha do forró’

Por: Karol Coelho . 14/12/2021

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Projeto musical da periferia de São Paulo exalta, em álbum e livro, Anastácia, a ‘rainha do forró’

Bando de Régia ilumina, em álbum e livro, a forrozeira pernambucana Lucinete Ferreira; ela é autora de ‘Eu Só Quero um Xodó’ e mais de 600 outras canções.

4 minutos, 43 segundos de leitura

14/12/2021

Por: Karol Coelho

Anastácia e o Bando de Régia: a rainha do forró tem 81 anos de vida e 66 de carreira. Foto: divulgação

“Você teria um minuto para ouvir a palavra da Anastácia?” Essa frase poderia ser dita por Kelly Marques, 42, vocalista do grupo de forró Bando de Régia, nos bailes em que se apresentam. Foi por sempre ressaltar a relevância da cantora, compositora e forrozeira pernambucana Lucinete Ferreira, a Anastácia, que a banda aprofundou conhecimentos e desenvolveu um projeto que resultou em álbum e livro sobre a ‘rainha do forró’.

Em 13 de dezembro, o Brasil celebra o Dia Nacional do Forró. O ritmo une estilos musicais de origem nordestina, do qual fazem parte o baião, o xaxado, o chamego, o coco e o xote. A data foi escolhida por ser o aniversário de Luiz Gonzaga, o ‘rei do baião’

Além de Kelly, moradora da Vila Formosa, zona leste de São Paulo, formam o Bando de Régia os irmãos Lucas Coimbra (sanfona), 29, e Vitor Coimbra (zabumba), 31, que cresceram no Jaraguá, noroeste, e Lello Araújo (triângulo), 32, de Varginha, na zona sul.

Kelly sempre esteve empenhada em ressaltar a importância de Anastácia, conhecida pela parceria com o forrozeiro Dominguinhos (1941-2013), com quem também foi casada. “Os meninos ficam zoando com minha cara falando que é a pregação”, conta. Durante um show em São Paulo, em 2019, não foi diferente falou ao público sobre a compositora de Eu Só Quero um Xodó e mais de 600 outras canções.

Na última quinta-feira, 9 de dezembro, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) declarou o forró como patrimônio cultural e imaterial do Brasil

A produtora e neta de Anastácia, Carolina Albuquerque, estava na plateia. Ao final da noite, o grupo foi abordado por ela, que agradeceu e passou seu contato. “Pouco tempo depois, um músico que estava tocando com a gente nesse dia falou ‘Você viu que foi repostada pela Anastácia?’”, conta Kelly. A rainha do forró tinha marcado o Bando de Régia em uma rede social. “Foi assim que começou essa amizade”, diz.

A aproximação resultou em um disco disponível nas plataformas de streaming — com releituras de 11 composições da cantora e uma inédita que tem sua participação — e o Forróbook, um livro com minibiografia, relatos, cifras e partituras da Rainha do Forró. Será lançado no dia 17 de dezemnbro, com primeira tiragem limitada para ser distribuída gratuitamente em polos públicos de ensino de música.

Pandemia

A cena cultural, que inclui o Bando de Régia, sofreu muito com a paralisação provocada pela crise de saúde e economia dos últimos (quase) dois anos. “O forró está muito ligado a essa ideia da dança, do baile, da aglomeração do povo dançando junto, suando… Depois de um período de desespero, a gente começou a pensar o que fazer, como a gente poderia se manter fazendo forró sem ter o baile”, lembra Kelly.

A banda resolveu escrever um projeto no VAI, programa de incentivo à cultura da prefeitura de São Paulo criado para apoiar especialmente iniciativas de artistas de baixa renda e das periferias da cidade. Homenagear Anastácia — que em 2020 completou 65 anos de carreira — os aproximaria ainda mais daquela que o grupo considera uma das maiores compositoras do País.

“A gente pensa no Dominguinhos, na grandiosidade dele, e o Dominguinhos só existe por causa da Anastácia”, afirma Kelly. “De certa forma, a voz dela foi apagada dentro da história da música brasileira. Dentro da história do forró pouco se fala sobre ela e quando se fala é sempre a deixando em segundo plano e isso precisa ser reparado historicamente”, completa.

“As pessoas estão me descobrindo”

Anastácia conta que foi a primeira pessoa a colocar letra nas músicas de Dominguinhos e que todos achavam que as canções eram dele, que ele era um poeta. “Uma hora as coisas mudam e eu estou vivendo agora um momento que, apesar dos meus 81 anos, as pessoas estão me descobrindo.”

Ela lembra que São Paulo tem uma população grande de nordestinos e de filhos de pessoas nordestinas. Cerca de 5 milhões de migrantes chegaram ao estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, desde que a grande migração começou na década de 1970. “São pessoas que foram a São Paulo para construir uma vida. Quando fui, realmente não pensei que iria dar continuidade a um trabalho que eu fazia aqui na minha terra, como cantora, desde meus 12 anos”, lembra.

Hoje, na internet, Anastácia vê os jovens cantando a sua música e se alegra. “Estou sobrevivendo com muita felicidade e a cada dia eu fico mais feliz em saber [que estão me conhecendo]”, afirma. Com o Bando de Régia, ela acredita que mais informação sobre sua carreira e a música nordestina vai chegar “na meninada”.

“O Bando de Régia pensou, fez, criou o processo e me incluiu. Fiquei sabendo quando já tinha ganhado [o edital]. Achei interessante porque eles procuraram estudar o meu material, escolheram até músicas que eu gravei há 30, 40 anos. Eles realmente pesquisaram o meu trabalho pra eu poder entrar nesse projeto, e que bom que foi aceito”, diz Anastácia. Ela fala que não sabe quanto tempo vai “ficar aqui”, mas que os novos artistas têm a mesma paixão que ela pelo forró. “O foco não sou eu, mas a música nordestina que, com certeza, irá permanecer se todas as pessoas que a descobrem e passam a amá-la, derem continuidade a cultura.”

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